COACH LITERÁRIO

O ORIENTADOR LITERÁRIO é um profissional que acompanha, ensina e participa de todo processo de criação de um livro. Um profissional técnico, especializado em criação, um professor de escrita e um parceiro, ao mesmo tempo. Experimente, é terapêutico e libertador. Perpetue as histórias que só você tem para contar.
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OS LACERDINHAS (O INCÊNDIO DA PRAIA DO PINTO)

 Nunca mais vi um Lacerdinha.

Pensando bem, faz muitos anos que nem sequer ouço falar. O Lacerdinha tinha poucos milímetros e não voava. E o Lacerdinha não transmitia doenças.

Era pretinho e infestava o Leblon, principalmente as transversais, numa certa época do ano. Minhas lembranças com relação a eles estão ligadas à época em que eu morava na Rua José Linhares.

No final da tarde, eram cigarras cantando e Lacerdinhas caindo das árvores. Às vezes nos olhos. Ardia e coçava muito!

Deixava os olhos inchados e nossas mães preocupadas.

Eles eram atraídos por roupa clara, principalmente as amarelas. Por vezes, atingiam os olhos e provocavam irritação e ardência intensas.

Esses minúsculos insetos eram chamados de Lacerdinhas em referência a um antigo político carioca, Carlos Lacerda, que fora governador no tempo do estado da Guanabara.

Descobrimos que os lacerdinhas depositavam suas larvas nas folhas das árvores, que ainda estavam enroladas e cheias de água da chuva. A gente as desenrolava e surgiam um monte de Lacerdinhas pequenos em seu interior.

Para mim, os Lacerdinhas despertam uma lembrança muito marcante.

Uma história que me provoca um sentimento muito incômodo até hoje. Eu tinha uns seis anos de idade e era acostumado a brincar na nossa rua, mas só no quarteirão, sem atravessar a rua. Havia muitas crianças, tanto no meu prédio quanto nos prédios vizinhos que faziam parte daquela turminha de meninos da mesma idade.

 Naquele tempo no Leblon, a maioria das casas tinha uma empregada que morava na favela Praia do Pinto ou na Cruzada São Sebastião.

Quando, por algum motivo, a empregada da minha mãe levava o filho para o trabalho, no caso a minha casa, ele se tornava um amigo a mais, que passaria o dia brincando comigo, meu irmão e nossos outros amigos. No período das férias escolares isso era bem frequente e, às vezes, a Dona Celestina voltava para a casa deles na favela da Praia do Pinto e ele ficava e dormia lá em casa com a gente. Eu e meu irmão adorávamos a presença dele. Era um menino doce, risonho e engraçado.

Seu apelido era Bilico, o nome era Bernardo, o dia era sábado, dez de maio de mil novecentos e sessenta e nove, véspera do Dia das Mães.

Dona Celestina e minha mãe estariam ocupadas o dia inteiro preparando o almoço comemorativo do dia seguinte.

Bilico era mais novo que eu, um ano e mais velho que meu irmão apenas alguns meses. Era negro com os dentes grandes e muito brancos. Era tímido, mas engraçado, falava de uma maneira diferente que eu achava legal. Quando Bilico passava o dia lá em casa fazia tudo junto comigo e meu irmão; assumia a nossa rotina, almoçava, tomava banho, brincava, lanchava, descia para brincar conosco e era sempre muito divertido.

Nesse dia, Bilico chegou cedo, tomou café conosco e descemos pra rua pra brincar. Era época de Lacerdinha.

Dentre os garotos que brincavam na rua, tinha um que era especialmente assustador para mim e meu irmão. O Arlindo era mais velho, mas não andava com os garotos da idade dele. Andava conosco, que tínhamos uns dois anos a menos. Nessa idade, isso faz uma grande diferença.  Gostava de nos intimidar e bater. Ninguém ficava com pena quando o pai dele aparecia chamando-o, sempre gritando e batendo nele.

Nós também tínhamos medo do pai dele.

Nessa tarde, estávamos catando Lacerdinhas nas árvores. Abríamos as folhas e ficávamos observando os Lacerdinhas se mexendo lá dentro.

De repente, o Arlindo pega uns Lacerdinhas com o dedo e enfia com violência no olho do Bilíco, que observava bem de pertinho.

−  Tá com fome? Come neguinho esfomeado!

Arlindo falou aquilo com mais raiva do que lhe era peculiar, todos nós tomamos um susto. E ele nem conhecia o Bilíco...

Bilíco começa a coçar o olho e a chorar com a ardência intensa.

Todos os meninos começaram a rir. Menos eu, meu irmão e o Bilíco, que saiu andando e chorando na direção da portaria do nosso prédio.

Lembro que me veio um sentimento estranho e desconfortável que eu nunca havia experimentado antes - anos mais tarde eu saberia que aquilo se chama constrangimento - e que nunca me saiu da memória. Eu senti vergonha. Vergonha de não ter defendido o Bilíco, ele era meu amigo.

