ORIENTADOR LITERÁRIO
UM MINUTO
De
silêncio, de paixão, de prazer. O minuto anterior ao gozo, o gozo, um minuto de
êxtase, de felicidade, sem saber onde termina meu corpo e começa o seu. O olhar
que muda a vida em um minuto. O minuto feito de sessenta eternidades, mas a
eternidade terá sempre o último minuto. Cabe-nos viver intensamente todas as
nossas eternidades. Tudo que torna a vida maravilhosa não dura mais que um
minuto. Mas a dor é longa, e consome quase todos os nossos minutos. O presente
é sempre o minuto seguinte, mas só percebemos depois, não sabemos ser eternos.
Mas haverá sempre o minuto seguinte.
O
minuto de paz nos teus olhos, no silêncio da noite, no sorriso que brotou
espontâneo. O minuto feito de sessenta eternidades. A eternidade antes do
primeiro beijo, antes de desvendar teu corpo, antes de poder dizer que te amo,
antes de sentir teu amor.
A
eternidade depois do último beijo, depois de me acostumar com teu corpo, depois
de descobrir que ainda te amo, depois de sentir tua ausência. A eternidade de
chorar sozinho, o vazio profundo após a última lágrima.
O
último minuto com você, e o desejo desesperado de retornar ao primeiro.
Passamos a vida inteira atrás desses minutos, dessas sessenta eternidades, que
farão o resto valer a pena. Mas, só percebemos o valor do primeiro quando
chegamos ao último, e então já haverão se passado muitas eternidades.
O
último minuto em que nos amamos foi feito de sessenta despedidas, todas sem que
soubéssemos. E a dor, com o poder que só a dor tem, multiplicou sessenta por
sessenta por sessenta eternidades, e ainda estou a espera do último.
Em
que minuto te perdi?
- Edmir Saint-Clair
UMA LADY CHAMADA ANGIE
Era especial e única.
− Angie!
Era só eu a chamar e ela largava o que estivesse fazendo ou
comendo e corria para ao meu lado o mais rápido que conseguia.
Era Linda, era muito doce e minha melhor amiga.
Era uma Cocker Spaniel Inglesa, caramelo e branca, com
orelhas longas e o olhar mais cativante e amável que já vi na vida. Uma
princesinha que trazia em si toda a alegria do mundo.
Ela foi um presente de meu grande amigo Bode.
- Bode não, Carlinhos!
- Que Carlinhos?
- O Bode.
Fui buscá-la em Jacarepaguá numa noite de verão, estrelada
e quente. A noite em que a conheci tinha uma lua cheia diferente, e ela era
ainda bem filhotinha, tinha entre dois e três meses de vida.
Os primeiros dias na nossa casa foram de deslumbramento
mútuo.
Logo não tive dúvidas: Ou, ela era uma pessoa encarnada numa cadela, ou eu era um cachorro encarnado num adolescente.
Falávamos a mesma língua. Um Amor à primeira vista daqueles
bem espontâneos e legítimos. Ela parecia
a personagem Lady, do desenho A Dama e o Vagabundo de Walt Disney, e o
vagabundo, naquele caso, era eu sem dúvida alguma. Ela tinha nobreza, ela era uma
autêntica Lady. Uma obra de arte da natureza. Uma doçura e um charme natural
que conquistava a todos que a viam.
Ela foi a Cocker spaniel inglesa mais adestrada que conheci e nunca precisou usar coleira para nada, nem para atravessar a rua ao meu lado. Aprendeu brincando e nunca dei uma palmada sequer. Era obediente como um cão adestrado por profissionais. Não me recordo de tê-la ensinado a não fazer as necessidades em casa, até mesmo porque eu não saberia como fazê-lo, mas a partir de pouco tempo, ela simplesmente não fez mais. Mesmo quando estava super apertada, esperava tempos intermináveis até que eu a levasse para passear. Havia um entendimento mútuo fascinante.
Ela não latia. Num certo momento, até achei que ela poderia ser
muda. Ela já estava com quase um ano de idade e nunca a tinha ouvido latir. Até
que a ouvi. Um latido meio rouco, engraçado, diferente e com personalidade. O
latido único e inconfundível da Angie, nunca mais ouvi nenhum outro cão que
latisse daquele jeito.
