ORIENTADOR LITERÁRIO
MISTÉRIO NO LEBLON
TODO MUNDO VIU
madrugada
do dia 01 de janeiro de 1969,
1 e
meia da manhã, praia do Leblon.
Naquela década, todas as
praias da zona sul eram palco de um espetáculo muito, mas muito diferente dos
fogos de Copacabana e das festas sofisticadas dos dias atuais. Naqueles anos,
as praias eram tomadas pelos terreiros de umbanda.
A partir do entardecer do dia
31 de dezembro, começavam a chegar as comitivas que vinham para preparar seus
altares, e cada grupo iniciava a montagem de seu próprio terreiro na areia.
Cercavam o pedaço escolhido
com palmas brancas fincadas na areia que dessa forma, delimitavam o domínio.
Cavavam pequenos buracos, no fundo dos quais acendiam as velas que, assim,
ficavam protegidas da brisa que sempre sopra à noite, vinda do mar. Eram
centenas e centenas de pequenas velas e suas luzes ondulantes, iluminando de
forma mágica as areias, de uma praia do Leblon onde a iluminação pública não
tinha nem 10 por cento da luminosidade atual. Aquela imagem marcou minha
memória de criança, uma mistura entre a realidade e a ficção de um filme
sobrenatural.
Os pais e mães de santo, junto com seus cambonos e devotos, enfeitavam e preparavam seus terreiros de forma extremamente caprichosa, e imbuídos de uma devoção profunda e explícita.
O início da arrumação coincidia com o final das tradicionais peladas de futebol de areia, disputadas no Leblon, entre homens vestidos de mulher, sempre acompanhados por uma bateria de samba do próprio pessoal, geralmente, organizada e regida pelo genial percursionista Oscar Bolão, bateria essa, que depois deu origem a Banda do Leblon, que depois passou o bastão para o Bloco Empurra que Pega dos dias atuais.
Esse intermezzo, do início do
pôr do sol até umas 8 horas da noite, era muito curioso.
O que acontecia, simultaneamente,
durante o lusco fusco deste dia especial, era absurdo e surreal.
Os devotos já estavam finalizando
os trabalhos de preparação dos altares, e iniciando as cerimônias que
atravessariam as madrugadas e iriam até os primeiros raios de sol do primeiro
dia do ano. Enquanto, ao mesmo tempo,
acontecia a maior bagunça que misturava uma caricatura de futebol de areia,
másculo-feminino, com muito consumo de álcool e de tudo mais que pode haver de
profano; estavam todos ali, lado a lado, convivendo harmoniosamente. O divino e
o profano de mãos dadas, comemorando, felizes, cada um do seu jeito.
Naquela época, o réveillon era
comemorado como se fosse uma noite de carnaval normal. E não acontecia nas ruas
ou nas praias, os bailes aconteciam nos clubes e associações.
Era um carnaval fora de época,
com festas concorridíssimas nos clubes, hotéis e danceterias espalhadas por
todos os bairros do Rio.
Era muito diferente do que é
hoje, no século 21.
As praias eram tranquilas e, era para onde as famílias iam depois de romper à meia-noite em casa. Os Adolescentes e jovens corriam para as festas, e os pais com filhos pequenos iam para a praia, em frente de casa, no Leblon, onde ficávamos passeando e observando os rituais de umbanda que aconteciam nas areias.
Era um terreiro a cada 3 ou 4 metros, todos cheios de gente esperando para tomar passe das pretas e pretos velhos incorporados. Era o sincretismo religioso acontecendo ali na frente de todos. A classe média, em sua maioria católica, buscando a benção de outra religião, ali representada pela classe mais humilde e oprimida da cidade; pobres e pretos. Era a única ocasião que me lembro de ver uma patroa branca abaixando a cabeça humildemente para receber o passe da empregada que morava na favela.
Eu era bem pequeno e estava com meus pais e irmãos passeando e observando toda aquela movimentação tão extraordinária e que se apresentava ainda mais fantástica na imaginação de uma criança.
Fiquei muito impressionado por pessoas que, de repente, do nada, começavam a agir estranhamente, e minha mãe me explicou que aquilo é quando um espírito entra na pessoa em transe. Me deu medo, mas a curiosidade era muito maior. O cheiro de charuto e de defumadores só não era mais forte por causa da brisa marinha. Mas, marcou em minha memória olfativa.
Meus pais compraram algumas
palmas brancas e entraram no sincretismo reinante. Meu pai deu uma palma para
cada filho e fomos jogá-las no mar, para Iemanjá. Foi divertido e engraçado molhar os pés
pulando sete ondas e jogando as flores no mar. Quando estávamos voltando da
beira para a calçada, começou uma confusão. Um homem grande e forte começou a
gritar, visivelmente alterado e bêbado.