Bilíco não subiu para nossa casa, ficou num canto da portaria chorando baixinho. Falou que se chegasse lá em cima chorando e com o olho inchado sua mãe iria brigar com ele. Ela recomendava-lhe sempre que não queria que ele arrumasse confusão com os "filhos das madames".

Depois de algum tempo, ele parou de chorar e subimos. Pela escada. Naquela época, os empregados e pessoas negras de cor" só podiam subir pelo elevador de serviço.

Mas o Bilíco só subia pela escada, tinha medo de elevadores.

  Quando chegamos em casa, a primeira coisa que Dona Celestina viu foi o olho do filho inchado e muito vermelho. Não falou nada, mas fechou a cara. Chamou o Bilíco para a cozinha e de lá só o vimos de novo quando eles foram embora, bem mais tarde. Lembro-me bem da expressão de choro dele quando se despediu da gente.

Aquele sábado me marcou para sempre.

Naquela mesma noite, um misterioso e devastador incêndio irrompeu e tomou conta da favela onde eles moravam. Queimou por toda a madrugada e por muitas horas seguintes, consumindo tudo e deixando centenas e centenas de famílias sem teto e sem nada. Era dia onze de maio de mil novecentos e sessenta e nove, Dia das Mães.

A casa da Dona Celestina e do Bilíco pegou fogo e virou cinzas, junto com toda a favela da Praia do Pinto, que queimou inteira.

         Não sobrou nenhum barraco de pé.

Dona Celestina nunca mais voltou, e o Bilíco nunca mais veio passar o dia conosco.

Nunca mais soubemos deles.

-  Edmir Saint-Clair


A favela banida


A história sobre o incêndio da favela Praia do Pinto.

EQUIPE TESTEMUNHA OCULAR


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A CARA DO BRASIL

 


O Brasil é um país de mal-educados, não temos boas escolas nem um bom modelo educacional, as que temos não dão conta da demanda e, consequentemente, a multidão de ignorantes e analfabetos funcionais aumenta diariamente há décadas. Somos um povo que, por esses motivos, é muito fácil de ser enganado e conduzido por qualquer charlatão um pouco mais articulado.

Nada disso que vemos hoje é novidade. Nada.

A diferença atualmente é que, graças à internet, estamos descobrindo que a sujeira é ainda muito maior do que qualquer um poderia imaginar. Alastrou-se por todos os cantos do país. Capilarizou por todo e qualquer aspecto da vida nacional, todo brasileiro se tornou um corrupto ou um corruptor em potencial.

O descaramento dos políticos, de todos os partidos, é uma coisa inacreditável!

A população está atordoada sem saber o que pensar a respeito da quantidade enorme de denúncias que se sucedem diariamente há décadas, Ininterruptamente. É a mais indecorosa prova de como o mau pode se banalizar.

Mais ainda naqueles que não tem o esclarecimento básico mínimo nem para compreender onde aqueles fatos impactam na sua vida diária.

Nosso povo não tem mais a capacidade de entender onde, quando, como e por quem e está sendo roubado.

 Enquanto a desonestidade se sofisticou e se informatizou com as modernas tecnologias aplicadas para desviar verbas, lavar de dinheiro e etecetera, o nosso povo está emburrecendo em igual proporção ladeira abaixo. Um completo paraíso para corruptos e desonestos de todas as classes, todas as etnias e todas religiões.

O déficit educacional do país é gigantesco. A dívida social, nesse setor, que todos os mandatários, em todos os níveis e em todos os tempos, têm com o povo brasileiro, é impagável!

Hoje, choramos por não termos dado ouvidos às grandes mentes nacionais que sempre afirmaram que só uma educação de qualidade tiraria o país de um destino de república de bananas. Hoje, somos formados e diplomados em bananices.

As redes sociais são um desfile de imbecilidades e absurdos sobre todos os assuntos imagináveis.

Se tivéssemos dado a devida importância às palavras de Darcy Ribeiro, Rubem Alves e tantos outros educadores brasileiros que tanto nos alertaram para essa tragédia anunciada, não estaríamos pagando o alto preço que a ignorância demanda.

É triste constatar como custou, custa e continuará custando caro, ao país, negar aos jovens uma educação com uma qualidade mínima que os permita entender a própria vida e o funcionamento de seu país.

É tanta mentira, tanta desonestidade, tanta falta de ética e de compaixão em nossa vida pública cotidiana que não é exagero dizer que o povo brasileiro perdeu a esperança.

Fica claro que a banalidade do mal se alastrou para todas as camadas da população, indistintamente. Entra e sai eleição e continuamos envergonhados e pagando caro por quem elegemos para nos representar.

Estamos envergonhados do que nos tornamos como povo. Uma nação que dá um passo para frente e dois para trás. Estamos exaustos de tanto sermos feitos de palhaços e passados para trás.

Mas não estamos acostumados a lutar pelo que desejamos e achamos justo. Não lutamos por nossa independência, não lutamos para libertar os escravos, não lutamos para impor nossa república. 

