COACH LITERÁRIO

O ORIENTADOR LITERÁRIO é um profissional que acompanha, ensina e participa de todo processo de criação de um livro. Um profissional técnico, especializado em criação, um professor de escrita e um parceiro, ao mesmo tempo. Experimente, é terapêutico e libertador. Perpetue as histórias que só você tem para contar.

DESTINO MENINO.


 Todo minuto é momento

Um invento, um sentido,

Por fora, por dentro,

É cada segundo, sem tempo,

É quase nada no vento

 

A vida são horas correndo

e se existe ou não um destino,

Ele é só um menino 

                                        que não sabe onde ir

 

A verdade é que nada se sabe,

Se é do errado que se chega ao certo,

Se é para frente, para trás ou para os lados,

Porque não tem lado certo, nem errado

Não tem nem em cima, 

                                            nem embaixo

 

E os minutos continuam correndo,

E a gente sempre mais lentos,

Sem saber para que andar

Já que é o tempo que nos carrega

Até onde quiser nos levar

 

A mim, que me leve 

                                em qualquer pé de vento

Para um tempo que seja de amar.


– Edmir Saint-Clair


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FERA




 Destruir o berço, a mata, a essência,

Que acalenta, com sons , cores e frutos

O futuro que é da vida, não nos pertence.

 

Matar a mãe, cuspir no prato que o alimenta,

Suicidar-se, matar o futuro que é do filho,

Da beleza, do sonho, de todos que ainda virão.

 

A ganância, grande herança do nada,

Nos torna cegos, sem ver belezas

E rezamos, pagãos hipócritas,

Carrascos do ventre que nos gerou.

 

E perdidos os homens, tão sem caminho,

Se matam, matando tudo, seu próprio ninho.

Natureza que cria, que cura, que chora,

Pelo filho que lhe devora as entranhas.

- Edmir Saint-Clair

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A ARTE DO TEMPO

 


Sempre estivemos presos, sempre cada um em si

Faz parte da  história da humanidade

Presos às imagens, rótulos, marcas da futilidade

Da vida baldia que foge de si

Da inutilidade que não faz sentido, do que não tem alma...


Aconchego real são os outros, são os abraços trocados

São os toques, são os risos, são os cheiros,

É o calor de janeiro bronzeado para sempre na pele

São muitas coisas ao mesmo tempo

Multiplicando o tempo em arte

Que é tudo que nos resta fazer

Porque o resto é o nada mais


O nada, 

A única coisa na qual nos transformaremos

É isso que os anos nos jogam de volta no rosto

Enrugados e marcados

Pelos dedos dos tapas que nunca mais saíram

Entranharam, esculpindo sulcos na dura face

E expondo a fina arte que só o tempo é capaz inventar.

  – Edmir Saint-Clair


FILHOS DE NARCISISTAS - O CACHORRO MORTO

        Enquanto cresce, o filho de um narcisista não sabe que seus pais são narcisistas, os ama e depende do que eles lhe dizem sobre ele mesmo para construir o mundo em que vai acreditar e viver.

Todos os seres humanos sofrem.

Mas, os filhos de narcisistas sofrem mais, porque sofrem sozinhos e enganados por quem mais deveria amá-los. São aqueles enganados pelos próprios pais e, por toda a sociedade na qual vivem, que lhe dizem, todos os dias, que os pais são sagrados e querem sempre o melhor para seus filhos.

E quando alguém percebe que nada disso foi verdade em sua vida, quando um ser humano percebe que foi manipulado por quem mais amava e confiava, se Vê numa queda violenta num nada... sem fundo.

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Lembro bem que estávamos andando pela avenida para que você espairecêsse e pudesse desabafar comigo, como fizera a vida inteira, segura de que seria acolhida como sempre. Falar mal do meu pai para mim era seguro para você, eu nunca falaria nada sobre o assunto. Você tinha certeza disso. Ao final de sua narrativa ofensiva, respondi de pronto como o cão de Pavlov treinado desde que nasceu, com um complemento que reforçava seu relato, dando-lhe ainda mais impacto e dramaticidade que não cabiam naquela crítica superficial:

- Você diz que ele age como “quem gosta de chutar cachorro morto”, disse eu como o cão treinado reagindo à sineta. No que ela respondeu:

- Frase interessante, nunca tinha ouvido. 

Lembro que a frase a impactou.

