COACH LITERÁRIO
O MEDO DA MUDANÇA
"...e a incerteza, a única certeza". Zigmund Bauman - (2.500 anos depois).
O medo está nos rondando o
tempo todo, nos fazendo engolir sapos maiores que a boca. Sem que tenhamos
consciência de quais são seus gatilhos, aparece, de repente, tentando
encaixar as nossas atitudes e, pior, as dos outros também, em modelos que nem
sabemos se servem aos nossos anseios. Tudo para termos a sensação de segurança.
O medo da mudança é uma
força poderosa e vive escondido nas pequenas coisas e, é, na
maioria das vezes, o grande responsável pelos maiores sofrimentos.
Ouvi de um amigo
psicanalista, algo que me ficou na cabeça e que os anos só reforçaram a verdade
que traduz:
− "O ser humano se
sente seguro vivendo uma rotina previsível, mesmo que isso signifique viver em
péssimas situações, aparentemente insustentáveis, se vistas por alguém de fora mas, que
ele já conhece e está acostumado. É péssimo, mas é um péssimo que ele conhece.
Essa força é tão poderosa que a simples idéia de romper com a situação e partir
para algo novo pode causar pânico a algumas pessoas. O ser humano prefere
ficar no sofrimento conhecido a arriscar qualquer outra coisa que ele não
conheça. ”
Não raras vezes, nos
deparamos com essa realidade em vários aspectos. Nas relações
familiares, profissionais, amorosas, fraternas e quantos mais pensarmos.
Admiro as pessoas que
conseguem se desvencilhar rápido de situações incômodas. É claro que tudo tem sua peculiaridade e nada pode ser posto numa mesma sacola. Mas,
existe uma linha, que pode não ser nem um pouco tênue, de onde, a partir dali, qualquer um tem certeza do dano que aquela situação está trazendo a um, ou a
quantos mais estiverem envolvidos.
Seja em que âmbito for,
chega um momento em que o desgaste é tão profundo e incomodo que a mudança é
absolutamente inevitável e urgente. E; isso sempre gera insegurança, que é outro
nome para o medo.
Nas relações amorosas isso é
ainda mais nítido. Do início da descida até se esborrachar no fim, a gente vem
se ralando todo, ladeira abaixo. E, não raras vezes, essa ladeira dura anos.
Imagine quanta ralação, quantos machucados daqueles bem ardidos poderiam ser
evitados.
É bem doloroso. O que
esquecemos é que podemos, a qualquer momento, interromper essa descida e evitar
mais machucados. Saber interrompê-la antes que os traumas se aprofundem demais
é o que decide como estaremos preparados para próximos relacionamentos. Essa decisão é das mais sérias com as
quais nos deparamos na vida: a hora de parar. Há um momento que temos que dar um
fim a uma situação de sofrimento e não olhar mais para trás. Por uma questão de
sobrevivência e sanidade.
Saber a hora de parar de
sofrer é fundamental para não perder a crença em si mesmo. É necessário
acreditar que podemos produzir nossa própria felicidade. E, antes, precisamos crer que somos capazes de nos proteger, de cuidar de nós mesmos, adequadamente. Porque, quantos mais
machucados estivermos, mais tempo esses traumas levarão para cicatrizar. Isso significa que precisaremos de mais tempo para nos recompor até estarmos prontos para uma nova relação. E a vida não
espera. O tempo passa. E, dependendo da intensidade e quantidade dos eventos traumáticos, e dos recursos disponíveis para enfrentá-los (terapias e redes de apoio), essa recomposição pode ser bastante demorada.
É importante sermos sinceros
ao nos respondermos às nossas próprias perguntas. Precisamos saber pelo menos o que
pensamos, de verdade, sobre nossos próprios assuntos e sentimentos. Precisamos estipular nossos
limites. A Tolerância é necessária, sem ela não se vive em sociedade, não se aprende e nem se
evolui. Mas, a partir de um tênue limite, passa a ser submissão, conformismo e
covardia.
