COACH LITERÁRIO

O ORIENTADOR LITERÁRIO é um profissional que acompanha, ensina e participa de todo processo de criação de um livro. Um profissional técnico, especializado em criação, um professor de escrita e um parceiro, ao mesmo tempo. Experimente, é terapêutico e libertador. Perpetue as histórias que só você tem para contar.
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O PRIMEIRO DIA DE FÉRIAS

Depois de doze prestações mensais de trabalho quitadas, finalmente, adquiri minhas férias próprias.

Primeira manhã, férias novinhas, zero quilômetro, toda equipada com réveillon, verão e um monte de surpresas que, espero, aconteçam.

Chego à conclusão de que, sem dúvida, o verdadeiro fruto do trabalho são as férias.

Uma vadiagem remunerada, sem culpa, admirada e almejada por todos. Sinto que o cérebro está em festa, sinto-me muito animado.

Vem-me à memória uma frase que não sei de quem é, mas que me representa perfeitamente nesse momento: “Com o coração em festa e a alma a gargalhar”.

Sou o retrato dela nesse momento, num doce balanço a caminho do mar.

O sinal de trânsito demora a abrir, atrasando meu percurso ainda mais ansioso por já estar visualizando a praia.

Tudo bem, o sinal pode demorar o quanto quiser, estou de férias e o   tempo é todo meu.

Não é à toa que, quando os médicos não sabem mais o que fazer por um paciente surtado por causa do stress diário, receitam férias.

Até hoje, a ciência farmacológica não descobriu nenhum remédio melhor. Nem homeopatia, nem shiatsu, nem Rivotril, nem cloroquina; nada substitui as boas e velhas Férias tradicionais.

Deveriam testar uma psicanálise praiana, feita debaixo da barraca de praia e tomando água de coco... quem sabe dá certo? Quem sabe o psicanalista resolve falar alguma coisa e sair daquele silêncio inútil e misterioso?

O melhor dia das férias é o primeiro. Tudo ainda está por acontecer, cabe tudo.

Ainda não existe tempo passado para já haver frustração, só há futuro, só expectativas boas, todas as possibilidades são viáveis.

Quando piso na areia, fico surpreso comigo mesmo, depois de um período de afastamento da frequência na praia, provocado por essa coisa chamada trabalho, seria natural, e de se esperar, um certo período de readaptação a malemolência praiana.

Mas, surpreendentemente, já no primeiro minuto sinto-me totalmente à vontade e com a desenvoltura de sempre.

A praia do Leblon é, literalmente, a minha praia.

A textura da areia, nem muito fina nem muito grossa, é perfeita. A textura da areia das praias dessa orla, do final do Leblon até o Leme, tem uma consistência única. A areia de cada praia do mundo é como uma impressão digital, é exclusiva daquela praia específica.

 A areia encontrada em uma determinada praia é criada pela erosão das rochas em seu entorno. Ou seja, não existe areia igual ao da praia do Leblon e Ipanema, que na realidade são uma só, dividida apenas pelo canal do Jardim de Allah, bem no meio.

Numa rápida passagem de olhos, analiso as condições de vento, do mar e a melhor posição para minha cadeira de praia. Isso tudo exige uma certa ciência, não é para qualquer um, tem que ser da terra, tem que ser minhoco, que é o marido da minhoca, natural da terra.

A praia do Leblon, às terças-feiras de um dia qualquer, é meu paraíso particular. Tem cheiro de férias desde que me entendo por gente.

O mesmo cheiro, a mesma praia, que sempre me fazem ter uma sensação de colo de mãe, ao som do mar que me acalenta. Um carinho da vida, com direito a beijo da brisa suave que sopra, enquanto o vendedor de mate e biscoito Globo, que me vende fiado, enche meu copo de vida. Esse é meu lugar especial no mundo.

Agora me desculpem, com licença porque estou de férias e já escrevi muito.

Tenho mais o que não fazer. 

 - Edmir Saint-Clair

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A COPA DO MUNDO EM CIMA DOS CARROS

    Ano 1970,  Brasil Tricampeão Mundial. O Leblon comemorou entusiasticamente, saindo às ruas a cada partida. Eu ainda era um pré-adolescente, mas as turmas dos mais velhos se reuniam para ver os jogos e a batucada rolava animada. Na partida final, a festa ultrapassou o bairro e se juntou às outras pela cidade toda. A av. Ataulfo de Paiva e a Visconde de Pirajá se transformaram numa enorme passarela da alegria tricampeã! Uma só festa. A turma do Condomínio dos Jornalistas fechava a Av. Ataulfo de Paiva e parava carros e ônibus que passavam buzinando e gritando a senha mágica: “Tri-campeão!”

 Esse grito tomou conta de cada cantinho do Leblon, Ipanema e do Rio de Janeiro inteiro. Bandeiras, faixas, camisas, qualquer coisa verde amarela ou qualquer coisa que tivesse a ver com futebol servia para vestir a cidade tricampeã, o país tricampeão! Foi a primeira vez na vida que vi e vivi a sensação do país inteiro parar. Uma alegria indescritível.

Foi inesquecível. Comemorei em cima do carro do Seu Waldenor, pai da Lena, Tetê e Gugu, em cuja casa uma turma grande de pré-adolescentes assistiu a todos os jogos da Copa de 70, sem mudar a camisa porque estava dando sorte. Além da inédita emoção compartilhada, nas partidas acompanhadas numa TV P&B, ainda tinha aquelas lourinhas lindas. 

Elas moravam no primeiro andar do prédio que fazia esquina da Rua Almirante Pereira Guimarães com Av. Ataulfo de Paiva. A energia era eletrizante naquela minha primeira Copa do Mundo, onde meu interesse já não era só pelo futebol. Deu sorte, tricampeões!

 Seu Waldenor tinha um fusca que, generosa e despojadamente, colocou no meio do trânsito caótico-comemorativo e nos levou pela praia, depois da vitória na final, até a Av. Atlântica lotada e carnavalesca. Eu estava vivendo um dia histórico que ficaria para sempre na memória do país.

No fusca do Seu Waldenor umas dez crianças/adolescentes iam dentro e mais umas tantas iam penduradas no teto, capô e onde desce para se segurar. A velocidade do trânsito era menor do que um velho andando, por isso, não oferecia risco.  Hoje, penso que o carro dele deve ter ficado completamente amassado, amarrotado com tanta gente em cima da lataria. Seu Waldenor era um cara muito do bem, um pai bem legal com os amigos das filhas. Todas lindas. Minhas irmãzinhas para toda a vida, até hoje. Não sei por que, mas, naquele ano, nessas comemorações a moda era ficar em cima dos carros trafegando, mesmo antes da final, as vitórias a cada partida eram comemoradas assim. Alguns carros andavam em velocidade normal, com jovens em cima da lataria externa. Ainda bem que essa moda passou, era muito perigoso. Alguns passavam em velocidade maior, gritando e causando alvoroço.

Moda é uma coisa irracional, sempre foi e cada época tem suas loucuras peculiares. Mas, não me lembro de nenhuma notícia disso ter causado acidentes mais graves, o que é surpreendente.

De lá pra cá, esqueci de muiiitas coisas, menos do time Tricampeão do mundo: Félix, Carlos Alberto, Brito, Piazza e Everaldo; Clodoaldo, Gerson e Rivelino. Jairzinho, Tostão e Pelé.

Foi a primeira Copa do Mundo da qual me lembro perfeitamente. Eu morava no Condomínio dos Jornalistas, no Leblon. Meu pedaço de mundo. Lembrar, às vezes, é tão bom...

- Edmir Saint-Clair

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