O mundo está em sofrimento.
O mundo animal e vegetal, aquático e terrestre
estão degradados, aviltados e estuprados em suas essências.
Bilhões de escravos de poucos
senhores. Senhores que também sofrem. Um sofrimento invisível e constante,
onipresente e multi-estimulado.
Nossa civilização é nossa
principal doença. A ausência de sentido faz milhares de vítimas fatais de si
mesmas por dia.
Na era das relações líquidas,
que Zygmunt Bauman descreve com tanta precisão, a nuvem de insegurança e medo que
sempre pairou sobre a humanidade, cresceu muito e abarcou todos os tipos e
níveis de relações, indiscriminadamente. O resultado é a sensação de desamparo absoluto
e geral.
Mas, é mais do que isso. Todos
sentem, mas não sabem o quê, exatamente, sentem. Apenas sentem um incomodo terrível e
inominável.
Algo concreto e, ao mesmo
tempo, muito difuso, quase metafísico.
Não sabemos porque sofremos, apenas sabemos que sofremos. É um sofrimento tão visceral e tão escondido que nunca foi nomeado.
É um sentimento sem nome.
Uma sensação, uma emoção, um
estado de angústia que é constantemente descrito, mas que nunca se chegou a um
consenso sobre seu nome e aonde se esconde em nós.
E que ninguém conta para
ninguém. E todos fingem que não sofrem, porque não sabem que o outro também
sofre.
Por ajudar a esconder tudo
isso de nós mesmos, é que fazem tanto sucesso os Facebooks, Instagrans, Tik
toks, Tinders, WhatsApp e toda sorte de mídias sociais para todas as bolhas e
taras.
É muito pesado admitir o
próprio sofrimento, é melhor fingir que ele não existe, porque, afinal, nem
sabemos porque ele existe e, apesar de seu peso insuportável, não temos forças
para arregaçar as mangas, deixar todo o resto de lado e partir em busca de uma
solução, qualquer solução, que faça a vida valer a pena.
A admissão de um sofrimento
endógeno e inexplicado, que parece ser inato na maioria dos humanos, é um dos
maiores tabus da contemporaneidade.
Me arrisco a dizer que esse sofrimento fantasma é a mãe de todos os tormentos.
Será que o âmago dessa questão
continua sendo a nossa consciência da própria morte que, por nos causar tamanho
pavor, termina por nos impedir de usufruir plenamente o esplendor da vida?
O ser humano não teme apenas a
própria morte, teme, também, a morte de tudo e de todos que ama.
É muita morte para temer.
Precisamos nos ajudar a
transformar esse labirinto em um caminho apreciável.
E só conseguiremos fazer isso,
juntos.