Vivemos como se houvesse um modo certo e outro errado de realizarmos nossa vida. Como se houvesse um gabarito. Não há. Ninguém nasce com manual ou destino traçado. Tudo que fazemos é inédito. Algumas vezes, é imprevisível, simplesmente porque ninguém fez daquele jeito antes. Do seu jeito, original é único.
Mudar dá medo. Principalmente, quando a decisão de mudança envolve coisas básicas como mudar de
casa, ficar sozinho, trocar um emprego medíocre, mas que paga as contas,
por um projeto que, se der certo, vai te dar a vida que você deseja (isso não
está ligado a dinheiro necessariamente!). Mas, que, também, pode dar errado.
E daí? Tudo pode dar errado,
principalmente, o que está dando certo. Já que o que está dando errado, se
mudar, só pode mudar para dar certo.
Se der errado é porque não
mudou. Então, vai ter que mudar de novo. Até dar certo. E, pode ter certeza,
uma das coisas que mais ajudam a persistir até que dê certo, é o bom humor. Sem
ele a vida não tem graça. É preciso brincar de ser feliz, pelo menos...
Ou seja, veja-se por que ângulo for, é preciso estar aberto à mudança sempre. Inclusive, para que o que já está dando certo, continue dando.
O SOFRIMENTO FANTASMA
O mundo está em sofrimento.
O mundo animal e vegetal, aquático e terrestre
estão degradados, aviltados e estuprados em suas essências.
Bilhões de escravos de poucos
senhores. Senhores que também sofrem. Um sofrimento invisível e constante,
onipresente e multi-estimulado.
Nossa civilização é nossa
principal doença. A ausência de sentido faz milhares de vítimas fatais de si
mesmas por dia.
Na era das relações líquidas,
que Zygmunt Bauman descreve com tanta precisão, a nuvem de insegurança e medo que
sempre pairou sobre a humanidade, cresceu muito e abarcou todos os tipos e
níveis de relações, indiscriminadamente. O resultado é a sensação de desamparo absoluto
e geral.
Mas, é mais do que isso. Todos
sentem, mas não sabem o quê, exatamente, sentem. Apenas sentem um incomodo terrível e
inominável.
Algo concreto e, ao mesmo
tempo, muito difuso, quase metafísico.
Não sabemos porque sofremos, apenas sabemos que sofremos. É um sofrimento tão visceral e tão escondido que nunca foi nomeado.
É um sentimento sem nome.
Uma sensação, uma emoção, um
estado de angústia que é constantemente descrito, mas que nunca se chegou a um
consenso sobre seu nome e aonde se esconde em nós.
E que ninguém conta para
ninguém. E todos fingem que não sofrem, porque não sabem que o outro também
sofre.
Por ajudar a esconder tudo
isso de nós mesmos, é que fazem tanto sucesso os Facebooks, Instagrans, Tik
toks, Tinders, WhatsApp e toda sorte de mídias sociais para todas as bolhas e
taras.
É muito pesado admitir o
próprio sofrimento, é melhor fingir que ele não existe, porque, afinal, nem
sabemos porque ele existe e, apesar de seu peso insuportável, não temos forças
para arregaçar as mangas, deixar todo o resto de lado e partir em busca de uma
solução, qualquer solução, que faça a vida valer a pena.
A admissão de um sofrimento
endógeno e inexplicado, que parece ser inato na maioria dos humanos, é um dos
maiores tabus da contemporaneidade.
Me arrisco a dizer que esse sofrimento fantasma é a mãe de todos os tormentos.
Será que o âmago dessa questão
continua sendo a nossa consciência da própria morte que, por nos causar tamanho
pavor, termina por nos impedir de usufruir plenamente o esplendor da vida?
O ser humano não teme apenas a
própria morte, teme, também, a morte de tudo e de todos que ama.
É muita morte para temer.
Precisamos nos ajudar a
transformar esse labirinto em um caminho apreciável.
E só conseguiremos fazer isso,
juntos.
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