COACH LITERÁRIO

O ORIENTADOR LITERÁRIO é um profissional que acompanha, ensina e participa de todo processo de criação de um livro. Um profissional técnico, especializado em criação, um professor de escrita e um parceiro, ao mesmo tempo. Experimente, é terapêutico e libertador. Perpetue as histórias que só você tem para contar.
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SIMONE BILES

Qualquer atleta que chega a disputar uma olimpíada (exceções sempre existem) tem por trás e sobre si o trabalho e a expectativa de um sem numero de profissionais e familiares. Ela é a ponta de um projeto sobre a qual pairam expectativas superlativas.

No começo, o atleta já se torna a oportunidade que a família vê para ascender financeira e socialmente. Passando, assim, a ser focalizada como a esperança de todo seu círculo familiar.

Desde pequenos, as crianças que demonstram aptidões extraordinárias passam por esse processo de deixar de serem apenas elas próprias para passar a “representar” seu grupo. Em atletas do nível de Simone Biles, que despontam ainda muito precocemente, o peso de cada conquista vai se acumulando, não como alegrias, mas como obrigação de corresponder ao que esperam dela. Cada vez mais. E pelo caminho essa pressão só vai aumentando. Além da família, entram nessa história empresas patrocinadoras, comitês esportivos, agremiações, confederações e mais um enorme contingente de entidades e pessoas que irão explorar aquele talento de todas as formas possíveis e imagináveis.

Até chegar ao nível de um superatleta, não é difícil imaginar o tamanho das expectativas e dos interesses depositados sobre esses ombros, ainda adolescentes, durante anos e anos. Agora, multiplique essa pressão, já absurda, por 10 e teremos o peso sofrido pela maior estrela da Olimpíada de Tókio.

A meu ver, o que Simone Biles fez foi de uma humanidade comovente.

Num evento onde todos desejam ser super, ela quebrou as regras e desejou ser apenas humana.    

Com todas as contradições e incertezas que faz cada um de nós ser quem é.

Num tempo onde lutamos por direitos iguais para todos, independente de raça, gênero, religião e todos os tipos de discriminação, a atitude de Simone Biles resume todos esses movimentos num só: o direito de ser humano.

Porque o ser humano é tudo isso.

E o super-homem não existe.

 – Edmir Saint-Clair

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MEU AMIGO QUE VOAVA

Um cara engraçado, que sabia rir de si próprio como só as boas pessoas sabem.  Uma combinação incomum, que misturava coragem com um jeito atrapalhado. Se a sorte não tivesse se juntado nesse tempero, teria ido mais cedo para o outro lado.

Uma pessoa aberta a novos pensamentos. Adorava uma novidade. Um desbravador. Sempre que ouvia falar em algum lugar novo, fora do “circuito descolado”, punha-se a caminho para conhecer. De moto, de Kombi ou de Brucutu, um carro equivalente a um Off Road, adaptado por ele. 

Morador do Leblon, depois Ipanema, curiosamente era a montanha e não a praia, que o seduzia. Não era morar na montanha, a onda dele era saltar lá de cima. E Lá em cima ele encontrou sua praia. E decidiu passar o resto da vida voando. E passou.

Quando descobriu que podia ter asas, demitiu-se do cargo de engenheiro civil no funcionalismo público, que lhe remunerava muito bem e lhe oferecia estabilidade, para fazer vôos duplos de para-pente, em São Conrado.

Foi feliz. Viajou e se aventurou, como gostava, para voar em lugares inusitados. Coisas do Bode. Bode não, Carlinhos. Que Carlinhos? O Bode. 

Teve a vida cheia de altos vôos e soube fazer suas escolhas valerem à pena. Conservou, até o fim, a mesma curiosidade adolescente, a mesma alegria ingênua e espontânea. Era capaz de rir e de fazer piadas nos momentos mais difíceis que enfrentou.

