ORIENTADOR LITERÁRIO
CAMISA DE FORÇA - THE JACKET - FILME 2005
Sinopse
Jack Starks (Adrien Brody) é um veterano da Guerra do Golfo que retorna à sua cidade natal, após se recuperar de ter recebido um tiro na cabeça. Jack sofre atualmente de amnésia, sendo que após ser acusado de ter assassinado um policial é recolhido a um hospital psiquiátrico. Lá o dr. Thomas Becker (Kris Kristofferson) faz com que Jack tenha drogas experimentais injetadas em seu corpo, como parte de testes para um novo tipo de tratamento. Imobilizado em uma camisa de força, Jack constantemente é trancado por um longo tempo em uma gaveta de cadáveres, no necrotério da clínica em que está. Completamente drogado, a mente de Jack consegue se projetar para o futuro, no qual conhece Jackie Price (Keira Knightley) e descobre que ele próprio irá morrer daqui a 4 dias.
NASCENTE - OLHARES NA ESQUINA - 1982 - RÁDIO FLUMINENSE FM
Música de Edmir Saint-Clair e Guillermo Diaz
O MEDO DA MUDANÇA
"...e a incerteza, a única certeza". Zigmund Bauman - (2.500 anos depois).
O medo está nos rondando o
tempo todo, nos fazendo engolir sapos maiores que a boca. Sem que tenhamos
consciência de quais são seus gatilhos, aparece, de repente, tentando
encaixar as nossas atitudes e, pior, as dos outros também, em modelos que nem
sabemos se servem aos nossos anseios. Tudo para termos a sensação de segurança.
O medo da mudança é uma
força poderosa e vive escondido nas pequenas coisas e, é, na
maioria das vezes, o grande responsável pelos maiores sofrimentos.
Ouvi de um amigo
psicanalista, algo que me ficou na cabeça e que os anos só reforçaram a verdade
que traduz:
− "O ser humano se
sente seguro vivendo uma rotina previsível, mesmo que isso signifique viver em
péssimas situações, aparentemente insustentáveis, se vistas por alguém de fora mas, que
ele já conhece e está acostumado. É péssimo, mas é um péssimo que ele conhece.
Essa força é tão poderosa que a simples idéia de romper com a situação e partir
para algo novo pode causar pânico a algumas pessoas. O ser humano prefere
ficar no sofrimento conhecido a arriscar qualquer outra coisa que ele não
conheça. ”
Não raras vezes, nos
deparamos com essa realidade em vários aspectos. Nas relações
familiares, profissionais, amorosas, fraternas e quantos mais pensarmos.
Admiro as pessoas que
conseguem se desvencilhar rápido de situações incômodas. É claro que tudo tem sua peculiaridade e nada pode ser posto numa mesma sacola. Mas,
existe uma linha, que pode não ser nem um pouco tênue, de onde, a partir dali, qualquer um tem certeza do dano que aquela situação está trazendo a um, ou a
quantos mais estiverem envolvidos.
Seja em que âmbito for,
chega um momento em que o desgaste é tão profundo e incomodo que a mudança é
absolutamente inevitável e urgente. E; isso sempre gera insegurança, que é outro
nome para o medo.
Nas relações amorosas isso é
ainda mais nítido. Do início da descida até se esborrachar no fim, a gente vem
se ralando todo, ladeira abaixo. E, não raras vezes, essa ladeira dura anos.
Imagine quanta ralação, quantos machucados daqueles bem ardidos poderiam ser
evitados.
É bem doloroso. O que
esquecemos é que podemos, a qualquer momento, interromper essa descida e evitar
mais machucados. Saber interrompê-la antes que os traumas se aprofundem demais
é o que decide como estaremos preparados para próximos relacionamentos. Essa decisão é das mais sérias com as
quais nos deparamos na vida: a hora de parar. Há um momento que temos que dar um
fim a uma situação de sofrimento e não olhar mais para trás. Por uma questão de
sobrevivência e sanidade.
Saber a hora de parar de
sofrer é fundamental para não perder a crença em si mesmo. É necessário
acreditar que podemos produzir nossa própria felicidade. E, antes, precisamos crer que somos capazes de nos proteger, de cuidar de nós mesmos, adequadamente. Porque, quantos mais
machucados estivermos, mais tempo esses traumas levarão para cicatrizar. Isso significa que precisaremos de mais tempo para nos recompor até estarmos prontos para uma nova relação. E a vida não
espera. O tempo passa. E, dependendo da intensidade e quantidade dos eventos traumáticos, e dos recursos disponíveis para enfrentá-los (terapias e redes de apoio), essa recomposição pode ser bastante demorada.
É importante sermos sinceros
ao nos respondermos às nossas próprias perguntas. Precisamos saber pelo menos o que
pensamos, de verdade, sobre nossos próprios assuntos e sentimentos. Precisamos estipular nossos
limites. A Tolerância é necessária, sem ela não se vive em sociedade, não se aprende e nem se
evolui. Mas, a partir de um tênue limite, passa a ser submissão, conformismo e
covardia.
Vivemos como se houvesse um modo certo e outro errado de realizarmos nossa vida. Como se houvesse um gabarito. Não há. Ninguém nasce com manual ou destino traçado. Tudo que fazemos é inédito. Algumas vezes, é imprevisível, simplesmente porque ninguém fez daquele jeito antes. Do seu jeito, original é único.