Agora, estamos vendo como é difícil se construir um país digno e justo esperando que tudo nos seja concedido como benevolência de uma instância superior.

Queremos tudo de mão beijada, expressão que, tristemente, serve como uma luva ainda nos dias de hoje.

A expressão “receber de mão beijada”, tem origem no império, onde quem beijasse a mão e adulasse a nobreza, garantia bons negócios. Desde então, o puxa-saquismo foi institucionalizado no estado brasileiro. Nunca evoluímos.

Um povo com todo esse histórico tão pouco favorável é um prato farto para políticos e toda sorte de desonestos, sempre mais escolarizados e ardilosos, que impõe suas vontades se utilizando de toda forma de artimanhas inescrupulosas.

E, quando não conseguem às claras, nos vencem pelo cansaço ou pelas votações do nosso parlamento no meio das madrugadas, enquanto o país inteiro está com sua atenção voltada para um jogo de futebol. Um ardil digno de bandidos.

No Brasil não existem partidos políticos, existem quadrilhas que atuam na política para roubar e saciar uma sede doentia de poder e dinheiro.

Nesse ambiente completamente prostituído e corrompido quem não entra na dança não participa da festa...

Essas práticas se repetem em todos os níveis da vida brasileira. Uns achacando outros quando podem.

Todos achacando e despejando seus recalques em quem vem logo abaixo hierarquicamente.

Estamos nos tornando um povo feio demais para essa terra tão linda que a natureza nos deu.

- Edmir Saint-Clair

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CONTO CURTO


Ele estava bem desanimado, apesar de ter a vida inteira para ficar desanimado. Depois de mais um dia procurando trabalho, chegou em casa cansado e com fome.

Ligou a televisão e foi esquentar café para tomar com o pão que, se ainda não era dormido, já estava bem descansado...fora comprado pela manhã. Uma reportagem chamou sua atenção para o telejornal. Na saída do turno de uma empresa o empregado respondia ao repórter:

- A situação está difícil, nossos salários estão muito defasados. Estamos tendo que tirar leite de pedra.

Enquanto acabava de requentar o café e o pão, resmungou para a televisão:

- E eu, que ainda nem encontrei a pedra?? 

CONVIDADO DE HONRA

 

O avanço da tecnologia, já nos permite observar o cérebro funcionando em tempo real, respondendo a estímulos provocados intencionalmente e alçando as pesquisas neurológicas até patamares impensáveis há apenas poucas décadas.

Através dessas pesquisas, foram desenvolvidas ferramentas como o EMDR, Brainspoting e uma série de  novas técnicas terapêuticas que tornaram os tratamentos psicológicos incomparavelmente mais rápidos e eficientes.  

Com todos esses recursos, “a coisa toda funciona muito mais rápido” e os resultados são, verdadeiramente, surpreendentes e animadores.

Uma das coisas que considero mais difíceis, no processo terapêutico, é identificar o que realmente sentimos com relação a tudo que faz parte do nosso universo pessoal, onde cada um está enredado até a alma. Essas teias que nos envolvem e, por vezes, nos paralisam, são como nós cegos muito difíceis de desatar.

Nas ocasiões em que afloram, essas marcas traumáticas tem a capacidade de nos tirar o chão, de nos desestabilizar e de causar grande sofrimento.

Através das técnicas psicoterapêuticas, é possível tornar todo o processo de cura mais eficiente quando conseguimos identificar, com objetividade, cada sentimento despertado por aquele gatinho.

Nomeá-los em voz alta é uma forma eficiente de encará-los e, a partir daí, promover uma dessensibilização e um reprocessamento das reações e emoções advindas daquele nó.

Para isso, desenvolvi uma forma pessoal de pegar minhas defesas psicológicas desprevenidas e, assim, conseguir respostas mais profundas.  

Um diálogo interno em voz alta, disfarçado de brincadeira de criança: um programa de entrevista, comigo mesmo...

 

Pode parecer infantil, mas isso é um valor a mais, já que nossa criança esconde muitas respostas.

Brincar sempre traz leveza a qualquer ação, ainda mais quando lidamos com nossos espaços obscuros.

Começo a brincadeira elaborando as perguntas o mais objetivamente que conseguir, com foco total no assunto escolhido, no nó, específico, que desejo desatar.

Crio Perguntas diretas, incisivas, íntimas, pessoais e intransferíveis.

 Perguntas tão invasivas que só poderíamos fazer a nós mesmos.

 

Quando formulo as perguntas, meu pensamento é unicamente impactar meu entrevistado, sendo invasivo e indiscreto, com crueza e malícia nas perguntas. Não penso nas respostas, penso só nas perguntas. O objetivo é claro e transparente: descobrir o que sinto sobre a lembrança em foco.

 

As respostas, por vezes, são de uma obviedade até sem graça, mas outras são surpreendentes, descubro coisas incríveis. Do choro ao riso, vou me descobrindo de uma forma cada vez mais leve e profunda.

