COACH LITERÁRIO

O ORIENTADOR LITERÁRIO é um profissional que acompanha, ensina e participa de todo processo de criação de um livro. Um profissional técnico, especializado em criação, um professor de escrita e um parceiro, ao mesmo tempo. Experimente, é terapêutico e libertador. Perpetue as histórias que só você tem para contar.
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SAIR DOS TRILHOS

 

Luciano sempre fora um pensador e, desde jovem, sentiu a necessidade de se aprofundar em próprias suas emoções. Fazia parte de um grupo de amigos de infância que crescera junto. Eram amigos há décadas e tinham um forte vínculo fraternal e um carinho desenvolvidos a partir de uma infância feliz e divertida.

Até que, naquele dia, percebeu e não conseguiu mais esconder de si mesmo o que lutara muito, e há tempos, para não constatar; ele era muito diferente dos queridos amigos.

Enquanto somos crianças e adolescentes tudo que se deseja é ser igual a nossa turma. Ser diferente, em qualquer sentido, é apavorante para um adolescente. Ninguém quer ser nem o mais alto, nem o mais baixo, nem o mais isso, nem o mais aquilo. Queremos ser absolutamente iguais. Queremos nos ver nos outros e ver os outros em nós mesmos.

Nessa fase, pode-se e deve-se ser completamente diferente dos adultos envolta, mas, total e completamente igual aos membros do mesmo grupo. Tudo tem que ser igual: as roupas, os horários, os colégios, os jeitos e trejeitos, a linguagem, o jeito de falar, de andar, as músicas que ouve, o estilo de dançar, de espirrar, de namorar e, principalmente, de pensar. Qualquer respiro que saia do modelo é reprovado veementemente pelo próprio indivíduo. Não é permitido sair daquele roteiro nem sozinho em casa e trancado no banheiro.

Até ali, Luciano fora capaz de se comportar absolutamente dentro de todos os padrões, com pequenas diferenças que conseguia esconder com uma aptidão já diferenciada. Começou a tocar violão e compor músicas muito cedo com a única intenção de impressionar as meninas, se inscreveu e ganhou festivais de colégios pelos mesmos motivos. Se sobressaía, involuntária e distraidamente, nas manifestações artísticas das quais se aproximava. Ele sempre se sentia atraído pelas coisas criativas e diferentes.

Mas, o que mais prezava era seu grupo de amigos que, por sua vez, não tinham nenhum outro interesse a não ser jogar bola.

Na passagem para a próxima fase da vida, a turma de infância se afastou pelas circunstâncias naturais da vida adulta e as obrigações e tarefas que ela impõe a todos. A travessia da adolescência para a adultice significa deixar para trás, e para sempre, muita coisa. Para a grande maioria significa um “entrar nos trilhos” literalmente. Com toda a rigorosidade e ausência de espaço para manobras e movimentos não previstos, que uma linha férrea impõe. É a hora em que os questionamentos não são mais tolerados e a grande maioria assume, como seu, o papel que a sociedade lhe aponta e impõe. Exatamente “como nossos pais”.

E desistem de suas individualidades, de suas peculiaridades e de suas diferenças, como se não houvesse outra saída. Vão ser outras entidades, vão viver outras vidas, a maioria muito longe de si mesmo. Vão casar, trabalhar, reclamar, se aposentar, vão se arrepender e vão morrer. Já está tudo previsto. Nada será novidade. Surpresas? Provavelmente sim, mas nada surpreendente.

No final, sequer se lembrarão do que sonharam, pensaram e desejaram...Há muito não se pertencem mais.

Mas, alguns não seguem pela estrada de ferro e vão abrir outras trilhas e seus próprios caminhos, sem trilhos prontos. Tem que ter coragem para sair dos trilhos, mas é necessário para não se descarrilhar de si próprio.

Luciano é um desses.

E, com tristeza, teve que se despedir dos amigos de infância naquele ponto da estrada, teve que saltar do trem daquela história, que não era mais a dele.

Edmir Saint-Clair

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