Um aventureiro corajoso por natureza. Amigo por vocação. Sempre teve muitos porque sabia ser um amigo dos grandes. Daqueles que a gente pode contar e ligar no meio da madrugada, fosse para chorar ou para comemorar. No imaginário popular, não devemos contar nossas expectativas antes que se realizem, para não despertar olho gordo. Mas, para mim, ele dava sorte. Todas as vezes que estava esperando o desfecho de alguma situação, uma resposta importante, contava para ele. Sempre me deu sorte.

As muitas décadas que convivemos, me deram a honra conhecer um ser humano autêntico e admirável. Um dos momentos mais significativos de nossa amizade, é a satisfação de ter podido expressar, com todas as letras, pessoalmente, o meu amor e a minha admiração para com esse irmão que cativou minha alma com sua essência cheia de bondade.

A ausência já não machuca tanto depois de alguns anos. Mas, nunca vou deixar de sentir saudades. Ao mesmo tempo, tenho muita alegria de ter convivido com esse amigo que me ensinou que era possível voar.

- Edmir Saint-Clair

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REFLETIR

Os benefícios da meditação estão provados e comprovados por vários ramos de pesquisas científicas reconhecidamente qualificadas e competentes. Benefícios inquestionáveis para o corpo e para a mente.

São um sem número de práticas que utilizam técnicas igualmente bastante diversas, que tem na meditação sua espinha dorsal e a partir de sua prática discorrem suas diferentes correntes de pensamentos filosóficos.

Sem questionamentos, não é esse o sentido dessa crônica, desse pensar publicamente.

Ocorre, que nesse contexto me dei conta de que nunca mais ouvi ou li ninguém discorrer a respeito de uma prática que tem um conceito simples, pessoal e intransferível; a reflexão.

Refletir, olhar-se, espelhar-se, examinar-se para se entender ou não. Aí está o exercício mais vital para não perdermos o contato com nossa essência individual e única.

A reflexão é a concentração da mente sobre si própria, suas representações, ideias, sentimentos e atitudes. É prestar contas a si mesmo sobre seus pensamentos, motivações e ações.

Os católicos romanos utilizam uma expressão bastante feliz para essa prática: exame de consciência.

O momento em que somos tanto o psicólogo quanto o paciente. Ou seja, a responsabilidade é grande.

A reflexão é o diálogo interno, é conversar consigo mesmo, reavaliando nossas regras internas, limites, desejos e valores. É aferir se nossas ações correspondem ao conjunto de princípios no qual acreditamos e apoiamos nossas crenças pessoais.  É o auge do exercício do livre arbítrio. 

Porque se fala tão pouco, para não dizer que não se fala, sobre essa prática tão necessária? Porque não existem tutoriais no YouTube ensinando a refletir? Ensinando a fazer um exame de consciência.

A reflexão transformada em um ritual tal como a meditação na Yoga, pode ser um exercício extremamente transformador. Um momento de prestar contas a si mesmo sobre seus pensamentos e atitudes. É não nos distanciarmos demais de nossa natureza. Perder-se de si, de seus valores e princípios, geralmente, tem um preço psíquico bastante alto, não raro, impeditivo para quem busca o equilíbrio psicológico.

Meditar é tirar todos os pensamentos da mente. Refletir é prestar contas a si mesmo. São práticas complementares, pode-se praticar uma após a outra. Primeiro a conversa consigo e depois o descanso da mente. Perfeito.

Refletir é refazer mentalmente os passos que nos trouxeram até aqui, o quanto isso nos custou e se é aqui mesmo que desejamos estar. É focar em si, avaliar as próprias  atitudes, com o objetivo de perceber onde e como podemos ser melhores para nós mesmos, para os outros e para o mundo. 

- Edmir Saint-Clair

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O MAIS TRÁGICO DE TODA ESSA TRAGÉDIA, É A BANDIDAGEM EXPLÍCITA E INTOCÁVEL CAPILARIZADA POR TODAS AS INSTÂNCIAS.

