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OUTRAS VIDAS

 

Um menino de seis anos nascido em Piracuruca, no Piauí, começou a descrever com precisão a vida de um alemão rico que morrera cinquenta anos antes na cidade de Punta del Este, no Uruguai.

O psicólogo Túlio Linhares, da Universidade de Campinas, investigou o caso com rigor científico, viajando três vezes ao local. Confirmou cada detalhe relatado: a casa de três andares à beira da água, a família Schmieden, os negócios de couro, a mala marrom e a morte nos anos 1940. A história tornou-se referência internacional porque desafia as fronteiras conhecidas da memória e da consciência.

A criança e as memórias impossíveis

4.680 quilômetros separam João Benício, uma criança de Piracuruca, no interior do Piauí, da cidade de Punta del Este, no Uruguai. Uma enorme distância geográfica, cultural e histórica. Mesmo assim, o menino começa a descrever com precisão a vida de um homem alemão rico, morto meio século antes de ele nascer, naquela cidade à beira do Rio da Prata.

Ele fala de uma casa de três andares construída sobre a água, com um píer onde barcos atracam. Atrás, haveria uma igreja. Ao lado, a propriedade de uma mulher famosa: Evita Dolores, conhecida na América do Sul e marcada por escândalos judiciais.

O detalhe mais intrigante surge quando o menino menciona a família Schmieden — donos da casa, ligados ao comércio de artigos de couro. João diz que o patriarca carregava sempre uma mala de couro marrom e só passava os verões naquela residência.

O olhar cético da ciência

Nada fazia sentido para seus pais, trabalhadores simples e católicos dedicados, cuja crença não inclui nada parecido com reencarnação. Como uma criança do sertão poderia inventar tais detalhes sobre um lugar que jamais visitara?

Em 1997, o psicólogo Túlio Linhares, da Universidade de Campinas, decide investigar. Cético por natureza, viaja até Piracuruca e entrevista o menino. Com um gravador de mão, anota e grava cada informação: a casa à beira da água, a igreja atrás, a vizinhança de Evita Dolores, a família Schmieden, a mala marrom, a morte entre 1940 e 1941.

Ao retornar ao gabinete, Túlio enfrenta a escolha: arquivar o caso como fantasia infantil ou testar cientificamente as afirmações. Opta pela segunda via.

A primeira viagem: a casa existe

A primeira ida a Punta del Este o surpreende. A residência de Evita Dolores é localizada sem dificuldades. Ao lado dela, exatamente como descrito, surge uma casa de três andares, construída sobre a água, com um píer na frente e uma igreja atrás. Estava abandonada, mas correspondia ponto a ponto à narrativa de João Benício.

Um vizinho idoso confirma: sim, um alemão morou ali décadas atrás. Mas, não havia mais nenhuma informação sobre a família que ali residira. A pista inicial se transforma em um enigma maior.

A confirmação histórica

Em 1998, Túlio retorna ao Uruguai. Consulta historiadores locais, especialistas na memória dos bairros de Punta del Este. Um deles confirma: a casa pertencia a um alemão da família Schmieden, casado com uma italiana, com três filhos. O homem era lembrado por sempre carregar uma mala de couro marrom e só ocupar a residência durante os verões. A família tinha negócios de couro em Montevidéu. A morte, registrada por volta de 1940, coincide com o relato do menino.

O detalhe final reforça o mistério: João Benício dizia que o nome do homem significava “bom homem” em alemão. Pesquisando, Túlio descobre que a expressão existia, usada de forma respeitosa em tempos passados.

A terceira viagem: eliminando dúvidas

Determinando-se a fechar o quebra-cabeça, Túlio viaja uma terceira vez. Investiga registros de comunidades italianas ortodoxas e encontra indícios de que os filhos da família realmente receberam nomes italianos.

O quadro se completa: casa, localização, vizinhança, família, ocupação sazonal, negócios, mala, idioma, nomes. O menino brasileiro havia descrito com precisão elementos que nem mesmo historiadores locais lembravam de imediato.

A repercussão internacional

Os resultados são publicados em periódicos científicos e apresentados em conferências. Ian Stevenson, referência mundial nos estudos sobre reencarnação, elogia o trabalho como “exemplar, detalhado e verificável”.