Mudar dá medo. Principalmente, quando a decisão de mudança envolve coisas básicas como mudar de
casa, ficar sozinho, trocar um emprego medíocre, mas que paga as contas,
por um projeto que, se der certo, vai te dar a vida que você deseja (isso não
está ligado a dinheiro necessariamente!). Mas, que, também, pode dar errado.
E daí? Tudo pode dar errado,
principalmente, o que está dando certo. Já que o que está dando errado, se
mudar, só pode mudar para dar certo.
Se der errado é porque não
mudou. Então, vai ter que mudar de novo. Até dar certo. E, pode ter certeza,
uma das coisas que mais ajudam a persistir até que dê certo, é o bom humor. Sem
ele a vida não tem graça. É preciso brincar de ser feliz, pelo menos...
Ou seja, veja-se por que ângulo for, é preciso estar aberto à mudança sempre. Inclusive, para que o que já está dando certo, continue dando.
1985 - MEU ROCK IN RIO
Janeiro de 1985. Verão quente, ano novinho em folha e o maior festival de Rock de todos os tempos há pouco mais de uma hora de distância de pular do meu mais improvável sonho para o maior palco que eu já havia visto na minha frente.
Uma linha especial de ônibus foi criada, exclusivamente,
para levar o público do festival, coletando-o a partir de vários pontos
determinados do Rio de Janeiro.
Eu e uma galera gigante do Leblon, terminamos de lotar um dos ônibus logo no primeiro ponto. A tensão, a expectativa e a proximidade de algo tão especial gerava o tipo de ansiedade mais saudável que existe, aquela que nos faz entender totalmente a expressão "rindo à toa". No ônibus cheio, os sorrisos à mostra eram tão evidentes, que a impressão é que alguém contou uma hilária e interminável piada. Qualquer movimento virava motivo para uma gargalhada.
Chegamos ao local do festival ainda dia claro, poucos
minutos antes dos portões serem abertos. Todos os dias o ritual era o mesmo. Os
portões se abriam, passávamos pelas roletas e pela revista da segurança, que só
estava interessada em coibir armas e objetos metálicos.
Cigarros podiam, de todos os tipos.
O pôr do sol foi deslumbrante, com ultraleves voando por
sobre um público jovem e absolutamente extasiado diante da grandiosidade de
tudo em volta. A paisagem, o sol se pondo nas montanhas da cidade maravilhosa e
os primeiros acordes da música tema do festival tocando numa altura e qualidade
de som que o Brasil nunca havia ouvido.
"Todos numa direção, numa só voz, numa canção
Todos num só coração, num céu de estrelas...
Se a vida começasse agora, se o mundo fosse nosso de vez,
Se a gente não parasse mais de sonhar...de cantar....de
viver."
E todos cantavam com a propriedade contagiante e autêntica
dos jovens dos anos 1970 e 80, que viviam numa cidade que desejava Paz e Amor e
acreditava nisso, por mais ingênuo que, hoje, isso possa parecer.
E, foi nesse clima que assisti a um show mágico e
maravilhoso do cantor James Taylor, num sábado ainda sem chuva, num céu
completa e absurdamente estrelado, sentado ao lado de dezenas de amigos que
ouviram aquelas mesmas músicas, comigo, nas festinhas de adolescentes.
Foi um dos shows mais emocionantes que já presenciei.
Aquela noite, houve uma catarse gigante entre o público e
um James Taylor extasiado diante de 250 mil pessoas que cantavam junto suas
músicas. Ele estava vindo de um período de declínio acentuado na carreira, e
naquela noite, aconteceu sua redenção.
O sucesso daquela
apresentação teve uma repercussão tão grande e impressionante que impulsionou
novamente sua carreira, e ele sentiu isso ainda no palco, durante a
apresentação.
E externou essa emoção através da sua arte, presenteando o
público com uma apresentação emocionada, emocionante e perfeita, e muito mais
longa do que o que estava previsto.
Tocou e cantou com o entusiasmo de um iniciante, todos os
seus grandes sucessos, não faltou nenhum.
O que se passou foi
sublime, uma poesia em forma de vida.
Público e artista vivendo, durante mais de duas horas e meia,
a mesma intensidade de emoções que ficaria, para sempre, na história de ambos.
O primeiro Rock in Rio me presenteou, ainda, com um show
inesquecível da banda inglesa QUEEN, onde foi feita a histórica filmagem do
coro de mais de trezentas mil pessoas cantando a música “Love of My Life”,
perpetuando aquele como um dos grandes momentos da carreira da Banda e do
lendário Fred Mercury.
Presenciei ele, e todos os músicos da banda QUEEN, ficarem
em absoluto estado de graça e completamente extasiados com o que estavam
assistindo. A emoção deles era visível.
Eu vi, estava lá e cantei junto.
E, no último dia, assisti, pela primeira vez, a banda que
mais toca a minha alma: a lendária banda inglesa YES.
A emoção mágica que senti vendo aquela apresentação incrível
e deslumbrante, permanece até hoje.
Foi perfeito para fechar o último dia do maior festival de
Rock de Todos os Tempos.
Essa é a minha parte da história de um Festival que ficou
para a história de muitas e muitas gerações e virou uma lenda no mundo inteiro.
Edmir Saint-Clair
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Recebi várias manifestações com relação a crônica "Meu Rock in Rio - 1985",
todas tão cheias de lembranças intensas quanto as minhas.
Resolvi fazer uma edição com imagens da época e a música tema.