Ele olhava desafiadoramente
para os devotos enquanto gritava ameaçadoramente:
- Tudo isso é palhaçada!! Um monte de gente ignorante... fazendo teatrinho... fingindo "baixar o santo" ... só para enganar os trouxas...
Passou por um terreiro,
abaixou-se e pegou uma imagem do local de oferendas e saiu andando de forma
provocativa, enquanto os “donos” e fiéis do terreiro apenas o observavam sem
esboçar reação ou intenção de revide. Todos apenas olhando fixamente para aquele
homem abominável, em absoluto silêncio. E fez-se um silêncio que nunca existira
antes...As ondas do mar se calaram por alguns instantes.
Só o arrogante não percebeu
que, naquele momento, algo de muito estranho começou a acontecer...
Ele, imaginando ter dominado o ambiente, continuou bradando ainda mais impropérios quando percebeu que a imagem que roubara era exatamente a de Iemanjá.
Ele estava vestido todo de branco, talvez, não soubesse que essa tradição se deve exatamente a Iemanjá.
Todas as pessoas daquele pedaço da praia pararam para ver aquele desequilibrado, arrogante, histérico e com atitudes tão desprezíveis, desafiar a fé de todos. Desafio Iemanjá a fazer alguma coisa para provar que existe... E, foi caminhando em direção ao mar, gritando que ia afogar Iemanjá em suas próprias águas.
Todos pararam e começaram a acompanhar mais atentamente aquele espetáculo bizarro. Aos poucos, o burburinho foi esmaecendo, inclusive os atabaques dos terreiros próximos foram diminuindo o volume à medida em que o homem foi adentrando cada vez mais o mar, em direção a arrebentação, onde as ondas, muito pequenas nessa noite, estouravam sem oferecer risco algum. Um banco de areia fez com que o homem ultrapassasse a arrebentação com água ainda abaixo dos ombros.
De repente, surgiu uma onda do nada, assustadoramente grande e muito forte, e o engoliu. Apenas uma onda foi grande naquela semana inteira e foi, exatamente, aquela.
Quando, mesmo após alguns minutos, o homem não voltou à tona, o burburinho na areia começou a virar gritos cada vez mais intensos e vários homens passaram correndo e mergulharam na água.
Meus pais nos tiraram
rapidamente dali e nos levaram de volta para casa, sem que soubéssemos o
desfecho. Mas, fiquei com aquilo na cabeça por semanas.
Alguns anos depois, já
adolescente, soube que nunca acharam o corpo daquele homem arrogante e
desprezível.
Aquele episódio me marcou
profundamente.
Eu vi acontecer na minha
frente, e me arrepio toda vez que me lembro.
Todo mundo viu.
Edmir Saint-Clair
PLIMPTOM 322 - O ENIGMA DE MILÊNIOS
Na penumbra controlada de uma sala de museu,
repousa uma pequena placa de argila. À primeira vista, nada mais que um
fragmento gasto pelo tempo, coberto de símbolos cuneiformes gravados como
cicatrizes antigas. Mas basta um olhar atento para perceber: aqueles sinais não
são meros vestígios do acaso — são números. E números, quando se alinham com
precisão, contam histórias que o tempo não conseguiu apagar.
Chamam-na Plimpton 322. Veio da Babilônia,
há quase quatro milênios. Um artefato discreto, que passou despercebido em
estantes universitárias até que olhos modernos ousaram decifrá-la. O que
parecia uma lista de exercícios revelou-se uma sequência perfeita de relações
pitagóricas — mil anos antes de Pitágoras.
É como se uma mente invisível, oculta sob o pó da
Mesopotâmia, tivesse deixado um código. Um eco remoto de um conhecimento que
não evolui em linha reta, mas em pulsos: desaparece, ressurge, se transforma. O
protagonista que se debruça sobre aquelas colunas não encara apenas uma peça de
argila — encara uma fenda no tempo, uma rachadura por onde escapa a suspeita
perturbadora:
E se a nossa civilização fosse apenas o eco adormecido de um conhecimento
antigo, soterrado sob as incontáveis camadas das passagens das eras?
A PLACA
QUE NÃO DEVERIA EXISTIR
À primeira vista, nada nela chama atenção: apenas
um fragmento de argila, quebrado nos cantos, coberto por fileiras de símbolos
que parecem riscos sem sentido. Por décadas, permaneceu esquecida numa
prateleira da biblioteca da Universidade Columbia, em Nova York — parte
da coleção do bibliófilo George Arthur Plimpton, que lhe daria o nome
sem imaginar a dimensão do que havia guardado.
Até que alguém notou o impossível. Aquelas marcas
não eram rabiscos — eram números, dispostos com rigor. Seguiam uma ordem
precisa, geométrica, impossível de ser acidental. Cada sequência revelava
triângulos retângulos perfeitos, relações exatas entre lados e hipotenusas — mil
anos antes de Pitágoras formular o que chamamos de Teorema.
Mas o que mais espanta não é a semelhança, e sim a diferença.