O caso repercute em debates acadêmicos pelo mundo. Para alguns, é a prova de que memórias extra conscientes existem. Para outros, apenas coincidências estatísticas. Túlio mantém a posição equilibrada: não afirma que João Benício seja a reencarnação de ninguém, mas mostra que há fenômenos que escapam à lógica tradicional.

O ceticismo e a impossibilidade das explicações

Com a fama vêm as críticas. Pesquisadores analisam se a família poderia ter tido acesso a livros ou relatos sobre Punta del Este. Outros buscam conexões ocultas com alemães no Brasil. Nenhuma hipótese encontra sustentação.

A distância de 4.680 km, o isolamento da família no agreste do Piauí e a ausência de interesse em publicidade tornam improvável a fraude ou a coincidência. Para muitos estudiosos, a solidez metodológica do trabalho de Túlio transforma o episódio em um dos casos mais impressionantes já documentados.

O fim das memórias

Como em relatos semelhantes, as lembranças de João Benício desaparecem com a adolescência. Hoje adulto, vive uma vida comum, sem falar do que um dia marcou sua infância.

Na ciência, porém, o caso permanece. Para uns, prova de que a consciência pode sobreviver à morte. Para outros, um mistério ainda sem explicação.

O que se mantém indiscutível é o impacto: um menino pobre do sertão brasileiro descreveu com precisão a vida de um alemão morto a milhares de quilômetros, décadas antes de seu nascimento. E um pesquisador obstinado, aplicando o método científico, confirmou cada detalhe.

Mas o que João Benício realmente reviveu? Uma memória guardada em algum ponto secreto da mente? Uma coincidência impossível? Ou a prova silenciosa de que a vida não termina onde acreditamos que acaba?

A resposta permanece em aberto, perdida entre ciência e mistério — como uma casa abandonada à beira da água, onde ainda ecoam lembranças.

Edmir Saint-Clair  

Disclaimer

Esta é uma obra de ficção literária. Embora inspirada em atmosferas, relatos e mistérios que circulam pelo imaginário humano, não se apoia em fatos documentados nem tem compromisso com a realidade histórica. Qualquer semelhança com pessoas vivas ou mortas, lugares ou acontecimentos, é mera coincidência — ou talvez apenas o eco de outras vidas.


 

O MONGE DE COPACABANA

Jorge havia passado sete anos no Tibet. Não porque fosse um espiritualista nato, mas para fugir de uma grave acusação envolvendo brigas de gangues que haviam culminado em homicídio. Ele não tivera participação direta no evento, mas fazia parte da turma que participou do crime e não tinha como provar que não estava no local no momento do ocorrido. Sem lhe restar esperança, sua família o sugeriu uma fuga para algum lugar onde não pudesse ser encontrado.

Jorge tinha um primo que se tornara, há pouco, monge no Tibet, que lhe ofereceu abrigo até que as coisas serenassem no Brasil. Para um praticante de lutas e frequentador assíduo de brigas de rua ou qualquer coisa parecida, seria uma mudança absoluta e, muitos apostaram, impossível.

Sem opção, Jorge partiu rumo ao Tibet. A caminho do mosteiro onde ficaria hospedado, teve acesso as últimas notícias sobre o julgamento de seu caso. Ele havia sido sentenciado há 8 anos de prisão, em regime fechado. Jorge deu graças a Deus por estar tão longe, não suportaria nem um mês numa penitenciária brasileira. Esse pensamento serenou sua alma.

Sete anos depois, Jorge aterrissa no galeão de volta a sua cidade natal e já resolvido com a justiça brasileira. É seu recomeço.

Sente-se um homem completamente diferente daquele valentão ridículo que fora um dia. Os ensinamentos que recebera o transportaram para outra dimensão dentro de si mesmo. No caminho até a casa dos pais, em Copacabana a primeira coisa que reconheceu foi a decadência do aeroporto, que já estava decadente há sete anos. A segunda, foi o cheiro da baía de guanabara saindo da ilha do governador. Nada mudara, mas, para ele, tudo mudara. Lembrou-se de um dos princípios básicos da sabedoria tibetana: quando você muda por dentro, tudo por fora muda junto.

Era verdade, nada do que via o incomodava mais.

Assim que terminou de tomar o café da manhã de boas-vindas que os pais lhe haviam preparado, resolveu ir até a praia de Copacabana, sua areia natal. Seus novos ares monásticos eram puro êxtase com tudo a sua volta. Os pais, o velho porteiro do prédio, a secretária doméstica que o viu crescer e todos que o viam exclamavam sobre a mudança impressionante que Jorge havia sofrido.