Anos depois, a vida me mostrou com todas as suas tintas mais carregadas quem realmente gostava de chutar cachorro morto. E, não se tratava de má interpretação ou qualquer outro equívoco de julgamento, que uma dúzia de eventos ou várias dezenas de anos, podem provocar.

Quando olhei para trás, para a vida inteira, vi que os eventos eram milhares e todos acontecidos na minha frente.

Como eu nunca percebi? Como pode alguém ser tão tapado em todos os seus próprios sentidos? Como é possível alguém ter sido treinado para jamais acreditar sequer no que presencia?

Infelizmente, só percebi após toda uma vida, e da pior maneira possível, quem realmente gostava de chutar cachorro morto: era minha mãe.

E o cachorro morto, era eu.

 Edmir Saint-Clair

O NOME DO AMOR - Poesia

O amor nunca se chama amor

                    Sempre tem nome,

                Sempre tem cheiro,

                 Sempre tem gosto,

Sejam quantos forem,

De que tipo sejam,

Cada um tem seu nome próprio,

                                                          E único,

Tem seu próprio jeito


E nunca lhe falta um sentido,

     Mesmo não podendo ser visto,                      

Apesar dos vários rostos,     

                                                 Várias vozes,        

Vários leitos,


O amor é o que resgata, é o que afoga,

                                                  É o que pulsa,

E é o único que expulsa toda dor que carregamos.

 

O teu amor é o que me salva de mim mesmo,

                                      E o que te nasce no meu peito.


- Edmir StClair



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O MONGE DE COPACABANA

Jorge havia passado sete anos no Tibet. Não porque fosse um espiritualista nato, mas para fugir de uma grave acusação envolvendo brigas de gangues que haviam culminado em homicídio. Ele não tivera participação direta no evento, mas fazia parte da turma que participou do crime e não tinha como provar que não estava no local no momento do ocorrido. Sem lhe restar esperança, sua família o sugeriu uma fuga para algum lugar onde não pudesse ser encontrado.

Jorge tinha um primo que se tornara, há pouco, monge no Tibet, que lhe ofereceu abrigo até que as coisas serenassem no Brasil. Para um praticante de lutas e frequentador assíduo de brigas de rua ou qualquer coisa parecida, seria uma mudança absoluta e, muitos apostaram, impossível.

Sem opção, Jorge partiu rumo ao Tibet. A caminho do mosteiro onde ficaria hospedado, teve acesso as últimas notícias sobre o julgamento de seu caso. Ele havia sido sentenciado há 8 anos de prisão, em regime fechado. Jorge deu graças a Deus por estar tão longe, não suportaria nem um mês numa penitenciária brasileira. Esse pensamento serenou sua alma.

Sete anos depois, Jorge aterrissa no galeão de volta a sua cidade natal e já resolvido com a justiça brasileira. É seu recomeço.

Sente-se um homem completamente diferente daquele valentão ridículo que fora um dia. Os ensinamentos que recebera o transportaram para outra dimensão dentro de si mesmo. No caminho até a casa dos pais, em Copacabana a primeira coisa que reconheceu foi a decadência do aeroporto, que já estava decadente há sete anos. A segunda, foi o cheiro da baía de guanabara saindo da ilha do governador. Nada mudara, mas, para ele, tudo mudara. Lembrou-se de um dos princípios básicos da sabedoria tibetana: quando você muda por dentro, tudo por fora muda junto.

Era verdade, nada do que via o incomodava mais.

Assim que terminou de tomar o café da manhã de boas-vindas que os pais lhe haviam preparado, resolveu ir até a praia de Copacabana, sua areia natal. Seus novos ares monásticos eram puro êxtase com tudo a sua volta. Os pais, o velho porteiro do prédio, a secretária doméstica que o viu crescer e todos que o viam exclamavam sobre a mudança impressionante que Jorge havia sofrido.

Jorge, a cada observação de alguém, pensava:

“A mudança interior, realmente, provoca muitas mudanças no mundo ao redor."

Chegou na praia, sentou-se, colocou seu celular e sua carteira ao lado e assumiu a postura tradicional de meditação. Havia poucas pessoas naquele dia nublado. Fechou os olhos e, ao som do barulho das ondas, meditou profundamente, Estava em paz.

Quando abriu os olhos, seu celular, sua carteira e toda calma e serenidade, que havia trazido do Tibet, haviam sumido.

Copacabana não é para amadores, nem para monges.

Depois disso, Jorge desistiu de fundar um templo para meditação e abriu mais uma academia de Jiu-Jitsu em Copacabana.

Edmir St-Clair

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