Os babilônios não usavam a base decimal, como nós, e sim o sistema
sexagesimal (base 60) — o mesmo que sobrevive hoje na medição de ângulos e
do tempo. Em vez de frações, utilizavam combinações de números inteiros. Isso
significa que, na Plimpton 322, todas as relações pitagóricas aparecem sem
restos, sem aproximações: proporções puras, exatas, elegantes.
Enquanto a trigonometria grega se apoiava em
ângulos, a babilônica trabalhava com razões numéricas diretas — uma
matemática funcional, voltada ao uso prático.
Não há indício de experimentação ou ensaio; o que vemos ali é o produto de um conhecimento
já maduro, construído sobre tradições anteriores.
O autor daquela tábua não estava apenas calculando.
Estava registrando. E, talvez sem perceber, deixou no barro a prova de
um domínio técnico que parecia impossível para o seu tempo — uma matemática
nascida do pó, mas que ainda hoje se sustenta com a precisão de uma máquina.
A
MATEMÁTICA DA PEDRA E DO BARRO
A Plimpton 322 não é apenas um objeto
curioso. É uma ferramenta. Suas colunas registram proporções que serviam para dividir
terras, projetar templos, escavar canais e erguer estruturas com precisão
que ainda hoje surpreende engenheiros. Aqueles números não foram escritos para
contemplação teórica — eram instrumentos de trabalho, aplicados a
problemas concretos do cotidiano de uma civilização que compreendia, com
exatidão intuitiva, a linguagem da forma e da medida.
O que mais intriga é a ausência de rascunho.
Não há hesitação, não há traço de tentativa ou erro. A placa não marca o
nascimento de uma ciência, mas o auge de uma tradição matemática já amadurecida
— o registro final de um conhecimento que vinha sendo aperfeiçoado por
gerações.
É como abrir um manual de instruções sem prefácio,
onde só resta o miolo do saber. Um vestígio de um sistema completo, cujas
origens se perderam sob o pó das civilizações desaparecidas.
Essa constatação leva a uma pergunta inevitável: de
onde veio esse domínio?
Terá sido uma criação isolada da Babilônia, ou o eco distante de algo ainda
mais antigo, transmitido por vias que o tempo apagou?
Cada linha gravada na argila é uma senha para
decifrar a lógica de um mundo desaparecido. Canais de irrigação alinhados como
traços sobre a terra, muros que não se desviam um único grau, templos erguidos
segundo proporções que continuam harmoniosas milênios depois. Tudo indica o
domínio de uma geometria silenciosa, rigorosa, que não deveria existir
naquela época — a matemática dos construtores do impossível.
E se esta tábua for apenas a ponta de um corpo de
conhecimento que o planeta engoliu?
Se este fragmento sobreviveu por acaso, quantos outros se desfizeram antes
mesmo de termos nomes para descrevê-los?
O
SILÊNCIO DAS RUÍNAS
Se aquela pequena tábua chegou até nós, foi por
puro acaso. Quantas outras, talvez mais completas, não se dissolveram em
cinzas, soterradas por enchentes, incêndios ou pelos tremores que fizeram
gigantescos pedaços de terra se abrirem, engolindo cidades inteiras e tudo
o que nelas se pensou ou sonhou? O esquecimento não foi apenas humano — foi planetário.
Durante milhões de anos, asteroides colidiram
com o planeta, alterando sua composição e atmosfera; movimentos tectônicos
rasgaram a crosta da Terra, continentes se separaram, e o clima oscilou entre
infernos vulcânicos e eras glaciais. O planeta inteiro reescreveu sua
própria geografia, apagando as marcas do que veio antes. O que restou das
antigas civilizações talvez esteja hoje submerso sob camadas de rocha, gelo e
silêncio.
As enchentes do Eufrates, a erosão das margens, a
fragilidade da argila diante da água e do fogo — tudo isso foi apenas a
superfície visível de um esquecimento muito maior. Um esquecimento que não se
mede em séculos, mas em eras.
E se tanto já se perdeu apenas por obra da
natureza, imagine o que se extinguiu com o incêndio da Biblioteca de
Alexandria, quando séculos de saber acumulado foram consumidos em poucos
dias. O maior eclipse da memória humana.
O silêncio que se seguiu não é conspiratório. É geológico,
cósmico, inevitável.
O que chamamos de História é apenas o que sobreviveu às catástrofes, o que o
acaso poupou. São fragmentos dispersos, restos de um diálogo interrompido entre
o homem e o conhecimento.
Durante séculos, arqueólogos e assiriólogos
analisaram a tábua sem chegar a conclusões definitivas. Os cálculos eram
complexos demais, e o padrão permanecia obscuro.
A situação começou a mudar apenas com o avanço das Inteligências Artificiais.
Com sua capacidade de processar milhões de combinações em segundos, os
algoritmos compararam colunas, refizeram proporções e identificaram simetrias
invisíveis ao raciocínio humano.
