ORIENTADOR LITERÁRIO

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UM MINUTO

 

De silêncio, de paixão, de prazer. O minuto anterior ao gozo, o gozo, um minuto de êxtase, de felicidade, sem saber onde termina meu corpo e começa o seu. O olhar que muda a vida em um minuto. O minuto feito de sessenta eternidades, mas a eternidade terá sempre o último minuto. Cabe-nos viver intensamente todas as nossas eternidades. Tudo que torna a vida maravilhosa não dura mais que um minuto. Mas a dor é longa, e consome quase todos os nossos minutos. O presente é sempre o minuto seguinte, mas só percebemos depois, não sabemos ser eternos. Mas haverá sempre o minuto seguinte.

O minuto de paz nos teus olhos, no silêncio da noite, no sorriso que brotou espontâneo. O minuto feito de sessenta eternidades. A eternidade antes do primeiro beijo, antes de desvendar teu corpo, antes de poder dizer que te amo, antes de sentir teu amor.

A eternidade depois do último beijo, depois de me acostumar com teu corpo, depois de descobrir que ainda te amo, depois de sentir tua ausência. A eternidade de chorar sozinho, o vazio profundo após a última lágrima.

O último minuto com você, e o desejo desesperado de retornar ao primeiro. Passamos a vida inteira atrás desses minutos, dessas sessenta eternidades, que farão o resto valer a pena. Mas, só percebemos o valor do primeiro quando chegamos ao último, e então já haverão se passado muitas eternidades.

O último minuto em que nos amamos foi feito de sessenta despedidas, todas sem que soubéssemos. E a dor, com o poder que só a dor tem, multiplicou sessenta por sessenta por sessenta eternidades, e ainda estou a espera do último.

Em que minuto te perdi?

- Edmir Saint-Clair

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MUITO ALÉM DO PRÓPRIO UMBIGO

 

     “Não sei como será a terceira guerra mundial, mas sei como será a quarta: com pedras e paus.” Albert Einstein

        Além da Rússia, dos Estados Unidos e de todas as potências europeias, a China também está no cenário bélico atual de maneira cada vez mais insidiosa — o que pode levar o mundo a um ponto ainda mais crítico na tensão em torno de uma guerra atômica. Ou evoluímos, ou, não sei não... pode dar merd4.

As tensões internacionais têm aumentado de forma perigosa e, sem ser alarmista, de uma maneira assustadora e rápida, contrapondo, como nunca antes, forças atômicas capazes de aniquilar a vida no planeta. Todas as potências nucleares do mundo estão em rota de colisão — e algumas já colidindo.

Vem-me à cabeça um pensamento que me acompanha há décadas. Na verdade, é um raciocínio em que comparo o estágio evolutivo-civilizatório humano com as etapas da vida de um indivíduo comum.

É simples: tomo por base o surgimento do Homo sapiens, que corresponderia ao nascimento de um indivíduo, e as eras seguintes da evolução da espécie seriam os diferentes estágios do crescimento humano. Ou seja: primeiro aprende a se levantar e ficar ereto, depois a andar, a falar, a se comunicar; depois entra na primeira infância, adolescência, juventude, maturidade — até chegar ao estágio máximo de progresso intelectual possível ao tempo de vida de um ser humano.

Por isso, para alcançar a era da sabedoria — que corresponderia à fase madura da evolução de um indivíduo — só será possível se a humanidade a alcançar como um todo.

É preciso que todos a alcancem de forma universal, o que só é possível através das contribuições individuais — e que delas se beneficiem de forma integral, pessoal e social.

Como resultado de um progresso construído pela humanidade como um todo, ao longo de milhares de anos, por caminhos abertos por todas as gerações precedentes, que foram deixando seus legados para que as gerações seguintes agregassem suas contribuições individuais e, assim, garantissem a continuidade dos avanços e conquistas.

Para que isso aconteça, temos que resolver a intrincada — e, até agora, insolúvel — equação de satisfazer a todos e a cada um, ao mesmo tempo. Não só para os humanos, mas incluindo todo o planeta.

Na minha aleatória opinião, a humanidade ainda está no início da adolescência: medindo forças, tamanhos, pesos, testando limites e desafiando a morte — briguentos, inconsequentes, irresponsáveis e loucos. Governados pelos hormônios. Vivendo como se não houvesse nem amanhã nem gerações futuras que terão que arcar com as nossas inconsequências.

A lei do humano mais forte é ainda mais cruel e impiedosa que a da natureza. Porque, entre os homens, as armas modernas — ditas convencionais — multiplicaram covardemente seu poder de matar indiscriminadamente populações inteiras e de destruir países e seus povos. Isso sem falar no pesadelo das armas atômicas!