Jorge, a cada observação de alguém, pensava:

“A mudança interior, realmente, provoca muitas mudanças no mundo ao redor."

Chegou na praia, sentou-se, colocou seu celular e sua carteira ao lado e assumiu a postura tradicional de meditação. Havia poucas pessoas naquele dia nublado. Fechou os olhos e, ao som do barulho das ondas, meditou profundamente, Estava em paz.

Quando abriu os olhos, seu celular, sua carteira e toda calma e serenidade, que havia trazido do Tibet, haviam sumido.

Copacabana não é para amadores, nem para monges.

Depois disso, Jorge desistiu de fundar um templo para meditação e abriu mais uma academia de Jiu-Jitsu em Copacabana.

Edmir St-Clair

UM MINUTO

 

De silêncio, de paixão, de prazer. O minuto anterior ao gozo, o gozo, um minuto de êxtase, de felicidade, sem saber onde termina meu corpo e começa o seu. O olhar que muda a vida em um minuto. O minuto feito de sessenta eternidades, mas a eternidade terá sempre o último minuto. Cabe-nos viver intensamente todas as nossas eternidades. Tudo que torna a vida maravilhosa não dura mais que um minuto. Mas a dor é longa, e consome quase todos os nossos minutos. O presente é sempre o minuto seguinte, mas só percebemos depois, não sabemos ser eternos. Mas haverá sempre o minuto seguinte.

O minuto de paz nos teus olhos, no silêncio da noite, no sorriso que brotou espontâneo. O minuto feito de sessenta eternidades. A eternidade antes do primeiro beijo, antes de desvendar teu corpo, antes de poder dizer que te amo, antes de sentir teu amor.

A eternidade depois do último beijo, depois de me acostumar com teu corpo, depois de descobrir que ainda te amo, depois de sentir tua ausência. A eternidade de chorar sozinho, o vazio profundo após a última lágrima.

O último minuto com você, e o desejo desesperado de retornar ao primeiro. Passamos a vida inteira atrás desses minutos, dessas sessenta eternidades, que farão o resto valer a pena. Mas, só percebemos o valor do primeiro quando chegamos ao último, e então já haverão se passado muitas eternidades.

O último minuto em que nos amamos foi feito de sessenta despedidas, todas sem que soubéssemos. E a dor, com o poder que só a dor tem, multiplicou sessenta por sessenta por sessenta eternidades, e ainda estou a espera do último.

Em que minuto te perdi?

- Edmir Saint-Clair

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COMO ENCONTRAR O SEU ANJO – GUIA PRÁTICO




        Todos gostaríamos de ter nosso próprio anjo, exclusivo, nos protegendo, nos acompanhando e fazendo nossa guarda dia e noite.

Com este guia prático você vai ver que isto é possível, basta vencer a barreira do absurdo. Isso é muito fácil, já que ela não existe mesmo.

Para começar a procurar seu anjo faça o oposto, identifique seu demônio particular. Esses dias estressantes facilitam bastante essa tarefa, e a toda hora ele se manifesta. Primeiro, perceba que seu principal antagonista é você mesmo. Somos nossos piores e mais implacáveis sabotadores e críticos. Se a gente pudesse quebrar a própria cara, de vez em quando, não seríamos assim.

Por isso, se não podemos vencê-lo, juntemo-nos a ele, no caso, a nós mesmos. Às vezes, transformamos nossas próprias vidas num verdadeiro inferno, como se estivéssemos com o diabo no corpo, nesses momentos, não vacile, atraque-se com seu capeta e mostre quem manda na porra toda.

A primeira providência é, numa ocasião propícia, convidar seu crítico para conversar. Ofereça-lhe um chazinho, todo crítico adora um chazinho. Durante a conversa, faça-o ver que ele o está se criticando muito severamente e revele a grande verdade, ele é você. No começo ele pode relutar um pouco, mas depois, fatalmente terá que concordar. Ou então, se interne logo porque seu caso está perdido. E, não adianta partir para a agressão, eu garanto que você vai apanhar.

Passada esta fase meio insana, vamos para a segunda etapa.

Que é, ainda, mais insana.

Essa prática seguinte tem suas vantagens. Você pode praticá-la em casa, sozinho, não paga dízimo e não tem sermão de ninguém, nem tem que ler nada. E não precisa ver programa de pastor gritando em canal de televisão.