É o meu programa do Jô, onde eu sou tudo, o Jô Soares, o Derico, o Bira e, principalmente, o maior astro daquela entrevista: eu mesmo.

 

Lembro de ter lido uma postagem no Facebook muito bem-humorada e inteligente, que tem muito a ver com esse meu programa do Jô: “Quando for falar mal de mim, me chame. Sei coisas terríveis a meu respeito. ”

É exatamente isso. Com a garantia extra de total confidencialidade, que só você pode se dar.

 

Experimente, se conhecer pode ser uma brincadeira deliciosa e, com certeza, vai mudar sua vida.

 - Edmir Saint-Clair

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O MOMENTO EM QUE A FELICIDADE ACONTECE

 

Uma relação leve e espontânea parecia estar surgindo e  Clara não queria acelerar aquela evolução que acontecia tão naturalmente.  

Era gostoso e divertido toda vez que se encontravam, o que estava se tornando  mais frequente.

Ela adora a liberdade que a solteirice lhe proporciona.

 

Já fizera a felicidade dos pais, da família, das amigas e a sua própria, realizando o casamento que todos esperavam, inclusive ela mesma.

Agora, sentia-se livre.

 A separação foi sem sobressaltos e bem menos tristeza do que ela imaginava.

De lá pra cá, pequenos namoros sazonais a satisfaziam plenamente, acordar ao lado de alguém tornara-se tão raro quanto indesejado, fazendo com que ela percebesse que novos sentimentos estavam nascendo naquele momento, depois de um delicioso café da manhã servido na cama.

 Clara deu-se conta que só conseguia sorver plenamente aquele momento, com a leveza da alma que acorda já descobrindo-se desperta, exatamente pela raridade da ocasião, por uma conjunção do improvável com o aleatório;

... um daqueles momentos que redimem a vida e justificam o caos.

Quando nada se espera e tudo acontece.

O momento onde o nosso desejo se encontra consigo e se realiza com a cumplicidade de alguém especial, numa comunhão harmônica... natural e espontânea.

  É preciso aprender a se deixar levar pela alegria de experimentar a vida dando certo e acertando em cheio.

 É preciso saber se sentir feliz, no momento em que a felicidade está acontecendo.

 E gravar, o mais profundamente possível, cada um desses raros momentos, no infinito da nossa alma eterna .

Edmir Saint-Clair


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O MONGE DE COPACABANA

Jorge havia passado sete anos no Tibet. Não porque fosse um espiritualista nato, mas para fugir de uma grave acusação envolvendo brigas de gangues que haviam culminado em homicídio. Ele não tivera participação direta no evento, mas fazia parte da turma que participou do crime e não tinha como provar que não estava no local no momento do ocorrido. Sem lhe restar esperança, sua família o sugeriu uma fuga para algum lugar onde não pudesse ser encontrado.

Jorge tinha um primo que se tornara, há pouco, monge no Tibet, que lhe ofereceu abrigo até que as coisas serenassem no Brasil. Para um praticante de lutas e frequentador assíduo de brigas de rua ou qualquer coisa parecida, seria uma mudança absoluta e, muitos apostaram, impossível.

Sem opção, Jorge partiu rumo ao Tibet. A caminho do mosteiro onde ficaria hospedado, teve acesso as últimas notícias sobre o julgamento de seu caso. Ele havia sido sentenciado há 8 anos de prisão, em regime fechado. Jorge deu graças a Deus por estar tão longe, não suportaria nem um mês numa penitenciária brasileira. Esse pensamento serenou sua alma.

Sete anos depois, Jorge aterrissa no galeão de volta a sua cidade natal e já resolvido com a justiça brasileira. É seu recomeço.

Sente-se um homem completamente diferente daquele valentão ridículo que fora um dia. Os ensinamentos que recebera o transportaram para outra dimensão dentro de si mesmo. No caminho até a casa dos pais, em Copacabana a primeira coisa que reconheceu foi a decadência do aeroporto, que já estava decadente há sete anos. A segunda, foi o cheiro da baía de guanabara saindo da ilha do governador. Nada mudara, mas, para ele, tudo mudara. Lembrou-se de um dos princípios básicos da sabedoria tibetana: quando você muda por dentro, tudo por fora muda junto.

Era verdade, nada do que via o incomodava mais.

Assim que terminou de tomar o café da manhã de boas-vindas que os pais lhe haviam preparado, resolveu ir até a praia de Copacabana, sua areia natal. Seus novos ares monásticos eram puro êxtase com tudo a sua volta. Os pais, o velho porteiro do prédio, a secretária doméstica que o viu crescer e todos que o viam exclamavam sobre a mudança impressionante que Jorge havia sofrido.

Jorge, a cada observação de alguém, pensava:

“A mudança interior, realmente, provoca muitas mudanças no mundo ao redor."