Foi assim que se comprovou o que antes era apenas
hipótese: a Plimpton 322 não é uma lista de exercícios, mas um sistema
matemático organizado, capaz de gerar triângulos retângulos perfeitos por
meio de razões inteiras — algo que a matemática grega só alcançaria muito tempo
depois.
O PESO DO
ESQUECIMENTO
A redescoberta do conteúdo da Plimpton 322
não resolve o mistério. Apenas o amplia.
Saber que há mais de quatro mil anos já existia um sistema matemático
avançado levanta mais perguntas do que respostas. De onde veio esse
conhecimento? Como pôde surgir em uma época em que o mundo conhecido ainda
tateava entre o mito e a observação empírica?
A explicação mais plausível continua sendo a mais
simples: o desaparecimento é a regra, não a exceção.
Civilizações inteiras já foram apagadas por fatores que escapam ao controle
humano — erupções, secas, terremotos, variações climáticas, guerras, quedas
de asteroides com consequências cataclísmicas. Cada catástrofe reconfigura
a história e redefine o que chamamos de “origem”. E isso sem contarmos a
possibilidade da autodestruição — a mais sofisticada de todas as forças de
aniquilação.
A Plimpton 322, nesse contexto, é menos um
objeto arqueológico e mais um lembrete.
Ela mostra que o conhecimento humano é intermitente. Surge, floresce e
desaparece, como se o próprio planeta se encarregasse de apagar seus rastros
periodicamente. O que hoje chamamos de progresso talvez não seja uma linha
ascendente, mas uma sucessão de retomadas — lampejos ocasionais de algo que a
Terra insiste em soterrar. Como se, após cada quase extinção, os sobreviventes
tivessem que começar tudo de novo.
Mesmo com toda a capacidade de cálculo da era
digital, a verdade é que sabemos pouco sobre o que veio antes. O avanço
tecnológico não dissolveu o enigma — apenas mudou o ponto de observação.
Agora somos nós que olhamos para o passado como quem observa ruínas através de
uma lente de precisão, sem perceber que também seremos ruína.
O que a Plimpton 322 revela não é apenas a
sofisticação dos antigos, mas a vulnerabilidade do próprio saber humano.
Tudo o que produzimos — nossos arquivos, bancos de dados, linguagens e máquinas
— também depende da estabilidade da matéria, e esta, cedo ou tarde, cede.
No fim, talvez o verdadeiro ensinamento daquela
tábua de argila seja este:
não há conhecimento definitivo.
Há apenas tentativas de registrar o que o tempo, invariavelmente, tratará de
apagar.
ECOS DE
CIVILIZAÇÕES ESQUECIDAS
A Plimpton 322 é apenas um fragmento — uma
pista, não uma conclusão. Mas o que ela sugere é difícil de ignorar: a
possibilidade de que o conhecimento humano tenha atravessado ciclos,
desaparecido e renascido diversas vezes sob novas formas de sociedade.
Cada escavação arqueológica revela vestígios que
parecem não se encaixar na linha cronológica oficial: instrumentos, estruturas,
mapas ou registros cuja complexidade excede o que se esperava de seu período
histórico. Essas anomalias não provam a existência de civilizações avançadas,
mas tampouco permitem descartá-la.
A ciência trabalha com evidências, e o que falta
são justamente elas — as provas materiais que o tempo se encarregou de
destruir.
Se considerarmos os milhões de anos de atividade geológica e o número
incontável de catástrofes que remodelaram a crosta terrestre, é racional
admitir que boa parte do que existiu simplesmente não deixou rastros
acessíveis.
Tudo o que conhecemos é o que restou em uma fina camada arqueológica —
uma fração do passado que sobreviveu por acaso.
Em um planeta ativo e instável, a ideia de uma
civilização anterior à nossa não é fantasia, mas estatística.
Basta observar a rapidez com que a própria humanidade moderna produz,
expande-se e ameaça colapsar.
Se um evento global apagasse a atual infraestrutura — energia, dados, cidades
—, em poucas dezenas de milhares de anos quase nada restaria. O que, sob a
perspectiva de bilhões de anos, poderia ter acontecido milhares de vezes —
sempre a partir do zero.
É plausível, portanto, imaginar que o mesmo possa
ter ocorrido antes.
Talvez civilizações anteriores tenham alcançado patamares de conhecimento que
não chegaram até nós.
Talvez o que chamamos de “avanço tecnológico” seja apenas o mais recente
capítulo de um livro muito mais antigo, escrito e reescrito sob diferentes
formas de existência.
A Plimpton 322, nesse cenário, deixa de ser
uma curiosidade e passa a ser um vestígio — um eco remoto de uma mente
humana que já compreendia, com impressionante clareza, princípios que
acreditávamos modernos.
No fim, é possível que estejamos apenas redescobrindo
o que já foi descoberto antes.
