COACH LITERÁRIO

O ORIENTADOR LITERÁRIO é um profissional que acompanha, ensina e participa de todo processo de criação de um livro. Um profissional técnico, especializado em criação, um professor de escrita e um parceiro, ao mesmo tempo. Experimente, é terapêutico e libertador. Perpetue as histórias que só você tem para contar.

O HOMEM QUE MATOU O MINISTRO

Ele desligou a TV do bangalô do resort, deu um soco na mesa de cabeceira e balbuciou:

- Tua hora tá chegando!  Filho da puta!

 O local era extremamente luxuoso, ele nunca havia estado num resort de padrão tão alto. Planejara aquele fim de semana com todo o cuidado e o mais detalhadamente possível. Era seu último ato.

O tempo amanheceu nublado, mas a previsão era de sol no final de semana. Ele saiu para caminhar e fazer um reconhecimento do local. Seus planos haviam sido feitos levando em conta a visualização virtual em 3D que havia no site do resort. Precisava checar com mais precisão, in  loco.

Caminhou até o píer e certificou-se que o iate que seu alvo irá usar está sendo preparado por meia dúzia de funcionários. Essa marina é utilizada pelos proprietários de iates e embarcações de passeio da região. Um local de magnatas, celebridades, profissionais muito bem sucedidos e políticos, juízes e ministros corruptos da suprema corte. Alguns acumulavam mais de uma dessas ocupações.

O ódio não o abandonava, nem quando sentiu o sabor combinado de vinho branco com camarões bem graúdos. A tristeza sobrevinha a qualquer possibilidade de um sorriso. Suas perdas haviam acabado com qualquer possibilidade de que isso ocorresse. De que qualquer coisa boa viesse a ocorrer. A única possibilidade de ainda conseguir sentir algum prazer na vida era através da vingança.

Terminou a taça de vinho e caminhou até um pequeno e charmoso prédio de pedras aparentes com detalhes em madeira rústica, onde se certifica como funcionam as saunas, duchas e salas de massagens.

- Se houver muitas pessoas circulando, aqui não é possível. Pensou.

O restaurante no final do píer principal, debruçado sobre a baía de águas transparentes, só tem uma entrada e saída. Nada feito.

Transmitir ao vivo sua missão era um dos objetivos. Um celular no bolso da camisa faria a transmissão. Ele já havia testado várias maneiras, mas o teste que faria in loco era o mais importante.

Continuou caminhando pelo enorme e luxuoso resort. Foi até as cavalariças, sempre gostou de cavalos.  No píer de pequenos barcos, o hóspede tem à sua disposição Jet-skis, caiaques, pequenos barcos à vela e lanchas menores.

Vários profissionais de cada especialidade são oferecidos para os iniciantes. Seu filho mais velho iria se esbaldar aqui...O ódio só aumentava se misturando com a dor de um vazio  lancinante e intransponível. 

Em qualquer lugar do resort o hóspede pode pedir qualquer coisa que deseje que lhe será servido.

Segunda garrafa de vinho branco. Nada vai tirar seu foco.

Segue até chegar a um pequeno bosque à beira da lagoa,  onde uma pista de terra batida está sinalizada para corridas e caminhadas. A pista toda tem uns 800 metros, em formato oval. Em todo trajeto, muito arborizado, existem bancos e bebedouros. O local é perfeito, como esperava. Existem diversos pontos cegos. O crápula gosta de caminhar e não vai perder a oportunidade de fazê-lo num local tão bucólico e reservado.

Nesse fim de semana não há qualquer motivo facilitador que indique que o resort terá grande movimentação. O preço altíssimo e a situação caótica na qual o país foi lançado, depois que a Suprema Corte começou a emitir sentenças estapafúrdias e inconstitucionais, tornavam aquele local um privilégio para muito poucos, que não tinham vergonha alguma dos atos que praticavam para pagar aquele luxo nababesco.

Foco.

Não podia se deixar levar por pensamentos pouco práticos. Aquele local se confirmou perfeito, mas tem que haver uma segunda opção. Pode chover ou ele pode simplesmente resolver não caminhar.

Voltando até a sede, resolveu que se o ministro não fosse caminhar ele atiraria na oportunidade que tivesse. Não era sua intenção sair vivo dali mesmo. Só queria se certificar de que tinha transmitido a Live dos últimos segundos de vida daquele filho da puta que lhe causara tanta dor. Pensou nos entes que perdera, incluindo a si mesmo e a sua fé. Ele devia aquilo à muita gente querida que não teve chance alguma diante daquela horda corrupta que tomara conta de tudo.

Todos os pensamentos convergiam para o mesmo ponto e alimentavam sua certeza. Percebeu que finalmente sentiria algum alívio na alma atormentada.

No dia seguinte, não acordou com o toque do celular. Era muito mais garantido antigamente, quando as telefonistas dos hotéis faziam o papel do despertador. Olhou a hora e levantou-se assustado. Em segundos, sua adrenalina elevou-se a ponto de ver seu coração pulsando sob a pele. Colocou uma bermuda e a camisa já preparadas, certificou-se que a arma estava carregada e a colocou no espaço entre o cós da bermuda e suas costas. A camisa larga disfarçava perfeitamente. Calçou o tênis e saiu. Antes que chegasse ao restaurante viu o ministro já se encaminhando para a pista de jogging.  Atrasou um pouco o passo para não se cruzarem. Estava suando, mas não estava calor.

Quando chegou à pista o ministro já estava sumindo ao fundo do pequeno bosque, o local estava tranqüilo, sem outros corredores. Não havia seguranças no local. Realmente, pensou, ele se acha acima do bem e do mal. Faz o que bem entende, passa na cara do país e não está nem um pouco interessado em quem sofre as consequências. Não teme nada.

Na pista, tomou o sentido oposto ao do ministro e iniciou sua caminhada final.

Havia meses, que esperava por esse momento que, finalmente,  chegara. Caminhou até que não pudesse mais ser visto da entrada do bosque, tirou o celular, ligou a câmera de vídeo, colocou-a on-line para transmissão da live pelo Facebook, ajustou no bolso preparado e sentou-se.

Não encostou sequer as costas no banco quando o ministro e seu amigo aparecerem saindo da curva. Pensou nos entes queridos e falou, já transmitindo ao vivo:

- Ele se acha um Deus. Vou provar que ele não é.

Quando o ministro estava a cerca de 5 metros ele levantou-se, sacou a pistola, chegou bem perto, olhou fundo nos olhos aterrorizados do ministro e falou:

- É ministro, vamos ver se você é Deus mesmo...

O ministro balbuciou algo ininteligível e babou. Ainda babando e com os olhos arregalados, ficou parecendo ainda mais com um sapo, implorando pela vida. Chorando, urinou-se copiosamente. Tudo mostrado ao vivo naquela live que se tornaria famosa no mundo inteiro.

Ele não falou mais nada. Apenas sorriu como há muito não o fazia e atirou entre os olhos.

O país inteiro comemorou como se fosse carnaval.

- Edmir Saint-Clair

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