Ela ia comigo para todos os lugares. Onde não podia entrar,
ficava me esperando do lado de fora, o tempo que fosse necessário.
Só quem tem ou já teve um companheiro canino sabe a que
profundidade essa relação pode chegar.
Bobagem tentar ficar explicando cada momento de
compreensão, carinho, companheirismo e amizade incondicional que essa relação
mágica com a minha grande parceirinha Angie trouxe para mim.
Na praia, na chuva ou na fazenda estávamos sempre juntos.
Adorava um carinho, mas não era carente. Nem quando teve cria ficou brava. Os
amigos iam olhar os filhotes e ela não se alterava. Era uma cachorrinha segura
e tranquila. Acreditava na bondade humana.
Sempre tive o costume de passear tarde da noite pelo Leblon
e ela era minha companheira inseparável. Nos dias úteis, as noites do bairro
são sempre bem tranquilas e não tem quase ninguém nas ruas.
E lá íamos, eu e a Angie, sem coleira e saltitante, às 2 horas da manhã até a
Pizzaria Guanabara, onde eu comia um pedaço de pizza calabresa com um mate, que
comprara antes no BB lanches.
E, voltávamos caminhando, às vezes pela praia, em Incontáveis
noites e memoráveis conversas que só eu e ela conseguíamos trocar.
Ganhei a Angie logo depois que minha família se mudou para Brasília e eu havia ficado no Rio de janeiro. Tinha 17 anos e nunca tinha morado sozinho antes, sempre com meus pais e irmãos.
A sensação de liberdade
era maravilhosa, mas tinha momentos de solidão e de saudades da casa cheia. Ter
que cuidar de mim fazia eu me sentir inseguro e sozinho à noite.
Às vezes me sentia adulto e outras criança. Às vezes, eu cuidava da Angie, outras vezes era ela que cuidava de mim.
A Angie sabia se aninhar no meu colo quando eu estava
triste. Ela sabia quando eu precisava disso e sempre me acolhia.
Nunca existiu, na história do mundo, um olhar mais
carinhoso e acolhedor do que o olhar especial de uma Cocker spaniel inglesa
chamada Angie.
A minha Angie.
- Edmir Saint-Clair
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UMA FÁBULA DE ANO NOVO
Era uma vez um planeta triste no qual morava um homem muito alegre que adorava inventar coisas. Numa certa manhã, sem motivo algum, ele resolveu inventar que dali a 7 dias, a partir daquele dia, tudo ia mudar à meia-noite.
E conseguia convencer mais gente a cada esquina, pessoas que não só passavam a acreditar, como começavam a falar para todos que encontravam, que uma grande festa tinha que acontecer para que todos no planeta resgatassem a alegria perdida.
Porque não? Pensavam todos. Verdade ou não, mal não faria.
mútuas que se seguiram. Com o passar das horas ninguém se contentava mais em dar apenas um sorriso ou fazer apenas uma gentileza. E toda a população daquele planeta triste se embriagou de sorrisos, gentilezas, elogios, agradecimentos e de tudo que provocasse o sorriso e a felicidade alheia. Se embriagaram de bondades, cada um mais sorridente e gentil que o outro. E extrapolaram no melhor sentido possível, incluindo espontaneamente parentes, amigos, conhecidos e todos que lhes cruzassem o caminho.
sorriso que não daria e ser mais gentil do que, normalmente, seria. E as consequências foram todas.
A partir daquela noite, e em todos os dias que se seguiram, a vida naquele planeta não foi mais triste.
- Edmir Saint-Clair
ALÉM DA CIÊNCIA
Envolver, envolver-se, ser envolvido,
Misturar-se, fazer parte, somar-se, dividir-se,
Nada mais abstrato que romper os limites do ser
Impossível dirá a ciência,
Mas não a sapiência que isso pode envolver
E nos envolver por vontade nossa de envolver-se
Nos mais abstratos mistérios do ser
Para ser fantástico tem que ser abstrato,
O mundano é banal demais,
Para a importância que a vida tem,
Tem que ter sapiência para se tornar mistério,
Por isso, me envolvo, envolvo e sou envolvido,
E me diluo em tudo.
Além da ciência,
Sou tudo e nada ao mesmo tempo.
Até o que não sei.
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