E que a verdadeira história da civilização não seja uma linha, mas uma espiral
que gira sobre o mesmo ponto, a cada era, tentando se lembrar de quem foi.
O ENIGMA
DE ARGILA
A Plimpton 322 é, em essência, um lembrete
material de algo que o tempo tenta nos ensinar desde o início: o conhecimento
não é cumulativo, é cíclico.
Cada geração acredita avançar, mas apenas recupera fragmentos de algo que o
planeta já arquivou e apagou inúmeras vezes.
A tábua babilônica prova que a inteligência humana
já foi capaz de formular conceitos matemáticos complexos em épocas em que isso
parecia impossível.
Ela demonstra que o pensamento racional antecede o registro formal da história
e que a mente humana, em qualquer era, tende a buscar padrões, ordem e previsibilidade
— os mesmos impulsos que hoje orientam nossas tecnologias.
As Inteligências Artificiais e as novas
tecnologias, com certeza, nos trarão muitas novidades em todas as áreas.
A Plimpton 322 é apenas uma pequena peça de um quebra-cabeças que, quem
sabe, poderá nos apresentar novas descobertas sobre nossa verdadeira origem.
Edmir Saint-Clair
O ROUBO QUE NUNCA ACONTECEU
Tudo dentro do planejado. Com alguma folga. Dá tempo de tomar um coco apreciando esse maravilhoso pôr do sol.
- A meditação tem me feito bem, pensou Jair.
Ele avista seu alvo a uma distância ideal. Levanta-se e mistura-se entre os corredores que passam. Regula seus passos no ritmo dos mais lentos. Quando percebe a aproximação esperada, reduz mais um pouco seu ritmo, de modo que durante a ultrapassagem pelo alvo possa forçar alguma troca de olhares. Após a ultrapassagem bem sucedida, a distância aumenta apenas um pouco, o suficiente para não despertar suspeitas. E assim, foram e voltaram até o arpoador. Na volta, a distância ficara maior, ficar muito próximo poderia despertar suspeitas. Jair sabe onde o alvo vai parar. Havia estudado minuciosamente a rotina do jovem deputado estadual.
Nos últimos metros, acelera a marcha e quando para no quiosque está ofegante, como deveria. Não foi difícil surgir assunto entre os dois enquanto tomam água de coco. Quando o alvo se despede, já existe uma certa camaradagem tipicamente carioca entre corredores de praia.
A partir daquele momento, tudo tinha que ter acertividade e rapidez. Assim que o alvo atravessa as duas pistas da praia, na direção da Rua Cupertino Durão, Jair apressa o passo e rapidamente alcança o outro lado da rua, onde o alvo tem de passar, obrigatoriamente. Encosta-se numa das árvores, entre dois carros estacionados, e aguarda. Ninguém vindo de nenhum dos lados.
O alvo passa e é abordado de forma agressiva, não deixando margem para reação alguma.
- Sérgio, isso aqui é uma arma. Fique quieto e preste atenção. Vamos até a sua casa, andando devagar e conversando como dois velhos amigos. Se você fizer qualquer coisa errada morre. Ouviu? Responde! Ouviu?!
Jair foi bastante agressivo na aproximação, não deixando espaço para argumentações. Sérgio estava paralisado e apenas balbuciou um sim quase inaudível. Sempre foi uma pessoa muito medrosa.
Jair continua.
- Quanto mais nervoso você ficar mais perigoso fica para nós dois. Então fique calmo e tudo vai dar certo. Prometo pra você.
Com a arma dentro do agasalho, mas já devidamente apresentada a Sérgio, os dois continuam a andar na direção do elegante prédio do jovem deputado.
Sobem direto, sem parar na portaria. Morador não precisa se identificar. E, na maioria, nesses prédios, não se dá boa noite a porteiros.
Sérgio mora sozinho.
Na ampla sala, Sérgio não sabe o que estava realmente acontecendo, mas já percebe que um assalto comum não é.
Sérgio nunca fora dos mais corajosos, por isso estava acostumado a ser submisso sem questionar. Jair o manda sentar-se no sofá da sala.
À essa altura, por todo o contexto percebido, Sérgio começa a desconfiar porque Jair está ali. Ainda bastante nervoso tenta amenizar o clima.
- Fique tranqüilo, pode levar tudo o que você quiser. Não vou causar nenhum problema. Só quero não quero violências, por favor.
Sérgio tem a voz trêmula. Seu medo é visível e patético.
- Sérgio, sei que você tem 500 mil dólares em cédulas e cheques de viagem aqui no seu apartamento. Sei a que horas, onde, e a mando de quem você pegou esse dinheiro. Sei que ninguém pode saber que esse dinheiro existe e muito menos que está aqui na sua casa.
Sérgio ficou completamente branco. Pensou que seria roubado, mas aquilo era bem mais do que isso. Definitivamente, não era um simples assalto. Havia algo por trás.
- Você é policial federal? Perguntou Sérgio.
