ORIENTADOR LITERÁRIO

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A RECEITA DA FELICIDADE

 


Todos os dias, pipocam nas redes de comunicação milhares de textos sobre o tema “Felicidade”.

Livros são lançados, artigos escritos, vídeos e todo tipo de arquivos são produzidos e vem se juntar a uma já incontável biblioteca sobre o assunto.

É fácil perceber que existem milhares de rótulos cujo objetivo final é esse tal da felicidade: dentre tantos temos a psicologia, a filosofia, autoajuda, a meditação, sexo terapias, as práticas tântricas, as diversas vertentes da ioga e outras centenas de "cadeiras e disciplinas" buscando a mesma coisa por caminhos diferentes. Todos válidos, já que a busca é absolutamente individual

"A Felicidade não existe, o que

existe são momentos felizes".*

Por mais óbvia e simplória que essa frase possa parecer a princípio, traz uma verdade perturbadora e nem um pouco romântica. Já que em seu enunciado, determina a finitude inevitável de cada momento.

Mas, que tipo de felicidade transcendental é essa que a humanidade tanto procura? 
Uma felicidade perene e inalterável, onde cessam as tristezas e contrariedades.

O conhecido "foram felizes para sempre" como nos contos de fadas que parecem resistir a evolução e ao tempo no imaginário humano.

Assim colocado, fica fácil vermos que a felicidade, como um estado permanente, é uma utopia absoluta. Se transformaria em num desagradável tédio em pouco tempo, isso faz parte da inquieta natureza humana.

Mas, se a pensarmos como apenas momentos de pleno gozo da existência, ela se torna extremamente atraente e absolutamente possível. Dependemos dos altos e baixos para sermos felizes. Precisamos do ruim para valorizar o bom. O ser humano é assim. Precisamos estabelecer relações de valor para decidirmos entre umas coisas e outras.

A maioria de nós, que já passou de certa idade, tem razoável certeza de que existem muitos momentos em que nos sentimos plenos e felizes. Pelos mais diversos e variados motivos.

Saber perceber esses momentos, enquanto estão acontecendo, é fundamental no processo de aprender a ser feliz. Aprender a nos cercarmos de situações que possam
deflagrar aquela sensação tão desejada é como descobrir o mapa que leva ao nosso tesouro pessoal e intransferível de felicidades. Nosso paraíso interior.
Pena que só alcancemos isso na maturidade...

Esse processo é desenvolvido intuitivamente durante a vida, e a forma como esse aprendizado se consolida em cada um é o que determina a capacidade ou a incapacidade de alcançar esses momentos. Se desenvolveremos ou não a capacidade
de ser feliz.

Ser feliz é um aprendizado, um mérito pessoal. Uma conquista. Uma consequência da busca sincera e corajosa por nossa verdade essencial.

A consciência do agora, do exato momento em que estamos vivendo as emoções e explosões de bons sentimentos, é o que completa a felicidade, tornando-a plena como um gozo total do ser. 

É por esses momentos que a humanidade vive. Para sermos palco, em nosso interior, de uma explosão espetacular e plena de sentimentos e sensações que são absolutamente compensadoras e indescritíveis.

Às vezes, sua exteriorização não passa de um leve sorriso. Outras, é literalmente como um grito de gol do nosso time num estádio lotado no dia da grande final do campeonato! É quando a alegria é tão grande que não cabe dentro de nós e transborda.

Para que essas sensações, emoções e sentimentos se somem e explodam, é preciso que aconteça uma progressão sincronizada de acontecimentos detonadores daquelas descargas químicas certas e extremamente precisas, únicas em cada ser.

Esse conjunto de fatores, muito pessoais e individualizados, se juntam e fazem nosso sistema orgânico produzir uma série de substâncias, em quantidades e proporções exatas, de tal forma que o resultado é a descarga daquelas sinapses únicas que provocam a sensação que chamamos de Felicidade. A plenitude indescritível.

Esse processo é extremamente individual e único. Sequer no mesmo indivíduo acontece exatamente da mesma forma duas vezes. O simples fato de já ter ou de nunca ter acontecido já determina essa originalidade.

Pensando assim, na felicidade como um conjunto de fatores que nos faz sentir bem por um período de tempo, podemos sim encontrar esses ingredientes que nos causam bem-estar, e traduzi-los em decisões e atitudes que nos proporcionem mais prazer do que incômodos.

O aumento da frequência dos momentos prazerosos funciona como reforço, é um tipode treino para o nosso cérebro, aumentando as possibilidades de que os fatores disparadores daquele estado mental se repitam, potencializando a chance de sentir novamente aquelas sensações maravilhosas. Ou seja, quanto mais vezes nos sentirmos felizes, mais vezes seremos capazes de sermos felizes de novo. Felicidade gera felicidade. E o oposto também é verdade. Por isso a felicidade é uma escolha pessoal.

Infelicidades todos temos e teremos, cabe a cada um escolher onde empenhar nosso maior foco de pensamentos e esforços: se será em ser infeliz, ou em aprender a ser feliz.

Para que tenhamos o discernimento necessário para saber o que nos agrada, o que não faz diferença e o que nos contraria, é preciso autoconhecimento. É preciso aprender a semear felicidade em si mesmo. Aprender a semear, a cultivar e a colher felicidade.

É preciso prestar muita atenção e cuidar dos próprios sentimentos e reações. É preciso aprender quais devemos cultivar e quais devemos exterminar para não nos contaminarmos com pragas daninhas. Ter a capacidade de perceber onde estão nossos limites requer autocrítica e conclusões, muitas vezes, desagradáveis e perturbadoras. Ninguém gosta de reconhecer suas limitações, fraquezas e carências.

Outro fator fundamental é saber estabelecer os nossos limites externos.

Até onde deixar que os outros opinem, influam e nos cobrem por nossas decisões de âmbito pessoal?  Até onde deixar, e quem vamos deixar que "se meta em nossa vida".

Até onde dar satisfação de nossos atos, e a partir de onde nossas motivações e propósitos são questões sobre as quais não devemos satisfação a ninguém? 

A independência emocional é fundamental para realizarmos nossa essência. É preciso estabelecer limites e até onde permitiremos que outras pessoas interfiram em nossos processos. Para isso, é preciso que nos coloquemos como o único responsável capaz de produzir nossa própria felicidade.

É complicado. Mas, ninguém disse que não seria.

Para formular nossa própria receita de felicidade, primeiro é preciso descobrir quais ingredientes nos agradam e em que quantidades devem ser usadas, para que o resultado nos traga a satisfação da vida com sabor.

E, como seria bom, se pudéssemos deixar essa receita como herança para nossos filhos. Como a receita de um bolo da vovó.

Mas, infelizmente, essa receita só vai servir para o próprio. É pessoal e intransferível.

E, quando a gente pensa que está chegando a uma conclusão, entra mais alguém na história e dana-se tudo de novo.

Se sozinho já é essa dificuldade toda, imaginem quando a busca inclui mais outra pessoa nessa já complicada equação!
Edmir St-Clair

"Felicidade não existe, o que existe são momentos felizes".*Letra de uma música famosa nos anos 1980 do autor Peninha.

Edmir Saint-Clair


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