Chegou na praia, sentou-se, colocou seu celular e sua carteira ao lado e assumiu a postura tradicional de meditação. Havia poucas pessoas naquele dia nublado. Fechou os olhos e, ao som do barulho das ondas, meditou profundamente, Estava em paz.

Quando abriu os olhos, seu celular, sua carteira e toda calma e serenidade, que havia trazido do Tibet, haviam sumido.

Copacabana não é para amadores, nem para monges.

Depois disso, Jorge desistiu de fundar um templo para meditação e abriu mais uma academia de Jiu-Jitsu em Copacabana.

Edmir St-Clair

PARALISIA FUNCIONAL


Há períodos em que nos vemos tomados

por uma espécie de paralisia, agoniante e insuportável.


É como naquela brincadeira de criança que, de repente, alguém grita “estátua” e todo mundo tem que parar na posição que estiver. Ninguém se mexe. A gente pensa, mexe os olhos, respira, mas não se mexe.

São muitas idéias, muitos projetos e uma falta total de ação. Uma impossibilidade física de produzir, mesmo com toda a matéria prima pronta, organizada na cabeça e energia saindo pelo ladrão. Falta aquele clique que desencadeia o desenrolar dos acontecimentos. Mas, não clicamos. Adiamos. Não dá trabalho algum, mas não clicamos. Não agimos, não fazemos o que temos e queremos fazer.

A ansiedade aumenta, o bolo no peito sufoca, porque falta-nos a ação. Como se o nosso corpo não obedecesse ao comando. Uma agonia perturbadora que pode chegar a extremos.

O cobrança por alto desempenho tem nos levado a quadros de ansiedade capazes de nos tirar o impulso de agir até mesmo para buscar ajuda . Além da cobrança do mercado de trabalho temos, mais importante do que essa, a nossa própria cobrança interna, não raro, ainda mais cruel.

Esse compromisso compulsório com algo que nem sabemos direito o que é, está presente o tempo inteiro, diariamente, em todos os campos de atuação, nos fazendo adoecer e causando, muitas vezes, distúrbios incapacitantes. A ansiedade paralisante é apenas uma delas.

Gera uma inquietação onipresente e oculta, que sempre tem como subproduto cumulativo as crenças negativas sobre si mesmo, que subtraem porções significativas de nossa qualidade de vida e saúde, a cada minuto. 

Não existe um motivo evidente que, por si só, justifique o estado permanente de tensão. Mas, ele está lá, atrapalhando, incomodando e, às vezes, paralisando. Uns dizem que é medo do sucesso, outros que é medo do fracasso. E, por aí, se desenvolvem milhares de teorias que vendem como água no deserto, sob a forma de literatura de autoajuda.

O compromisso com o desempenho, em todos os aspectos, que nos é imposto por todos os lados reais e virtuais, é algo terrível que pode nos empurrar para uma vida muito pesada e difícil.

Precisamos deixar de lado essa cobrança cruel e desumana que a "sociedade", essa entidade fantasmagórica que age nas sombras dos nossos próprios pensamentos, nos impõe. 

Quanto menor nosso autoconhecimento maior será essa influência negativa, se manifestando nas várias formas desse transtorno paralisante. Ele pode chegar a níveis literalmente insuportáveis. Por vezes, até respirar fica difícil.

Quanto maior nosso autoconhecimento, autoestima,  ferramentas psicológicas aprendidas e nossa rede de apoio humano, menos esse condicionamento social cruel e determinante nos influenciará.

Ainda bem que vivemos em tempos onde as terapias oferecidas pela neuro-psicologia já nos oferecem recursos para transformar toda essa agonia e ansiedade em crescimento, evolução e qualidade de vida.

A boa notícia é que existe saída.


 - Edmir Saint-Clair

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QUEM TEM SAUDADE DO MERTHIOLATE ARDIDO?

 

Acho fantásticas as oportunidades únicas que as mídias sociais nos proporcionam para observar o comportamento humano. Não existe lugar onde as pessoas se exponham mais. Conheço pouquíssimas que conseguiram se manter à parte até agora.

Hoje, é a principal fonte de dados sobre hábitos, comportamentos e opiniões. Não fossem as limitações impostas pelos famosos algoritmos que limitam o alcance de cada perfil, os institutos de pesquisas nunca mais teriam que sair às ruas. 

Quem estuda para entender sobre pesquisa e estatística, sabe como interpretar esses dados, podendo-se chegar a saber até a cor da roupa de baixo que a pessoa usa, quantas vezes por dia vai ao banheiro ou bebe água.

Tenho algum conhecimento técnico de como tabular e interpretar pesquisas, por ser publicitário e escritor, e isso tem uma valia inestimável para subsidiar meus trabalhos.

Dentre algumas postagens recorrentes, uma tem me chamado a atenção em especial: a exaltação das surras de cinto, de sandálias, tapas e outras lembranças da truculência e agressividade de certas práticas "educacionais" praticadas até poucos anos.

Causa-me estranheza a que ponto chega o saudosismo e a melancolia de alguns. Além, é claro, da falta de conhecimento sobre os incríveis avanços da ciência em todos as áreas do desenvolvimento humano.