- Sorte sua que não!! Se fosse teria que matá-lo. Respondeu Jair soltando um riso.
Ainda sem entender, Sérgio percebe que Jair já não parece tão violento quanto no início, mesmo assim não consegue parar de tremer. Sempre fora medroso. Era óbvio que não estava lidando com um ladrãozinho pé de chinelo. Pelo linguajar e pela postura, Jair é profissional. Talvez, das forças de segurança. Na verdade, não fazia idéia de quem se tratava e de onde surgira aquele homem.
Jair pega seu celular e começa a filmar Sérgio.
- Você vai gravar? Por quê?! Pergunta Sérgio.
- Se levanta e vai pegar a mala com o dinheiro. Diz Jair apontando o celular.
Sérgio hesita:
- Não está mais aqui... o secretário do senador já pegou...
A voz de Sérgio falha e irrita Jair, que rapidamente troca o celular pela pistola, engatilha e aponta para ele.
O corajoso deputado se transfigura apavorado, e imediatamente revela que a mala está dentro do armário no quarto.
Jair não segura o riso. Os dois se recompõe, Jair volta a falar manso e nota que o deputado havia mijado nas calças.
Sérgio entra em seu quarto, abre o armário, pega a mala, coloca-a sobre a cama e a abre. Jair grava tudo ininterruptamente com o celular. Enquadrando o quarto inteiro, alternando com closes da mala e dos retratos de família no quarto do deputado, para caracterizar, com detalhes, onde estão naquele momento.
A seguir, voltam para a sala e Jair continua gravando a mala aberta sobre a mesa de jantar e a sala inteira ao fundo.
Pronto, aquele vídeo não deixa dúvidas de que aquele dinheiro esteve com o deputado dentro de sua casa.
Jair recolhe a mala cheia de dólares. Diante do atônito e medroso deputado mijado, recoloca seu agasalho esportivo, guarda o celular e a pistola no bolso.
- Sérgio, agora vai ser o seguinte. Daqui a duas horas vou enviar para você, pelo seu whatsApp, o vídeo que fizemos agora. Ou seja, eu tenho a prova de que você estava com 500 mil dólares em dinheiro vivo, e que, obviamente, não tem como explicar porque vieram parar aqui sem comprometer muita gente graúda.
Mostre esse vídeo para o seu "pessoal”, porque ele também garante que você não pode ser preso para não delatar. Ou seja, não ter acontecido nada aqui, será melhor para todo mundo.
Se eu souber que tem alguém atrás de mim, jogo esse vídeo na internet na hora, os jornalistas vão adorar e isso vai virar o próximo escândalo nacional da semana.
Sérgio ouviu calado, e calado permaneceu.
Afinal, oficialmente, aquele dinheiro nunca existiu e ninguém poderia reclamá-lo sem se incriminar. Não tinha nada a dizer. Não podia fazer nada. A não ser aguardar o vídeo para garantir que continuaria vivo e interessante para o poder que representava.
Jair saiu do prédio tranquilamente, não sem antes perguntar
ao simpático porteiro quanto estava o jogo do Flamengo contra o Botafogo no Maracanã:
- 4 a Zero pro Mengão, doutor! E ainda tá no primeiro tempo...
Era o que faltava para coroar aquela noite dourada para Jair. Afinal, como diz a sabedoria popular:
- Ladrão...que rouba ladrão...Tá perdoado!
- Edmir Saint-Clair
Este conto faz parte do Livro "A Casa Encantada - Contos do Leblon"
O SEGREDO DO MARKETING
Diz a lenda que certa grife mundial, cansada de vender bolsas que custavam mais que apartamentos, resolveu testar um limite ainda não explorado: o da estupidez vaidosa da humanidade.
O plano era simples — tão simples que beirava a genialidade. Criaram um produto chamado A CAIXA. Só isso. Nenhuma descrição, nenhuma promessa além da propaganda oficial:
“Nada menos do que muito poucos merecem.”
O preço? Astronômico, naturalmente. Acessível apenas para quem já não sabia mais onde gastar dinheiro.
O anúncio de que seriam produzidas apenas mil unidades desencadeou uma corrida insana. Iniciou-se a venda no escuro: ninguém sabia o que estava comprando, mas todos estavam dispostos a pagar. A fila de pretendentes atravessava continentes. Bancos suíços receberam transferências milionárias antes mesmo de confirmarem os nomes. Políticos, artistas, donos das maiores hi-techs, sheiks do petróleo e magnatas de todas as nacionalidades apelaram a todas as conexões possíveis para garantir um lugar entre os compradores eleitos.
Em pouco tempo, instalaram-se negociações discretas nos bastidores: convites trocados por favores, promessas de influência, silenciosos acordos de conveniência. O privilégio de estar entre os mil compradores passou a valer tanto quanto — ou até mais do que — a própria Caixa.