 


    Estão mais do que explícitas as carências emergenciais do país: saúde e caráter em quem exerce qualquer tipo de poder público. E, se não fossem as atividades econômicas informais, vale dizer, a inventividade do brasileiro, estaríamos tendo uma mortandade, paralela a da Covid-19, ainda mais trágica: a morte pela fome.

    Não existe brasileiro que, em sã consciência, não perceba a desumanidade, o descaso e a desonestidade disseminadas por todas as instâncias governamentais. Nossa maior crise é a falta de caráter. E, não é de hoje.

    A pandemia apenas escancarou essa que é a maior desgraça nacional.
- Edmir Saint-Clair

DESABAFO DE UM BRASILEIRO

 

O Brasil é, hoje, um país dividido. Não só entre correligionários desses arremedos de políticos. Mas, entre os que fazem parte da estrutura do poder e TODO o resto do povo.

Resto? Como assim, se somos a maioria? Como assim, se somos os patrões de quem deveria governar em nosso nome? Mas, basta olharmos para nós mesmos que não teremos dúvidas, somos o resto...

Enquanto o povo brasileiro se bate por políticos desonestos e corruptos (de TODOS os partidos), os mesmos celebram alianças para garantir que tudo continue como está. Em TODAS as esferas e instâncias, executivo, legislativo e judiciário.

Estamos regredindo de forma impressionante! Em tudo. Nos costumes, na cultura, nas crenças primitivas que se disseminam facilmente por uma população sem esperanças, criando um foco a mais de exploração da miséria brasileira.

Somos ignorantes, limitadíssimos intelectualmente. Afinal, como poderia ser diferente sem escolas e sem professores preparados, prestigiados e bem remunerados?

Discutimos e nos digladiamos por temas há muito ultrapassados na história do mundo civilizado. Estamos no século passado e caminhando a passos largos para o século XIX.

Nossos melhores cientistas, pesquisadores, pensadores e expoentes, em todos os campos do conhecimento humano, foram para fora do país. Em busca de trabalho digno. Aqui, não têm incentivo, não têm verbas, não têm futuro algum.

E, sem as cabeças pensantes que nos impulsionariam para o futuro, nos tornamos ainda mais ignorantes e limitados. Condenados a piorar cada vez mais.

Dói, dói muito ver meu país assim. E, acredito que, como em mim, essa dor esteja presente no dia a dia de milhões de brasileiros. Uma dor na alma.

Mas, por mais burros, limitados e covardes que sejamos não merecemos isso. Deveríamos, pelo menos, merecer a complacência com que se deve tratar os idiotas, ignorantes e fracos.

Mas, a classe política não tem mais nenhum escrúpulo e nem vergonha na cara. Solidariedade, humanidade, responsabilidade e verdade não existem no mundo sujo deles. Praticam a mentira e o escárnio a luz do dia com transmissão ao vivo, há muito perderam qualquer vestígio de decência. A impunidade com requintes de crueldade, é repugnante. Dá nojo ver uma sessão do congresso ou do STF.

Escarram na nossa cara e em seguida nos obrigam a engolir. Nojentos. Diariamente. Em TODAS as instâncias de poder. Executivo, legislativo e judiciário. Em TODAS as cidades, municípios, estados e no governo federal.

É triste, muito triste.

- Edmir Saint-Clair

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Nunca entendi direito o motivo da entrada do Padre Frederico na vida da minha família naquele início do ano de 1971. Meus pais não dividiam com os filhos quaisquer oscilações naturais da vida comum e aparentemente tranquila que levávamos. Mas, é claro que existiam e, naquele momento, eles resolveram recorrer a uma ajuda extra de um padre católico. A religião católica em si não era novidade lá em casa, ao contrário, fomos criados como toda nossa geração com aula de catecismo e primeira comunhão na Igreja Santa Mônica do Leblon. Mas, entre os irmãos ninguém tinha muito interesse pelo assunto. Cumpríamos o que nossos pais pediam, sem questionamentos, como todos os nossos amigos.

