COACH LITERÁRIO

O ORIENTADOR LITERÁRIO é um profissional que acompanha, ensina e participa de todo processo de criação de um livro. Um profissional técnico, especializado em criação, um professor de escrita e um parceiro, ao mesmo tempo. Experimente, é terapêutico e libertador. Perpetue as histórias que só você tem para contar.

CHEIROS

Nesse curioso 2/2/22, a chuva cai no sopé do Pico da Pedra Branca, em Vargem Pequena. O cheiro de terra molhada que ascende não pode ser igualado a nenhum outro perfume. Para mim, é um dos odores mais agradáveis que posso sentir. 

Aqui, começa a densa floresta de mata atlântica mais preservada que conheço. Os cheiros dos diferentes verdes, plantas e arvores das mais diversas, se misturam com o perfume que evapora da terra quente de verão quando os pingos começam a cair. Os grossos pingos das chuvas de verão realçam ainda mais o que já é magnífico.

Sempre tive uma atenção especial com o olfato. Talvez por quase perdê-lo após um acidente em que fraturei o crânio e rompi a membrana chamada Dura-Máter que, junto com a meninge, protege o cérebro. A operação que talvez se fizesse necessária poderia ter me tirado o olfato aos 19 anos. Graças aos céus, não aconteceu. De lá pra cá, sempre que sinto algum cheiro muito bom penso em como seria não senti-los. E são milhões...

Sempre brinco de eleger meus cheiros preferidos. Já mudaram muitas vezes e, dependendo do momento, continuam mudando. Se for na hora da fome então... ou do amor.

Atualmente, meus eleitos são: cheiro de terra molhada pela chuva, de café acabando de ser passado, do amor em todos os momentos e o cheiro da maresia do Leblon. Todos os tipos de maresias...

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Ah, só para celebrar Gilberto Gil:  finalmente, começou a circular o expresso 2/2/22 da central do Brasil. rssss

- Edmir Saint-Clair


SEGREDOS - Poesia

 

Morde, assopra,

Tenta respirar o ar que falta

Rasga, tira, afasta,

Veste outra Fantasia na fantasia

Amassa, ama, assa, aperta,

E morre a pequena morte,

E morre de novo e de novo, 

De outra maneira igual aquela,

                                               Que nunca aconteceu

Sendo tudo de novo,

O Novo antes de tudo,

Mostrando ao outro o outro oculto

Se enredando no mesmo enredo

Se Descobrindo em seus próprios                   

                                                                    Segredos.

- Edmir Saint-Clair

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A CIDADE DA MINHA INFÂNCIA

 

        A cidade da minha infância não tinha cheiro de mato ao entardecer. Nem rio passando embaixo de uma pequena ponte de madeira. Não tinha igrejinha branca em frente à praça. Não tinha leiteiro, que passava cedo, tocando uma sineta, com sua carroça puxada a cavalo. Não tinha a mercearia do seu Nicolau, que por sinal nem sei quem é. 

Não tinha a Dona Maria, senhora bondosa, que distribuía doces a todas as crianças do grupo escolar. Não tem tinha trem apitando na estação que nunca existiu. 

O cheiro mágico da minha infância é o da maresia de uma cidade praiana e praieira.

    A minha cidade tinha toda a poesia do mundo. Mas, não tinha cheiro de mato, nem rio passando embaixo de uma pequena ponte de madeira, mas cresci muito feliz, na beira do mar. Não tinha o Seu Nicolau, que por sinal nem sei quem é, mas tinha o bar do Seu Antônio, que sabia quem eu era. Cresci jogando pelada na areia e pegando jacarés, não a unha, no peito. Tinha circo em frente à praça, casa com portão e a maioria das pessoas se conhecia. Tinha piquenique no Parque Lage e tinha mistérios nas cavernas. Eu tinha conta no Mate/Limão do Eugênio da praia. Tinha velha fofoqueira, que falava mal de todo mundo. Tinha porteiro que corria atrás da gente. Tinha colégio de Padre e padre chato também.

       Tinha festa aos sábado nos clubes, e depois íamos comer pizza no bar Guanabara, que era ponto final de táxi e o único que ficava aberto até de madrugada.

    Esteja onde estiver, sempre que me lembro da minha infância sinto que meus irmãos de pedra ainda sorriem para mim e comigo, até hoje. Sempre me esperando voltar à nossa cidade mágica, encravada ao sul de Ipanema e aos pés dos meus dois irmãos de pedra.

Edmir Saint-Clair

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