Em poucas horas, a lista de espera foi totalmente preenchida. E o mercado negro por um lugar na fila explodiu, atingindo valores indecentes.
O lançamento aconteceu em Nova York, no Madison Square Garden, transformado em templo da futilidade moderna. Sheiks árabes com turbantes cravejados de ouro, nobres europeus entediados, bilionários de todos os continentes: todos lá, ansiosos para botar as mãos naquilo que não sabiam o que era.
Mil compradores, mil caixas personalizadas. Segundo a grife, cada uma conteria um produto único, personalizado e exclusivo que representaria exatamente o valor de cada comprador para o mundo.
Luzes, drones, fogos de artifício. Um mestre de cerimônias, com voz de trovão, anunciou:
— Senhoras e senhores, eis o reflexo de quem vocês são!
Um batalhão de homens vestidos com smoking negro e postura solene entrou no enorme salão e passou a entregar cada caixa ao seu proprietário. A CAIXA era de madeira de lei escura, solene, e entalhada com o nome de cada comprador aplicado em ouro puro. Em cada mesa havia um pequeno biombo, para que cada magnata tivesse privacidade ao verificar o que havia dentro de sua caixa.
No instante da revelação, cada um dos mil compradores abriu sua caixa dourada personalizada, com o nome encrustado em pedras de rubi finamente lapidadas e elegantemente dispostas na tampa, acima da logomarca famosa, com a respiração suspensa.
O que encontraram lá dentro não foi uma joia, nem um artefato exclusivo, tampouco algum segredo da eternidade.
Dentro de cada caixa havia apenas uma folha de papel timbrado. Nela, em letras grandes e solenes, lia-se:
Você vale a mesma coisa que qualquer outra pessoa.
A surpresa foi grande — um choque íntimo, quase uma bofetada filosófica. Mas nenhum deles ousou demonstrar. Afinal, quem pagaria milhões para admitir em público que não valia mais do que qualquer outro?
Mais abaixo, em letras menores, uma instrução irrefutável:
“Não conte a ninguém o que você recebeu, nem pergunte o que os outros receberam. Nos comprometemos a nunca revelar o que você mereceu ganhar.”
Após o choque inicial, cada um dos compradores começou a encenar sua explosão de alegria diante da Caixa. O que se seguiu foi um espetáculo de hipocrisia: atuações dignas de Oscar. Cada qual tentava exibir mais felicidade, mais encantamento, mais êxtase que o outro. Sorrisos falsos, lágrimas de emoção forçada, abraços teatrais.
A plateia, composta de convidados e jornalistas, aplaudia com fervor, convencida de presenciar um momento histórico. As câmeras captaram lágrimas cintilantes e gestos de êxtase, transformando a farsa em verdade televisiva. Enquanto isso, os compradores seguiam à risca as instruções de sigilo, cada um se achando o maior idiota do mundo — mas sem deixar transparecer. E, claro, certos de que todos os outros haviam recebido algo muito mais valioso.
E assim, todos calaram-se envergonhados. Cumpriram à risca a ordem impressa, protegendo o segredo que os envergonhava.
No dia seguinte, jornais noticiaram o lançamento como o “espetáculo de marketing da década”. E a grife, naturalmente, anunciou um novo lote de caixas — agora pelo dobro do preço.
Ninguém jamais ousou romper o silêncio.
Edmir Saint-Clair
OUTRAS VIDAS
Um menino de seis anos nascido em Piracuruca, no Piauí, começou a descrever com precisão a vida de um alemão rico que morrera cinquenta anos antes na cidade de Punta del Este, no Uruguai.
O psicólogo Túlio Linhares, da Universidade de Campinas, investigou o caso com rigor científico, viajando três vezes ao local. Confirmou cada detalhe relatado: a casa de três andares à beira da água, a família Schmieden, os negócios de couro, a mala marrom e a morte nos anos 1940. A história tornou-se referência internacional porque desafia as fronteiras conhecidas da memória e da consciência.
A criança e as memórias impossíveis
4.680 quilômetros separam João Benício, uma criança de Piracuruca, no interior do Piauí, da cidade de Punta del Este, no Uruguai. Uma enorme distância geográfica, cultural e histórica. Mesmo assim, o menino começa a descrever com precisão a vida de um homem alemão rico, morto meio século antes de ele nascer, naquela cidade à beira do Rio da Prata.
Ele fala de uma casa de três andares construída sobre a água, com um píer onde barcos atracam. Atrás, haveria uma igreja. Ao lado, a propriedade de uma mulher famosa: Evita Dolores, conhecida na América do Sul e marcada por escândalos judiciais.
O detalhe mais intrigante surge quando o menino menciona a família Schmieden — donos da casa, ligados ao comércio de artigos de couro. João diz que o patriarca carregava sempre uma mala de couro marrom e só passava os verões naquela residência.