O incenso é opcional, não é necessário.

Agora vamos lá; na sua sala ou quarto, fique o mais relaxado que puder, sente-se no chão e assuma a posição de Lótus. 

Pode ser também a posição de Ferrari ou McLaren.

Essas posições importadas geralmente são bastante confortáveis. Mas, tem gente que se arranja bem até com a posição Fiat Uno. Tem que ter muito mais flexibilidade, é claro.

Ah, antes coloque um som instrumental que você goste, porque se deixar para colocar depois de fazer a posição escolhida, vai dar o dobro do trabalho.

Comece a pensar em quantos Eus existem em você.

Acesse as memórias de você quando criança, imagine que está se encontrando com ela, com a criança cheia de sonhos que você foi, convide ela para brincar, pergunte o que ela sente, o que ela precisa, o que lhe falta.

Chame seu autocrítico, também, e apresente-o a ele mesmo.  Perceba toda a abrangência de sua própria pluralidade.

Desculpe seus erros, faça um pacto de amizade consigo. Faça a paz entre todos os seus Eus.

Grande parte das pessoas esconde sentimentos de si mesma. Ou seja, nem amigos confidenciais de si mesmos são.

Essa é a pior solidão, a ausência de si mesmo.

Temos que nos aceitar, ficar do nosso lado, isso é fundamental. Mesmo quando não compreendemos por que fizemos aquela merda colossal! Quanto mais difícil é uma situação, mais fortemente precisamos contar com nosso próprio apoio. Sem o acolhimento e a amizade de si mesmo, não há santo, nem anjo, que aguente viver.

Seu anjo da guarda existe e está esperando por esse encontro, há tanto tempo quanto você.

Agora, levante-se e fique bem em frente ao espelho. 

Se olhe com toda a atenção, sem pensar em nada, apenas se olhe, sem pressa, vá se reconhecendo, lentamente, em cada mínimo detalhe, até se enxergar profundamente, com os olhos de sua própria alma.

E, então sorria.

Imediatamente, você verá o seu anjo lhe sorrindo de volta.

- Edmir Saint-Clair


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A PRIMEIRA FORMATURA DA FAMÍLIA

 

Ele nunca vira sua mãe tão feliz. A formatura do irmão mais novo rompia uma histórica limitação familiar que nunca tivera um membro formado na faculdade. A cerimônia prometia ser emocionante e ninguém da família deixara de ser convidado.

Na chegada ao local, estavam todos compenetrados e um tanto constrangidos com o requinte ao qual não estavam acostumados. O padrinho alugara um terno mais caro do que o de seu casamento com a madrinha. Tia Lúcia, a costureira da família, estava orgulhosa do fruto de seu árduo trabalho nos últimos 6 meses. Valera a pena, todas as mulheres da família estavam chiquérrimas.

Ele se sentiu leve e pleno quando viu a família ocupar uma fila inteira no enorme auditório da faculdade. Fora o excesso de perfumes, estavam todos com a alma e o corpo em vestes de gala, para testemunharem aquele evento que realizava a todos.

Quando o irmão mais novo caminhou em sua direção, vestido com a beca dos formandos, teve vontade de soltar o maior grito e abraço que já dera em alguém na vida.

O abraço silencioso e só não foi mais longo porque a organização requisitava a presença dos participantes no palco para dar início a cerimônia de formatura.

Ele se sentou na poltrona ao lado da mãe e, quando as luzes da sala se apagaram, se deram as mãos frias, trêmulas e fundidas na mesma emoção.

E viveram, a família inteira junta, um dos momentos mais felizes que viveram.

Edmir St-Clair

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DESTINO MENINO.

  


 Todo minuto é momento

Um invento, um sentido,

Por fora, por dentro,

É cada segundo, sem tempo,

É quase nada no vento

 

A vida são horas correndo

e se existe ou não um destino,

Ele é só um menino 

                                        que não sabe onde ir

 

A verdade é que nada se sabe,

Se é do errado que se chega ao certo,

Se é para frente, para trás ou para os lados,

Porque não tem lado certo, nem errado

Não tem nem em cima, 

                                            nem embaixo

 

E os minutos continuam correndo,

E a gente sempre mais lentos,

Sem saber para que andar

Já que é o tempo que nos carrega

Até onde quiser nos levar

 

A mim, que me leve 

                                em qualquer pé de vento

Para um tempo que seja de amar.