Nunca pensei que veria meus contemporâneos se tornarem tão reacionários e resistentes a passagem do tempo, aos avanços dos conceitos, costumes e entendimentos sobre os processos que nos constituem, a ponto de fazerem declarações louvando surras de cinto e outras barbaridades praticadas e que, graças a evolução dos conhecimentos, foram banidas da esfera do aceitável.

As mesmas pessoas que proclamavam a paz e o amor no final do século 20, hoje, se dizem saudosas das surras de sandália ou de um tapa estalando na pele. Cadê a paz e o amor, principalmente com os filhos? Era só modinha? Parece que no Brasil, era sim.

Quando vejo as surras com sandálias, cintos e varas sendo consideradas e saudadas como “ferramentas educacionais” que fazem falta "hoje em dia", sinto muito mais pena do que raiva.

Quem tem saudade de um tempo em que apanhava com aqueles apetrechos é porque deve estar, atualmente, apanhando muito mais dolorosamente da vida. Deve estar se sentindo tão excluído do mundo, que o ruim de ontem lhe parece melhor do que a vida lhes oferece hoje.

A raiva deve ser tanta que o desejo é sair dando porrada em tudo que lhes desagrada, pela solidão que a evolução lhes impõe, por não conseguir compreendê-la.

 Mas, essa obsolescência tem cura; o conhecimento e a autodeterminação.  

Há sempre coisas novas a serem descobertas, coisas interessantes, sejam quais forem os interesses.

Novidades estão sendo criadas, descobertas e pensadas todos os dias. E, não existe melhor forma de manter a importância da vida do que se importar com ela, do que cultivar a curiosidade. Do que continuar tendo a sede de saber os porquês.

A vida só se importa com quem se importa com ela.

A certeza é a pior inimiga da evolução. Quem acumula muitas certezas e não deixa espaço para novas dúvidas e mudanças, se torna obsoleto.

O obsoleto não tem mais importância, não tem serventia e já não conta mais, é carta fora do baralho.

Deve ser muito triste se sentir obsoleto, que é a mais dolorosa característica de quem perde o trem da história; a inutilidade existencial.

Para esses, a passagem do tempo arde muito mais do que o mais ardido dos merthiolates de antigamente. 

 - Edmir Saint-Clair



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PRECISANDO VER SESSÃO DA TARDE

 

 Estava mesmo precisando ver uma Sessão da Tarde. 

Não estou falando do programa da Globo que deu origem ao que, hoje, é um rótulo cinematográfico brasileiro para designar produções açucaradas e fantasiosas. Em tempos de streaming, filme tipo Sessão da tarde pode ser em qualquer horário. Basta ser um daqueles em que o bem vence o mal, a amizade vence o egoísmo e o amor vence tudo.  A gente precisa disso, de sonhos, de esperança e de utopias ingênuas e aleatórias.

 É assim que nós, seres humanos, conseguimos nos reabastecer de esperança para continuar nossas batalhas pessoais, superpotencializando nossas qualidades e projetando-as em heróis e heroínas, que são tudo que não conseguimos ser em nosso dia a dia. E, já que a neurociência caminha para provar que realidade é uma “produção cinematográfica” original e única, do cérebro de cada um de nós, às vezes, é preciso fabricar ao menos a ilusão de um final feliz, embarcando na beleza dos contos, quase infantis.

 É a nossa hora do recreio na vida, um intervalo na realidade, onde brincamos e nos reabastecemos de sonhos e nos permitimos viver mais leves, provando que todos nós, no fundo, ansiamos pela redenção da vida.

Por aqueles momentos em que temos certeza absoluta de que a vida, às vezes, tem até trilha sonora e que vale, mesmo a pena, ser vivida.

Edmir St-Clair

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1985 - MEU ROCK IN RIO

 Janeiro de 1985. Verão quente, ano novinho em folha e o maior festival de Rock de todos os tempos há pouco mais de uma hora de distância de pular do meu mais improvável sonho para o maior palco que eu já havia visto na minha frente.

Uma linha especial de ônibus foi criada, exclusivamente, para levar o público do festival, coletando-o a partir de vários pontos determinados do Rio de Janeiro.

Eu e uma galera gigante do Leblon, terminamos de lotar um dos ônibus logo no primeiro ponto. A tensão, a expectativa e a proximidade de algo tão especial gerava o tipo de ansiedade mais saudável que existe, aquela que nos faz entender totalmente a expressão "rindo à toa".  No ônibus cheio, os sorrisos à mostra eram tão evidentes, que a impressão é que alguém contou uma hilária e interminável piada. Qualquer movimento virava motivo para uma gargalhada.

Chegamos ao local do festival ainda dia claro, poucos minutos antes dos portões serem abertos. Todos os dias o ritual era o mesmo. Os portões se abriam, passávamos pelas roletas e pela revista da segurança, que só estava interessada em coibir armas e objetos metálicos.

