COACH LITERÁRIO

O ORIENTADOR LITERÁRIO é um profissional que acompanha, ensina e participa de todo processo de criação de um livro. Um profissional técnico, especializado em criação, um professor de escrita e um parceiro, ao mesmo tempo. Experimente, é terapêutico e libertador. Perpetue as histórias que só você tem para contar.
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SONHO É VERSO – Poesia

 

De que são feitos os sonhos?

De desejos, de  paixões,

De vontades, De ilusões,

De necessidade, de  fome,

De  sede, De tesão

Há muitos tipos de sonhos, 

Há muitos tipos de tudo,

Há o sonho que é esperança, 

                                                             Outro que é melancolia,

Há o sonho que é vingança  

                                                            E há outro que é poesia

O sonho é um encontro consigo,

Com nosso caos mais real,

Sobre o qual não temos controle algum,

A pista que não leva a nada,

Ou o fio da meada,

A visão mais profunda,

Um tempo que não existe,

                                                                    Mas passa,

É Maior que a rima,

É um verso,

É passeio no universo,

É vislumbre do infinito,

É  ilusão de ser eterno.

 – Edmir Saint-Clair

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UM MINUTO

 

De silêncio, de paixão, de prazer. O minuto anterior ao gozo, o gozo, um minuto de êxtase, de felicidade, sem saber onde termina meu corpo e começa o seu. O olhar que muda a vida em um minuto. O minuto feito de sessenta eternidades, mas a eternidade terá sempre o último minuto. Cabe-nos viver intensamente todas as nossas eternidades. Tudo que torna a vida maravilhosa não dura mais que um minuto. Mas a dor é longa, e consome quase todos os nossos minutos. O presente é sempre o minuto seguinte, mas só percebemos depois, não sabemos ser eternos. Mas haverá sempre o minuto seguinte.

O minuto de paz nos teus olhos, no silêncio da noite, no sorriso que brotou espontâneo. O minuto feito de sessenta eternidades. A eternidade antes do primeiro beijo, antes de desvendar teu corpo, antes de poder dizer que te amo, antes de sentir teu amor.

A eternidade depois do último beijo, depois de me acostumar com teu corpo, depois de descobrir que ainda te amo, depois de sentir tua ausência. A eternidade de chorar sozinho, o vazio profundo após a última lágrima.

O último minuto com você, e o desejo desesperado de retornar ao primeiro. Passamos a vida inteira atrás desses minutos, dessas sessenta eternidades, que farão o resto valer a pena. Mas, só percebemos o valor do primeiro quando chegamos ao último, e então já haverão se passado muitas eternidades.

O último minuto em que nos amamos foi feito de sessenta despedidas, todas sem que soubéssemos. E a dor, com o poder que só a dor tem, multiplicou sessenta por sessenta por sessenta eternidades, e ainda estou a espera do último.

Em que minuto te perdi?

Te desejo por mais um minuto, seríamos felizes por sessenta eternidades.

- Edmir Saint-Clair

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DESABAFO DE UM BRASILEIRO

 

O Brasil é, hoje, um país dividido. Não só entre correligionários desses arremedos de políticos. Mas, entre os que fazem parte da estrutura do poder e TODO o resto do povo.

Resto? Como assim, se somos a maioria? Como assim, se somos os patrões de quem deveria governar em nosso nome? Mas, basta olharmos para nós mesmos que não teremos dúvidas, somos o resto...

Enquanto o povo brasileiro se bate por políticos desonestos e corruptos (de TODOS os partidos), os mesmos celebram alianças para garantir que tudo continue como está. Em TODAS as esferas e instâncias, executivo, legislativo e judiciário.

Estamos regredindo de forma impressionante! Em tudo. Nos costumes, na cultura, nas crenças primitivas que se disseminam facilmente por uma população sem esperanças, criando um foco a mais de exploração da miséria brasileira.

Somos ignorantes, limitadíssimos intelectualmente. Afinal, como poderia ser diferente sem escolas e sem professores preparados, prestigiados e bem remunerados?

Discutimos e nos digladiamos por temas há muito ultrapassados na história do mundo civilizado. Estamos no século passado e caminhando a passos largos para o século XIX.

Nossos melhores cientistas, pesquisadores, pensadores e expoentes, em todos os campos do conhecimento humano, foram para fora do país. Em busca de trabalho digno. Aqui, não têm incentivo, não têm verbas, não têm futuro algum.

E, sem as cabeças pensantes que nos impulsionariam para o futuro, nos tornamos ainda mais ignorantes e limitados. Condenados a piorar cada vez mais.

Dói, dói muito ver meu país assim. E, acredito que, como em mim, essa dor esteja presente no dia a dia de milhões de brasileiros. Uma dor na alma.

Mas, por mais burros, limitados e covardes que sejamos não merecemos isso. Deveríamos, pelo menos, merecer a complacência com que se deve tratar os idiotas, ignorantes e fracos.