– Edmir Saint-Clair


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FERA




 Destruir o berço, a mata, a essência,

Que acalenta, com sons , cores e frutos

O futuro que é da vida, não nos pertence.

 

Matar a mãe, cuspir no prato que o alimenta,

Suicidar-se, matar o futuro que é do filho,

Da beleza, do sonho, de todos que ainda virão.

 

A ganância, grande herança do nada,

Nos torna cegos, sem ver belezas

E rezamos, infiéis hipócritas,

Carrascos do ventre que nos gerou.

 

E perdidos os homens, tão sem caminho,

Se matam, matando tudo, seu próprio ninho.

Natureza que cria, que cura, que chora,

Pelo filho que lhe devora as entranhas.

- Edmir Saint-Clair

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O MISTÉRIO DO METEORITO EL ALI CONTRABANDEADO PARA A CHINA

Revisão e adaptação Edmir Saint-Clair a partir de matéria da Scientific American

O IMPACTO

Milênios atrás, um fragmento do céu cruzou o leste da África.

Nascido da colisão de asteroides antigos, o meteorito caiu com mais um baque do que um estrondo em um vale árido, onde hoje camelos pastam perto da vila de El Ali, na Somália.

Chamado pelos locais de Shiid-birood — “a rocha de ferro” — o meteorito El Ali pesa 13,6 toneladas de ferro e níquel.

Por gerações, foi um marco. Inspirou canções, lendas e poemas.

Uma delas conta que o vale era um paraíso verde até que seus habitantes deixaram de acreditar em Waaq, o deus local, que os puniu lançando pedras vulcânicas.

O meteorito teria sido o último aviso de sua ira. Durante séculos, moradores o martelaram, arrancando flocos metálicos ou afiando lâminas. Crianças o montavam como se fosse um cavalo. Até que, um dia, o céu foi roubado da terra.

O DESAPARECIMENTO

Hoje, o El Ali está longe de casa.

Vídeos tremidos mostram a rocha armazenada na China, onde negociantes tentam vendê-la por milhões — inteira ou em pedaços. Como chegou lá? A trajetória do nono maior meteorito do mundo envolve contrabando, corrupção e morte.

Em agosto de 2025, o Ministério da Cultura da Somália apelou à UNESCO, pedindo o reconhecimento do meteorito como patrimônio nacional e sua devolução. A resposta ainda não veio. O destino da rocha cósmica é um ponto de interrogação.

O ACHADO E A COBIÇA

Durante décadas, a pedra foi ignorada por todos, exceto pelos pastores que viviam sob sua sombra. Na Segunda Guerra, o exército italiano quis removê-la; depois, a ONU e grupos locais tentaram o mesmo. Mas a vila resistiu — até 2019.

Naquele ano, caçadores de opalas encontraram o meteorito e o relataram à Kureym Mining and Rocks Company, empresa de mineração sediada em Mogadíscio. Retiraram uma amostra de 90 gramas, apelidaram-na “Nightfall”, enviaram para Nairóbi — e confirmaram o óbvio: era uma rocha extraterrestre.

A GUERRA CHEGA AO CÉU

Em fevereiro de 2020, o meteorito foi removido de El Ali. A região é dominada pelo grupo extremista al-Shabaab, afiliado à al-Qaeda. Relatos falam em tiroteios e mortes durante a extração; outros chamam de exagero. O certo é que, pouco depois, a rocha foi levada à cidade de Buq Aqable e vendida à Kureym por cerca de US$ 264 mil.

Durante o transporte para Mogadíscio, o caminhão foi interceptado por forças do governo. O meteorito foi apreendido e analisado pelo geólogo Abdulkadir Abiikar Hussein — mas, misteriosamente, sumiu novamente. Em dezembro de 2020, estava de volta às mãos da mineradora.

A CIÊNCIA E A SOMBRA

Em 2021, o pesquisador Nicholas Gessler e o geólogo Chris Herd, da Universidade de Alberta, receberam amostras da rocha. Eles acreditavam colaborar com um estudo legítimo. Não sabiam que a pedra trazia o cheiro do sangue e da pilhagem. Suas análises revelaram três novos minerais nunca vistos na Terra — elaliíta, elkinstantonita e olsenita.

O El Ali pertence à classe IAB, formada por colisões no cinturão de asteroides entre Marte e Júpiter — mares de magma metálico onde a química do cosmos se reinventou. “É um achado cientificamente extraordinário”, disse Herd. “Mas o contexto ético é desconcertante.”