Cigarros podiam, de todos os tipos.

O pôr do sol foi deslumbrante, com ultraleves voando por sobre um público jovem e absolutamente extasiado diante da grandiosidade de tudo em volta. A paisagem, o sol se pondo nas montanhas da cidade maravilhosa e os primeiros acordes da música tema do festival tocando numa altura e qualidade de som que o Brasil nunca havia ouvido.

"Todos numa direção, numa só voz, numa canção

Todos num só coração, num céu de estrelas...

Se a vida começasse agora, se o mundo fosse nosso de vez,

Se a gente não parasse mais de sonhar...de cantar....de viver."

E todos cantavam com a propriedade contagiante e autêntica dos jovens dos anos 1970 e 80, que viviam numa cidade que desejava Paz e Amor e acreditava nisso, por mais ingênuo que, hoje, isso possa parecer.

E, foi nesse clima que assisti a um show mágico e maravilhoso do cantor James Taylor, num sábado ainda sem chuva, num céu completa e absurdamente estrelado, sentado ao lado de dezenas de amigos que ouviram aquelas mesmas músicas, comigo, nas festinhas de adolescentes.

Foi um dos shows mais emocionantes que já presenciei.

Aquela noite, houve uma catarse gigante entre o público e um James Taylor extasiado diante de 250 mil pessoas que cantavam junto suas músicas. Ele estava vindo de um período de declínio acentuado na carreira, e naquela noite, aconteceu sua redenção.

 O sucesso daquela apresentação teve uma repercussão tão grande e impressionante que impulsionou novamente sua carreira, e ele sentiu isso ainda no palco, durante a apresentação.

E externou essa emoção através da sua arte, presenteando o público com uma apresentação emocionada, emocionante e perfeita, e muito mais longa do que o que estava previsto.

Tocou e cantou com o entusiasmo de um iniciante, todos os seus grandes sucessos, não faltou nenhum.

 O que se passou foi sublime, uma poesia em forma de vida.

Público e artista vivendo, durante mais de duas horas e meia, a mesma intensidade de emoções que ficaria, para sempre, na história de ambos.

O primeiro Rock in Rio me presenteou, ainda, com um show inesquecível da banda inglesa QUEEN, onde foi feita a histórica filmagem do coro de mais de trezentas mil pessoas cantando a música “Love of My Life”, perpetuando aquele como um dos grandes momentos da carreira da Banda e do lendário Fred Mercury.

Presenciei ele, e todos os músicos da banda QUEEN, ficarem em absoluto estado de graça e completamente extasiados com o que estavam assistindo. A emoção deles era visível. 

Eu vi, estava lá e cantei junto.

E, no último dia, assisti, pela primeira vez, a banda que mais toca a minha alma: a lendária banda inglesa YES.

A emoção mágica que senti vendo aquela apresentação incrível e deslumbrante, permanece até hoje.

Foi perfeito para fechar o último dia do maior festival de Rock de Todos os Tempos.

Essa é a minha parte da história de um Festival que ficou para a história de muitas e muitas gerações e virou uma lenda no mundo inteiro.

Edmir Saint-Clair

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            Recebi várias manifestações com relação a crônica "Meu Rock in Rio - 1985",

todas tão cheias de lembranças intensas quanto as minhas.

Resolvi fazer uma edição com imagens da época e a música tema.

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O SOFRIMENTO FANTASMA

 


O mundo está em sofrimento. 

O mundo animal e vegetal, aquático e terrestre 

estão degradados, aviltados e estuprados em suas essências.

Bilhões de escravos de poucos senhores. Senhores que também sofrem. Um sofrimento invisível e constante, onipresente e multi-estimulado.

Nossa civilização é nossa principal doença. A ausência de sentido faz milhares de vítimas fatais de si mesmas por dia.

Na era das relações líquidas, que Zygmunt Bauman descreve com tanta precisão, a nuvem de insegurança e medo que sempre pairou sobre a humanidade, cresceu muito e abarcou todos os tipos e níveis de relações, indiscriminadamente. O resultado é a sensação de desamparo absoluto e geral.

Mas, é mais do que isso. Todos sentem, mas não sabem o quê, exatamente,  sentem. Apenas sentem um incomodo terrível e inominável.

Algo concreto e, ao mesmo tempo, muito difuso, quase metafísico.

Não sabemos porque sofremos, apenas sabemos que sofremos. É um sofrimento tão visceral e tão escondido que nunca foi nomeado.

É um sentimento sem nome.

Uma sensação, uma emoção, um estado de angústia que é constantemente descrito, mas que nunca se chegou a um consenso sobre seu nome e aonde se esconde em nós.

E que ninguém conta para ninguém. E todos fingem que não sofrem, porque não sabem que o outro também sofre.

Por ajudar a esconder tudo isso de nós mesmos, é que fazem tanto sucesso os Facebooks, Instagrans, Tik toks, Tinders, WhatsApp e toda sorte de mídias sociais para todas as bolhas e taras.

