ORIENTADOR LITERÁRIO

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LIVRE-ARBÍTRIO — SIM, NÃO… OU TALVEZ?

        Os neurocientistas dizem que nossas decisões são tomadas milissegundos antes de acharmos que decidimos. Ou seja: o cérebro escolhe primeiro, e depois a gente inventa uma justificativa bonitinha para parecer autor da história. Livre-arbítrio ou marketing pessoal do córtex pré-frontal?

Os filósofos, por sua vez, se dividem entre os que acreditam que somos senhores do nosso destino e os que acham que estamos apenas cumprindo o roteiro de um universo irônico e com péssimo senso de humor.

Com certeza, o livre-arbítrio não é um botão "liga/desliga". Depende do pensamento, do trabalho do cérebro. Envolve genética pessoal, ambiente cultural e mais todas as crenças que formam um indivíduo.

Compartilho da desconfiança de que seja uma espécie de músculo da consciência, que a gente vai desenvolvendo — ou atrofiando — ao longo da vida. Um viés evolutivo que nos torna cada vez mais humanos.

Talvez, em vez de perguntar "existe ou não?", a pergunta mais importante deva ser:
Quanto você já conquistou de autonomia sobre si mesmo?

Porque todo mundo quer liberdade. Mas poucos topam pagar o preço: autoconhecimento, responsabilidade e aquele silêncio incômodo de quando você para de culpar o mundo e se depara com a responsabilidade sobre as próprias decisões.

Penso que, talvez, o livre-arbítrio não seja simplesmente um dom humano e, sim, uma conquista.

A resposta a essa pergunta tem consequências muito profundas — e bem mais determinantes do que podemos supor à primeira vista.

Edmir Saint-Clair 


CONVERSAS NECESSÁRIAS - À VENDA



 

CONVERSAS NECESSÁRIAS

Memórias, Contos e Ensaios 

Há histórias que entretêm. Outras, que inquietam.
E há aquelas que nos encontram — 
no silêncio de uma lembrança, no espanto 
de uma revelação, ou naquele instante 
em que tudo parece fazer sentido.
“Conversas Necessárias” é um convite 
ao leitor que busca mais do que palavras:
busca entendimento, evolução e autoconhecimento.

Crônicas reais, contos fantásticos e ensaios filosóficos se entrelaçam 

neste livro que percorre o vivido, o imaginado e o pensado — 

com lirismo, ironia e profundidade.

Porque há conversas que mudam o mundo. 
E outras, que mudam a gente.


 

O SEGREDO

 

 O avô era um homem discreto, de poucas palavras e muitos silêncios. Tinha uma elegância natural e um senso de humor refinado, mas só se revelava a quem estivesse disposto a escutá-lo com atenção. E, nos últimos tempos, quase não tinha com quem falar. Sua vida regrada, metódica e correta não despertava a curiosidade de ninguém.

 Foi casado com a mesma mulher por mais de cinquenta anos, criou três filhos e aposentou-se como funcionário público. Para quem o conheceu superficialmente, era só isso: um bom homem, trabalhador, marido fiel, pai dedicado e avô amoroso. E era mesmo.

 Ninguém jamais imaginaria que ele tivesse algum segredo — era um homem acima de qualquer suspeita.

 O velório foi simples, como ele havia pedido. No salão pequeno e abafado da funerária do bairro, estavam todos reunidos: filhos, netos, sobrinhos, vizinhos e amigos. Gente emocionada, mas serena. Era como se todos já esperassem a sua partida.

 Foi então que, por volta das dez da manhã, entrou uma mulher desconhecida. Tinha cerca de 70 anos, a mesma idade de minha avó, usava um vestido azul-escuro e segurava uma rosa branca nas mãos.

Ela se aproximou devagar, parou diante do caixão, fez um leve aceno de cabeça e, em seguida, beijou a testa do avô com ternura. Depositou a rosa sobre seu peito e sussurrou algo que ninguém conseguiu ouvir.

 Ele a observou com atenção. Ninguém da família a reconhecia. Ficaram todos em silêncio, constrangidos, até que uma tia tomou coragem e perguntou:

 — A senhora conhecia meu pai?

 A mulher sorriu, com uma mistura de melancolia e carinho, e respondeu:

 — Sim, profundamente.

 E saiu. Simples assim. Sem explicar nada.

 Durante dias, o assunto na família e na vizinhança foi esse. Quem era aquela mulher? Por que dissera aquilo? Seria uma amante? Uma amiga do trabalho? Uma parente distante? Ninguém sabia — e ela nunca mais foi vista.

 A rosa branca secou dentro do caixão, e com ela, o segredo do avô. Nunca souberam o que houve entre os dois, nem se havia algo mesmo. Talvez fosse só nossa imaginação tentando dar um toque de mistério à vida de um homem aparentemente comum.

 Mas, para ele, não. Para ele, aquele momento revelou a parte mais fascinante de seu avô: a parte que ele escolheu manter só para ele. Um segredo que ele levou com dignidade, até o fim, para sempre.

 Edmir Saint-Clair