ORIENTADOR LITERÁRIO

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O DIA QUE MUDOU O MUNDO

Jorge acordou tarde como seu costume, mas, com certeza dormiria mais se não fossem aqueles ruídos incomuns vindos da janela.

Checou o celular para saber as horas, inutilmente, o aparelho estava sem rede de telefonia móvel. Tentou acessar o WhatsApp quando percebeu que também não estava conectado pelo wi-fi de casa.

Pulou da cama e, antes de ir até o quarto onde o modem da casa fica, foi até a janela e o trânsito na rua era absolutamente inédito, pelo menos nos últimos 10 anos em que morava ali. A primeira coisa que notou ao entrar no quarto de hóspedes foi que as luzes do modem estavam todas desligadas. Ele estava sem conexão alguma. A primeira sensação foi de muito incomodo e estranhamento. Decidiu verificar a eletricidade de casa e estava sem energia.

Ligou seu notebook que, para sua sorte, estava com a bateria cheia. Mas, totalmente sem conexão alguma. O incomodo inicial deu lugar a uma ansiedade maior do que ele estava acostumado a lidar. Abriu a porta do apartamento e o corredor estava escuro, e os elevadores, obviamente, parados. Um silêncio perturbador emprestava um ar lúgubre ao local.

Jorge fechou a porta e deu duas voltas na chave. Enquanto a cafeteira lhe preparava um café ele voltou à janela para olhar mais atentamente. O fluxo de trânsito dos automóveis além de anormal estava mais caótico pela falta dos semáforos sem energia. Tomou seu café, se arrumou e resolveu ir até a portaria de seu prédio. O porteiro haveria de ter mais informações sobre aquela estranha e incômoda manhã. Sentia-se ainda mais perdido por não ter ideia de que horas eram. Mesmo sem o relógio do celular, geralmente, ele seria capaz de calcular o horário pela luz e os sons externos. Mas, tudo parecia estar caoticamente fora dos padrões normais.

Usou a lanterna do celular para iluminar os degraus da escada do prédio e não demorou a chegar na portaria.

“Seu” Cícero segurava a porta enquanto o Célio do quarto andar entrava acompanhado da mulher e dos dois filhos carregados de sacolas de supermercado lotadas. Foi quando se deu conta de que a situação era muito mais séria do que ele imaginava. E, em menos de 5 minutos que ele estava na portaria, 3 outras famílias chegaram igualmente carregadas de mantimentos. Jorge percebeu que estava defasado e desinformado. Naquele dia, ter acordado tarde faria toda a diferença.

Desceu até a garagem para pegar seu carro e ir até o supermercado garantir suprimentos. Ele continuava sem saber sobre o que estava acontecendo, mas algo grave estava acontecendo. O porteiro e os moradores com os quais encontrara também não souberam dizer nada a mais do que o óbvio que todos sabiam por que sentiam a falta. E a cada minuto mais itens eram acrescentados a essa interminável lista.

Demorou minutos inéditos para conseguir sair da garagem e pegar a rua totalmente engarrafada. Motoristas e pedestres portavam a mesma expressão grave e preocupada. Em alguns, a ansiedade se exacerbava de forma mais evidente. Em outras, já chegava a um estágio preocupante. Jorge, apesar de muito ansioso e perdido, ainda conseguia manter a racionalidade em níveis funcionais.

As estações de rádio estavam fora do ar, tudo que dependia de energia elétrica não estava funcionando, exceção aos locais com geradores próprios.  Aos poucos foi percebendo toda a extensão da catástrofe que havia ocorrido. Ele só não sabia extensão. Poderia ser só na sua cidade, só no seu estado, só no seu país ou no mundo inteiro. Lembrou-se de um dos últimos vídeos que assistira no Youtube na noite passada, um podcast sobre ciências, no qual o entrevistado, um astrônomo brasileiro, alertava para uma explosão solar que iria gerar uma onda eletromagnética que poderia, literalmente, torrar todas as instâncias de comunicação do planeta terra, incluindo satélites e instalações terrestres, com consequências incalculáveis. Com um potencial tão avassalador que poderia mudar profundamente o rumo da história humana.

Foi ridicularizado e apontado como mais um seguidor das teorias da conspiração.

Não era.

Era 4 horas da tarde quando, após 3 horas parado no trânsito, Jorge abandonou seu carro no meio da rua caótica e seguiu a pé, a tempo de ver a horda de populares arrebentar as portas e paredes de vidro do imenso supermercado antes de dar início aos saques.

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