O olhar cético da ciência
Nada fazia sentido para seus pais, trabalhadores simples e católicos dedicados, cuja crença não inclui nada parecido com reencarnação. Como uma criança do sertão poderia inventar tais detalhes sobre um lugar que jamais visitara?
Em 1997, o psicólogo Túlio Linhares, da Universidade de Campinas, decide investigar. Cético por natureza, viaja até Piracuruca e entrevista o menino. Com um gravador de mão, anota e grava cada informação: a casa à beira da água, a igreja atrás, a vizinhança de Evita Dolores, a família Schmieden, a mala marrom, a morte entre 1940 e 1941.
Ao retornar ao gabinete, Túlio enfrenta a escolha: arquivar o caso como fantasia infantil ou testar cientificamente as afirmações. Opta pela segunda via.
A primeira viagem: a casa existe
A primeira ida a Punta del Este o surpreende. A residência de Evita Dolores é localizada sem dificuldades. Ao lado dela, exatamente como descrito, surge uma casa de três andares, construída sobre a água, com um píer na frente e uma igreja atrás. Estava abandonada, mas correspondia ponto a ponto à narrativa de João Benício.
Um vizinho idoso confirma: sim, um alemão morou ali décadas atrás. Mas, não havia mais nenhuma informação sobre a família que ali residira. A pista inicial se transforma em um enigma maior.
A confirmação histórica
Em 1998, Túlio retorna ao Uruguai. Consulta historiadores locais, especialistas na memória dos bairros de Punta del Este. Um deles confirma: a casa pertencia a um alemão da família Schmieden, casado com uma italiana, com três filhos. O homem era lembrado por sempre carregar uma mala de couro marrom e só ocupar a residência durante os verões. A família tinha negócios de couro em Montevidéu. A morte, registrada por volta de 1940, coincide com o relato do menino.
O detalhe final reforça o mistério: João Benício dizia que o nome do homem significava “bom homem” em alemão. Pesquisando, Túlio descobre que a expressão existia, usada de forma respeitosa em tempos passados.
A terceira viagem: eliminando dúvidas
Determinando-se a fechar o quebra-cabeça, Túlio viaja uma terceira vez. Investiga registros de comunidades italianas ortodoxas e encontra indícios de que os filhos da família realmente receberam nomes italianos.
O quadro se completa: casa, localização, vizinhança, família, ocupação sazonal, negócios, mala, idioma, nomes. O menino brasileiro havia descrito com precisão elementos que nem mesmo historiadores locais lembravam de imediato.
A repercussão internacional
Os resultados são publicados em periódicos científicos e apresentados em conferências. Ian Stevenson, referência mundial nos estudos sobre reencarnação, elogia o trabalho como “exemplar, detalhado e verificável”.
O caso repercute em debates acadêmicos pelo mundo. Para alguns, é a prova de que memórias extra conscientes existem. Para outros, apenas coincidências estatísticas. Túlio mantém a posição equilibrada: não afirma que João Benício seja a reencarnação de ninguém, mas mostra que há fenômenos que escapam à lógica tradicional.
O ceticismo e a impossibilidade das explicações
Com a fama vêm as críticas. Pesquisadores analisam se a família poderia ter tido acesso a livros ou relatos sobre Punta del Este. Outros buscam conexões ocultas com alemães no Brasil. Nenhuma hipótese encontra sustentação.
A distância de 4.680 km, o isolamento da família no agreste do Piauí e a ausência de interesse em publicidade tornam improvável a fraude ou a coincidência. Para muitos estudiosos, a solidez metodológica do trabalho de Túlio transforma o episódio em um dos casos mais impressionantes já documentados.
O fim das memórias
Como em relatos semelhantes, as lembranças de João Benício desaparecem com a adolescência. Hoje adulto, vive uma vida comum, sem falar do que um dia marcou sua infância.
Na ciência, porém, o caso permanece. Para uns, prova de que a consciência pode sobreviver à morte. Para outros, um mistério ainda sem explicação.
O que se mantém indiscutível é o impacto: um menino pobre do sertão brasileiro descreveu com precisão a vida de um alemão morto a milhares de quilômetros, décadas antes de seu nascimento. E um pesquisador obstinado, aplicando o método científico, confirmou cada detalhe.
Mas o que João Benício realmente reviveu? Uma memória guardada em algum ponto secreto da mente? Uma coincidência impossível? Ou a prova silenciosa de que a vida não termina onde acreditamos que acaba?
A resposta permanece em aberto, perdida entre ciência e mistério — como uma casa abandonada à beira da água, onde ainda ecoam lembranças.
Edmir Saint-Clair
Disclaimer
Esta é uma obra de ficção literária. Embora inspirada em atmosferas, relatos e mistérios que circulam pelo imaginário humano, não se apoia em fatos documentados nem tem compromisso com a realidade histórica. Qualquer semelhança com pessoas vivas ou mortas, lugares ou acontecimentos, é mera coincidência — ou talvez apenas o eco de outras vidas.