Mesmo vivendo cada vez mais, poucos conseguem chegar ao estágio da maturidade, por falta de conhecimento sobre si mesmos e sobre a vida.

Porque não se importaram com o que é mais importante.

A maioria só envelhece — sem nada ter aprendido ou acrescentado.

Sem ter contribuído para a evolução da espécie.

Submergem na mediocridade, sem questionamento algum, apenas seguindo o rebanho — sem nada de pessoal a acrescentar.

Todos nós fazemos parte dessa jornada rumo à era da sabedoria, e todos temos como tarefa dar nossa contribuição pessoal para que tudo continue caminhando... e a contribuição de cada um — só esse “um”, individualmente — poderá dar.

Cada um de nós é original e único, e carrega em si uma pequena, mas insubstituível, peça do complexo quebra-cabeça da existência.

Mas poucos conseguem entender que o sentido da vida vai muito além... do próprio umbigo.

Edmir Saint-Clair


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AMAR E SER FELIZ - (Felicidade, desesperadamente)



           Fruto do mais legítimo acaso, caiu-me nas mãos um livro particularmente necessário para mim, naquele momento.

Identifiquei-me profundamente com os pensamentos ali expressos. Trata-se da transcrição de uma palestra do filósofo francês contemporâneo André Comté- Sponville.

 O nome do livro é Felicidade, desesperdamente.

Ele faz um passeio pela história da filosofia, e através da ótica de várias escolas filosóficas, discorre sobre as emoções humanas e, mais particularmente, sobre como o sentimento que chamamos de amor afeta diretamente nossos pensamentos e ações.

O livro me fez compreender o que sempre pensei e nunca havia conseguido enunciar e entender de forma tão clara e objetiva.

A identificação com a condução do raciocínio em torno do tema proposto pelo escritor foi completa. A primeira coisa que me fez ver, é que eu havia, finalmente, compreendido o que é amar de verdade, para mim. Não no sentido de intensidade, mas, no sentido de profundidade e amplitude. E, principalmente, no sentido da ação.

O amor saudável é aquele que desperta, espontaneamente, nossas melhores características pessoais. O lado mais humano, amigo, parceiro. É o que provoca a atitude de fazer o outro feliz em cada interação. É o cuidado de utilizar a percepção, que a sintonia com a pessoa amada provoca, para chegar aos mais deliciosos, profundos e nobres requintes do amor. 

E, por causa dessas atitudes bonitas para com o ser amado, nos vemos mais bonitos, iniciando um ciclo muito saudável. Nossa autoestima aumenta, o que nos faz amar o amor que sentimos pela outra pessoa. E, esse ciclo se estende ao sermos retribuídos e, por isso, amamos ainda mais a pessoa que nos faz sentir todo esse prazer de viver. Isso aumenta e se fortalece a medida em que transformamos esse amor em novas atitudes, nos fazendo capazes de sentir felicidade pela felicidade do outro.  Isso vai aprofundando cada vez mais um aspecto extremamente acolhedor e compensador numa relação: cultuar as afinidades.

Cada um do seu jeito, com as suas verdades. Unidos apenas pela felicidade de estar juntos. Pela alegria e o prazer que o amor pode proporcionar. 

É preciso aprender a amar saudavelmente e isso leva tempo. E, na maioria das vezes, dói aprender.

 A felicidade não existe para o amor dos imaturos, do desejo egoísta que quer o objeto porque não o tem. Do que quer a posse, o controle, o poder de manipular o outro através dos sentimentos.

Estes estão condenados a infelicidade.

Acredito no amor saudável que traz consigo a possibilidade real de felicidade. Que nos faz sentir alegria apenas com o pensamento de que a pessoa amada existe, e também nos ama. A simples ideia da existência do outro já é razão de se sentir alegria.

No amor saudável não existe posse. Existe desejo.

Não existe obrigação. Existe vontade.

Cada encontro acontece porque o desejo impulsionou. Porque traz prazer e alegria. Resultado de elementos químicos secretados se combinando e produzindo sinapses que inundam o cérebro com sensações arrebatadoras e quase incontroláveis. É o impulso do desejo no seu estado mais primitivo.

Quando este estado é potencializado pela sensação de se sentir o objeto de desejo do nosso objeto de desejo o prazer é indescritível, é o momento mais mágico da vida.

O amor saudável é capaz de produzir a sensação de felicidade além da própria felicidade; é o sentir felicidade pelo felicidade do outro tornando-a parte integral da nossa própria e assim, duplicar as possibilidades e a intensidade das felicidades compartilhadas. 

Dito dessa forma parece simples. Mas, definitivamente não é.

Exige muito aprendizado e vontade de ser e fazer a nossa vida e a de quem amamos, ser uma caminhada que valha a pena ser compartilhada.

- Edmir Saint-Clair


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