O CONTRABANDO

Gessler se tornou um detetive cósmico. Rastreou vídeos, mensagens, documentos. Descobriu que, no fim de 2022, o meteorito foi embarcado em Mogadíscio e, meses depois, desembarcou na China.

Hoje, acredita-se que esteja em Yiwu, província de Zhejiang, sendo vendido por US$ 200 o quilo — ou US$ 3,2 milhões pelo bloco inteiro.

“Foi uma operação de saque cultural, disfarçada de negócio legal,” declarou Dahir Jesow, deputado somali. A documentação da Kureym teria sido emitida a posteriori, apenas para cobrir o roubo.

COLONIALISMO CÓSMICO

Não é a primeira vez que o céu é saqueado. Em 1897, o explorador americano Robert Peary levou três meteoritos da Groenlândia — vendidos ao Museu Americano de História Natural por US$ 40 mil. Quatro inuítes que o acompanharam morreram de tuberculose em Nova York.

A história se repete: a curiosidade científica como pretexto para a pilhagem.

AS LEIS DO VAZIO

As leis sobre meteoritos são um labirinto. Nos EUA, pertencem ao dono da terra; em áreas públicas, ao Smithsonian. A Convenção da UNESCO de 1970 tenta regular o comércio de artefatos culturais — mas a Somália não é signatária. A região de El Ali é regida pela Sharia, e estudiosos nem sabem como a lei islâmica interpreta meteoritos. Se a UNESCO reconhecer o El Ali como patrimônio somali, sua venda se tornará ilegal. Até lá, o comércio continua.

O MERCADO DAS ESTRELAS

O tráfico de meteoritos cresce como um novo ouro negro. Entre 2019 e 2021, autoridades chinesas apreenderam toneladas de rochas extraterrestres contrabandeadas da África.

“A preocupação é que o El Ali seja moído em chaveiros”, lamenta Gessler.

A Kureym tenta vender o meteorito de volta ao governo somali — única forma de legitimar o retorno. O Museu Nacional da Somália, reaberto em 2020 após trinta anos de guerra, sonha em recebê-lo sob um suporte reforçado.

“Seria o orgulho do país”, diz o geólogo Hussein.

ENTRE O CÉU E O ESQUECIMENTO

Mesmo que volte, nada garante sua segurança.

“Seria melhor que uma organização internacional o mantivesse até que a Somália esteja estável”, diz Dalmar Asad, porta-voz de direitos humanos.Por ora, o meteorito permanece no limbo, distante de casa — tão longe quanto quando vagava entre Marte e Júpiter. Talvez sua lição mais profunda não seja sobre ferro ou fósforo, mas sobre a natureza humana: que até o céu, uma vez tocando a terra, pode ser contaminado pela ganância.

“Não queremos enxergar a realidade do problema,” diz a cientista planetária Hasnaa Chennaoui Aoudjehane, da Universidade Hassan II de Casablanca.

“Porque, se o fizermos, haverá muito menos material para estudar.”

                                                ***************

A Caçada ao Planeta Nove. Robin George Andrews; janeiro de 2025. ScientificAmerican.com/arquivo

 Nota do Editor (26/09/2025): Texto revisado para corrigir imprecisões geográficas e citações de Nicholas Gessler.

 

MISTÉRIO NO LEBLON

 
 Rio de Janeiro - Bairro do Leblon,
início do outono, 20h55m.

Eu acabara de sair da academia Lucinha & Cláudio, atravessara a Rua Humberto de Campos, na direção da Rua José Linhares, que fica a menos de 50 metros. Estava dobrando a esquina, quando vi uma senhora idosa vindo na direção contrária. Ela dá uma topada na calçada, se desequilibra e começa a acelerar o passo descontroladamente. Ela vai cair.
Corro em sua direção para tentar ampará-la mas, antes que chegasse perto o suficiente, surge do nada uma mulher muito esguia de cabelos pretos, curtos, e a segura, colocando-a de pé e sumindo novamente.

Tudo não durou mais do que fugazes 3 segundos.

Fiquei petrificado com a cena. Senti-me muito estranho, um desconforto cerebral extremamente desagradável, como se tivesse levado uma pancada forte na cabeça. Senti uma confusão agoniante, uma perda da noção do que era ou não realidade. Como uma pane inexplicável no meu sistema mental...