É muito pesado admitir o próprio sofrimento, é melhor fingir que ele não existe, porque, afinal, nem sabemos porque ele existe e, apesar de seu peso insuportável, não temos forças para arregaçar as mangas, deixar todo o resto de lado e partir em busca de uma solução, qualquer solução, que faça a vida valer a pena.

A admissão de um sofrimento endógeno e inexplicado, que parece ser inato na maioria dos humanos, é um dos maiores tabus da contemporaneidade.

Me arrisco a dizer que esse sofrimento fantasma é a mãe de todos os tormentos.

Será que o âmago dessa questão continua sendo a nossa consciência da própria morte que, por nos causar tamanho pavor, termina por nos impedir de usufruir plenamente o esplendor da vida?

O ser humano não teme apenas a própria morte, teme, também, a morte de tudo e de todos que ama.

É muita morte para temer.

Precisamos nos ajudar a transformar esse labirinto em um caminho apreciável.

E só conseguiremos fazer isso, juntos.

 Edmir Saint-Clair


CONVERSAS NECESSÁRIAS

 

Todos nós temos pendências emocionais e existenciais. Assuntos que nos incomodam muito e que, por isso mesmo, evitamos pensar e abordar.

Algumas dessas questões são com pessoas importantes e queridas em nossas vidas. Importantes demais para que as deixemos se perderem de nós, e nós delas, sem que aconteça uma tentativa de esclarecimento que deixe, ao menos, a alma mais leve. Alguma atitude que nos permita dizer: 

- eu tentei de verdade.

Quantas vezes, nos pegamos divagando numa suposta conversa com aquela ex-companheira(o) com quem vivemos um grande amor, mas tivemos um final confuso e cheio de mal-entendidos. Ou, a conversa com o parente muito próximo, com quem tivemos conflitos nunca esclarecidos. Às vezes, nos afastamos de pessoas queridas por nunca termos tido a iniciativa de ter uma conversa que pudesse trazer luz aquele assunto pendente. Apenas para esclarecer, para clarear a questão e buscar um entendimento. Sem vencidos, nem vencedores.

A vida não é e nunca foi uma competição.

A maioria de nós, tem a tendência a ir acumulando pendências emocionais. Questões mal resolvidas, que foram varridas para debaixo do tapete. Situações espinhosas que nos causam um mal-estar interior. Das quais não nos damos conta, na maior parte do tempo, mas que brotam nos momentos mais improváveis e desagradáveis, sempre atrapalhando alguma coisa boa.

Isso quando não são despertadas já tarde demais, quando já não podemos fazer mais nada.

Situações que poderiam ter sido esclarecidas e não foram, provocam mais que frustação, provocam distanciamento.  E por isso, se retroalimentam, criando distâncias que se tornam intransponíveis. Que ficarão para sempre, nódoas que incomodarão em todo dia branco. Aquela pontinha de espinho que nunca deixa de incomodar.

Uma coisa é certa, não adianta tentar tocar em frente uma relação que sofre com pendências. Não adianta tentar varrer para debaixo do tapete. Porque na vida não tem tapete, e o chão é sempre bem duro. E não tem embaixo, nem em cima, é tudo a mesma vida, uma coisa só. E uma só vez. Não tem reprise, não tem segunda chance.

Não podemos deixar tudo a cargo do tempo. Essas conversas necessárias têm que acontecer, sob pena de se transformarem naquelas terríveis dores nas costas que nos fazem entrevar diante de seu peso invisível. Temos que correr atrás, agir para esclarecer nossos mal-entendidos com as pessoas queridas. Não podemos deixar algo tão importante por conta do acaso. É muito arriscado, a vida é uma só.

O tempo passa sem parar, nem por um segundo, e se deixarmos por conta dele as distâncias podem se alongar até que a possibilidade de volta não exista mais. Não existe relação, em nenhum nível, que não possa ser estragada pela falta de esclarecimentos mútuos sobre assuntos mal resolvidos.

A mágoa deixa marcas, nódoas, cria barreiras e distâncias que o tempo não resolve, ao contrário, só alimenta.

Esclarecer pendências com as pessoas queridas é necessário. O orgulho bobo ou a infantilidade de querer ter razão é algo pouco inteligente e muito, muito prejudicial.  Uma conversa sincera onde a única intenção seja o entendimento mútuo, é o único caminho para que a distância definitiva não se estabeleça.

Poder ver, através do olhar de quem amamos, a nossa versão mais bonita, é um dos momentos mais sublimes e felizes que podemos experimentar na vida.

 Sentir que somos amados por quem amamos é ser feliz.

Diminuir essa possibilidade, através do afastamento de pessoas queridas, é perder um pedaço gigante da felicidade que nos é possível.

Definitivamente, varrer pendências sentimentais, com pessoas que nos são caras, para debaixo de um tapete que não existe, é um erro que pode nos custar muito caro.

Pode nos custar quem amamos. 

 – Edmir Saint-Clair

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