De um dia para o outro, um padre alemão, chamado Frederico, começou a ir todas as quintas-feiras à noite para cumprir o mesmo ritual: primeiro rezava uma pequena missa num altar improvisado na cômoda do quarto dos meus pais, seguido de um lauto jantar com pratos saborosos e diversificados. O padre sempre caía matando na refeição. Comia que nem um condenado e haja comida para sustentar aquele corpanzil. Ele era alto, cerca de 1,90m, louro de olhos azuis, um alemão bem alemão, inclusive nascido na Alemanha, como todo alemão tem que ser. Sua aparência, o sotaque forte e o jeito circunspecto faziam com que sua figura ganhasse ares extraordinários. Eu e meus irmãos quase não falávamos, mas, sentíamos a cerimônia daqueles momentos. Acima de tudo, era estranho.

Não durou muito aquele período, talvez pouco mais de meio ano, mas toda quinta-feira tinha missa e jantar do padre Frederico. Só lá em casa tinha isso e a gente não comentava com ninguém. Lembro-me de uma conversa, entre os adultos, de que era proibido rezar missa na casa de fiéis sem autorização prévia, o que ativou ainda mais minha curiosidade, afinal aquilo era algo proibido.

Certa ocasião minha mãe resolveu agradar mais o padre Frederico e conseguiu uma receita do tal do chucrute, um prato típico alemão, do qual nunca havíamos ouvido falar. 

Quinta-feira, e lá foi ela para a cozinha preparar a receita junto com a nossa empregada, que era uma baiana que cozinhava divinamente, mas nunca tinha ouvido falar em chucrute.

Veio à noite, família reunida, padre Frederico aguçou nitidamente o olfato assim que adentrou a porta. E apressou-se em iniciar a “missa” que, naquele dia, foi bem mais curta. O padre estava com fome. Já na chegada meu pai o avisou que tinha uma surpresa gastronômica para ele no jantar. O padre, que não era de recusar prato algum, ficou ainda mais animado. Minha mãe notou a animação e segredou, igualmente animada, para nós:

- Ele sentiu o cheiro do chucrute!

Minha mãe deixou a finalização do chucrute aos cuidados da Zoraide e fomos para o quarto assistir a missa.

Quando voltamos para a sala, a mesa estava posta e diversos pratos, carne, ave e peixe o esperavam, além dos acompanhamentos, dentre eles o tal do chucrute

O plano da minha mãe era não falar nada e deixar que o padre tivesse a agradável surpresa de descobrir o prato típico de sua terra natal no meio dos outros. Combinou conosco que ninguém deveria falar nada. Todos cumprimos à risca o trato.

O jantar transcorria normalmente, o padre foi se servindo, um a um, de todos os pratos com igual apetite, mas, nada de pegar o chucrute. De repente, minha mãe olhou para a travessa de chucrute e estranhou a cor da combinação que deveria ser só de repolhos e molho branco. Estava com a cor de azeite de dendê pálido dada a mistura com o molho branco. Sincronizadamente com a estupefação veladissima da minha mãe, padre Frederico pega a travessa e serve-se. A príncípio apenas um pouco, para provar. Ato contínuo, faz uma expressão de aprovação e serve-se fartamente daquilo que ninguém sabia o que era. Sorrindo, pergunta com seu forte sotaque:

- Muito gostosa esse comida. Gosta muita de azeita de dênde. Como chama?

Sem perder a pose, minha mãe respondeu:

- É uma especialidade da nossa cozinheira baiana.

Ele nunca soube que aquilo era um legítimo chucrute baiano, que acabara de ser inventado naquele momento.

Nunca soube por que o padre veio nem porque não veio mais. Mas, sempre que ouço falar em chucrute, lembro-me do chucrute baiano do padre Frederico.

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