Mas, a classe política não tem mais nenhum escrúpulo e nem vergonha na cara. Solidariedade, humanidade, responsabilidade e verdade não existem no mundo sujo deles. Praticam a mentira e o escárnio a luz do dia com transmissão ao vivo, há muito perderam qualquer vestígio de decência. A impunidade com requintes de crueldade, é repugnante. Dá nojo ver uma sessão do congresso ou do STF.

Escarram na nossa cara e em seguida nos obrigam a engolir. Nojentos. Diariamente. Em TODAS as instâncias de poder. Executivo, legislativo e judiciário. Em TODAS as cidades, municípios, estados e no governo federal.

É triste, muito triste.

- Edmir Saint-Clair

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Nunca entendi direito o motivo da entrada do Padre Frederico na vida da minha família naquele início do ano de 1971. Meus pais não dividiam com os filhos quaisquer oscilações naturais da vida comum e aparentemente tranquila que levávamos. Mas, é claro que existiam e, naquele momento, eles resolveram recorrer a uma ajuda extra de um padre católico. A religião católica em si não era novidade lá em casa, ao contrário, fomos criados como toda nossa geração com aula de catecismo e primeira comunhão na Igreja Santa Mônica do Leblon. Mas, entre os irmãos ninguém tinha muito interesse pelo assunto. Cumpríamos o que nossos pais pediam, sem questionamentos, como todos os nossos amigos.

De um dia para o outro, um padre alemão, chamado Frederico, começou a ir todas as quintas-feiras à noite para cumprir o mesmo ritual: primeiro rezava uma pequena missa num altar improvisado na cômoda do quarto dos meus pais, seguido de um lauto jantar com pratos saborosos e diversificados. O padre sempre caía matando na refeição. Comia que nem um condenado e haja comida para sustentar aquele corpanzil. Ele era alto, cerca de 1,90m, louro de olhos azuis, um alemão bem alemão, inclusive nascido na Alemanha, como todo alemão tem que ser. Sua aparência, o sotaque forte e o jeito circunspecto faziam com que sua figura ganhasse ares extraordinários. Eu e meus irmãos quase não falávamos, mas, sentíamos a cerimônia daqueles momentos. Acima de tudo, era estranho.

Não durou muito aquele período, talvez pouco mais de meio ano, mas toda quinta-feira tinha missa e jantar do padre Frederico. Só lá em casa tinha isso e a gente não comentava com ninguém. Lembro-me de uma conversa, entre os adultos, de que era proibido rezar missa na casa de fiéis sem autorização prévia, o que ativou ainda mais minha curiosidade, afinal aquilo era algo proibido.

Certa ocasião minha mãe resolveu agradar mais o padre Frederico e conseguiu uma receita do tal do chucrute, um prato típico alemão, do qual nunca havíamos ouvido falar. 

Quinta-feira, e lá foi ela para a cozinha preparar a receita junto com a nossa empregada, que era uma baiana que cozinhava divinamente, mas nunca tinha ouvido falar em chucrute.

Veio à noite, família reunida, padre Frederico aguçou nitidamente o olfato assim que adentrou a porta. E apressou-se em iniciar a “missa” que, naquele dia, foi bem mais curta. O padre estava com fome. Já na chegada meu pai o avisou que tinha uma surpresa gastronômica para ele no jantar. O padre, que não era de recusar prato algum, ficou ainda mais animado. Minha mãe notou a animação e segredou, igualmente animada, para nós:

- Ele sentiu o cheiro do chucrute!

Minha mãe deixou a finalização do chucrute aos cuidados da Zoraide e fomos para o quarto assistir a missa.

Quando voltamos para a sala, a mesa estava posta e diversos pratos, carne, ave e peixe o esperavam, além dos acompanhamentos, dentre eles o tal do chucrute

O plano da minha mãe era não falar nada e deixar que o padre tivesse a agradável surpresa de descobrir o prato típico de sua terra natal no meio dos outros. Combinou conosco que ninguém deveria falar nada. Todos cumprimos à risca o trato.

O jantar transcorria normalmente, o padre foi se servindo, um a um, de todos os pratos com igual apetite, mas, nada de pegar o chucrute. De repente, minha mãe olhou para a travessa de chucrute e estranhou a cor da combinação que deveria ser só de repolhos e molho branco. Estava com a cor de azeite de dendê pálido dada a mistura com o molho branco. Sincronizadamente com a estupefação veladissima da minha mãe, padre Frederico pega a travessa e serve-se. A príncípio apenas um pouco, para provar. Ato contínuo, faz uma expressão de aprovação e serve-se fartamente daquilo que ninguém sabia o que era. Sorrindo, pergunta com seu forte sotaque:

- Muito gostosa esse comida. Gosta muita de azeita de dênde. Como chama?

Sem perder a pose, minha mãe respondeu:

- É uma especialidade da nossa cozinheira baiana.

Ele nunca soube que aquilo era um legítimo chucrute baiano, que acabara de ser inventado naquele momento.

Nunca soube por que o padre veio nem porque não veio mais. Mas, sempre que ouço falar em chucrute, lembro-me do chucrute baiano do padre Frederico.

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