Como alguém aparece e desaparece do nada? Sim. Ela não surgiu e foi embora correndo ou sumindo de forma gradual, como é natural acontecer. Ela apareceu e desapareceu, como um flash fotográfico.

A Senhora Idosa estava atônita e tão perplexa quanto eu. Quando conseguimos trocar olhares, foram de puro espanto!

Aproximei-me dela um pouco mais e perguntei-lhe o que tinha acontecido. Ela me relatou, exatamente, a mesma coisa que eu havia visto. Utilizando, inclusive, as mesmas expressões como “apareceu do nada" e “Desapareceu do nada”.
Ela relatou o que eu tinha presenciado com a mesma precisão de detalhes que eu percebera. Ou seja, quase nenhum, já que a velocidade do evento, foi como se alguém tivesse colocado um vídeo em câmera acelerada.

Logo percebemos que havia uma prova física e inequívoca do ocorrido: a Sra. Idosa estava usando uma blusa branca de mangas compridas e, nela, estavam estampadas visivelmente, duas marcas de mãos onde o “ser” a segurara. Perfeitamente visíveis e brilhantes.
Nós dois olhamos para as marcas e, em seguida, um para o outro, ainda com expressões de absoluta incredulidade.

Percebi que havia testemunhado algo fantástico e extraordinário, e que não haviam palavras que pudessem descrever aquele flash inacreditável.
Ficamos em silêncio, eu e a Senhora Idosa, tomando fôlego e reiniciando os pensamentos. Pouco depois, seguimos caminhando, lentamente, até a entrada do prédio para onde ela estava indo. Ambos no mais absoluto silêncio, em choque.
Despedimo-nos pelo olhar, sem trocar mais nenhuma palavra, ainda visivelmente desconcertados. Não havia nada o que falar. Nossos olhares se acenaram, confirmando a cumplicidade que havia acabado de nascer. Nunca mais a vi e nunca soubemos o nome um do outro. E Nunca entendi o que havia acontecido.


- Edmir Saint-Clair





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VIDA EM MARTE?

 

Marte - Perseverance 

        Entre relatórios da NASA, anunciados cerimoniosamente há poucos dias, e a imaginação humana, surge novamente a pergunta que atravessa gerações: estamos sozinhos?

    Em 1976, duas sondas da NASA — as Viking 1 e 2 — tocaram o solo marciano carregando a expectativa de um planeta que talvez não fosse apenas deserto e poeira. Entre vários experimentos, um deles chamou atenção: a liberação de gases que só poderiam ser explicados por processos de origem biológica. A descoberta, porém, foi abafada pelo ceticismo da época. Classificou-se como “dado inconclusivo”, e a humanidade seguiu em frente, de olhos voltados para outras promessas.

Quase cinquenta anos depois, essa chama esquecida volta a acender. Pesquisadores revisitaram os mesmos dados, desta vez com ferramentas que não existiam no século passado: modelos de inteligência artificial e simulações de alta precisão. Os sinais de vida estão muito mais claros agora com o avanço da tecnologia e das IAs, tão impossíveis de ignorar que provocaram um comunicado oficial da NASA, lido pelo próprio administrador master da agência espacial americana.

        A prudência científica exige cuidado: não se trata de formas de vida complexas, mas da possibilidade de micro-organismos resistentes, guardados no subsolo marciano. A mera hipótese, contudo, já é suficiente para incendiar a imaginação. Afinal, se a vida não é privilégio da Terra, talvez seja tendência natural do universo.

A repercussão transcende laboratórios. Para alguns, seria a maior descoberta da história humana. Para outros, apenas um passo no longo caminho da dúvida. A comunidade científica prefere esperar: a missão Mars Sample Return (MSR), programada para trazer à Terra fragmentos de Marte, promete respostas mais definitivas.

Até lá, restam perguntas. O que muda em nós se confirmarmos que a vida floresceu em mais de um canto do cosmos? Como nos enxergaremos no espelho da história onde sempre nos colocamos como “os únicos”?

        Entre ceticismo e entusiasmo, a notícia reacende algo que a humanidade nunca deixou de carregar: o fascínio pela possibilidade de não estarmos sós. Ao mesmo tempo em que o planeta vermelho, com seu silêncio mineral e horizonte sem fim, segue como palco de uma de nossas mais antigas fantasias científicas: a existência de vida em Marte.

Edmir Saint-Clair