COACH LITERÁRIO

O ORIENTADOR LITERÁRIO é um profissional que acompanha, ensina e participa de todo processo de criação de um livro. Um profissional técnico, especializado em criação, um professor de escrita e um parceiro, ao mesmo tempo. Experimente, é terapêutico e libertador. Perpetue as histórias que só você tem para contar.
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A FELICIDADE É LÍQUIDA

 

Ele nunca havia sido desleal ou infiel a ela, e sabia que era plenamente correspondido. Foram o primeiro amor um do outro, desde adolescentes se entenderam sem esforço algum. Aqueles casos em que o amor e a amizade vão crescendo lado a lado, um alimentando o outro. Um encontro de almas.

Foram descobrindo a vida juntos numa parceria e intimidade que só a pureza de quem nunca amara antes poderia proporcionar. Riam de seus próprios desconhecimentos de seus corpos, tornando tudo uma brincadeira excitante, deliciosa e sem expectativas demasiadas.

Consequência natural, numa sociedade que não dava muitas opções, casaram-se muito cedo.

A ascensão profissional de ambos, a leveza e a cumplicidade cresciam na mesma proporção. Se davam bem. Combinavam sem esforço.

Num dado momento, como em toda relação, a rotina, antes um orgulho pela sincronização e conveniência para ambos, se instalou de uma forma perfeita demais.

Tão perfeita, que era impossível melhorá-la. Até as manhãs de mau humor aconteciam em forma de revezamento, de maneira que um estava sempre são, para compensar o descompensado.

Haviam encontrado um ponto de equilíbrio que poucos casais conseguem alcançar. Eram a exceção que confirmava a regra de que casamentos são feitos para fracassar.

A relação deles contrariava a tudo e a todos.

Após 15 anos, eram os únicos do extenso grupo de amigos do bairro natal, no qual ainda moravam, que permaneciam casados. Se juntasse com o tempo de namoro, passava de 20 anos.

O fato é que os amigos viviam comentando sobre a harmonia perfeita do casal, alguns com espanto, outros com inveja e outros com elocubrações regadas a muito álcool.

Até que aquele “incomodo alheio" pela felicidade do casal começou a chegar até eles, de forma fragmentada e de maneira cada vez mais incômoda e invasiva.

Emprenhados, por fragmentos de conversas carregadas de muito veneno e servidas como caipirinhas entre amigos, o casal foi sendo contaminado pela dúvida.

Foram presas muito fáceis da inveja humana.

 Só haviam conhecido um ao outro. A desconfiança que começou a nascer, não foi com relação ao outro, mas com a avaliação que cada um fazia de si mesmo.

Como poderiam saber se realmente eram felizes tudo que poderiam ser, ou se apenas imaginavam que aquilo era felicidade, já que não tinham nenhuma experiência que pudessem usar como comparação ou referência.

Sempre foram muito amigos e se prometeram a sinceridade que só a confiança extrema comporta.

Não tardou para que os questionamentos tomassem conta de todas as horas. Sempre compartilhados, sem que nenhum dos dois conseguisse respostas.

Não sabiam mais dizer se eram felizes ou se haviam entrado na perigosa zona de conforto, última moda nas conversas psicologizadas.

 E o que era leve, não era mais. Os silêncios não eram mais os mesmos, e é no silêncio que um casal mais se entende.

Numa conversa angustiada, mas cheia de sinceridade, sentimentos e carinho, decidiram que deveriam se separar naquele momento, para que pudessem ter alguma chance de se reencontrar num futuro em que já haveriam de ter suas respostas.

Mas, não se deve deixar a felicidade nas mãos do acaso.

É preciso abraçá-la, fazendo o impossível, para que ela nunca queira ir embora.

Nunca mais se reencontraram, e se arrependeram daquela decisão pelo resto de suas vidas.

Edmir Saint-Clair



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