COACH LITERÁRIO

O ORIENTADOR LITERÁRIO é um profissional que acompanha, ensina e participa de todo processo de criação de um livro. Um profissional técnico, especializado em criação, um professor de escrita e um parceiro, ao mesmo tempo. Experimente, é terapêutico e libertador. Perpetue as histórias que só você tem para contar.
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A CARA DO BRASIL

 

O Brasil é um país de mal educados, não temos boas escolas nem um bom modelo educacional, as que temos não dão conta da demanda e, consequentemente, a multidão de ignorantes e analfabetos funcionais aumenta diariamente em progressão geométrica, há décadas. Somos um povo que, por esse motivos é muito fácil de ser enganado e conduzido por qualquer charlatão um pouco mais articulado.

Nada disso que vemos hoje é novidade. Nada.

A diferença, atualmente, é que, graças à internet, estamos descobrindo que a sujeira é ainda muito maior do que qualquer um poderia imaginar. Alastrou-se por todos os cantos do país. Capilarizou por todo e qualquer aspecto da vida nacional. Todo brasileiro se tornou um corrupto em potencial.

O descaramento dos políticos, de todos os partidos, é uma coisa inacreditável! Dá vontade de dar um soco na cara de cada um.

A população, em sua maioria, está atordoada sem saber o que pensar a respeito da quantidade enorme de denúncias que se sucedem diariamente há décadas, Ininterruptamente.

Uma quantidade tão gigantesca de informações e contra-informações que é impossível de ser processada por grande parte da população.

Menos ainda por aqueles que não tem o esclarecimento básico mínimo (educação formal) para compreender onde, aqueles fatos, impactam na sua vida diária.

Nosso povo sequer tem a capacidade de entender onde, quando e como está sendo roubado.

Enquanto a desonestidade se sofisticou e se informatizou com as mais modernas tecnologias para desvio de verbas, lavagem de dinheiro e derivados, o povo vem emburrecendo em igual proporção e ladeira abaixo. Um completo paraíso para corruptos e desonestos de toda ordem.

Rachadinha, propina, caixa dois, superfaturamento e mais uma dezena de nomes para designar uma coisa só: roubo!

E, que ninguém venha dizer que é furto, apropriação indébita ou qualquer outro termo que só alguns entendem. Ninguém está interessado em definições técnicas, deixemos isso para os advogados e promotores.

Se querem realmente que todos entendam o que está acontecendo é necessário desenvolver uma comunicação jornalística e social à altura do vocabulário do brasileiro médio, que é paupérrimo, restrito a algumas centenas de palavras. Grande parte se trata de analfabetos funcionais.

O déficit educacional do país é gigantesco. A dívida social, nesse setor, que todos os mandatários, em todos os níveis e em todos os tempos, tem com o povo brasileiro, é impagável!

Hoje, choramos por não termos dado ouvidos às grandes mentes nacionais que sempre afirmaram que só uma educação de qualidade tiraria o país de um destino de república de bananas. Hoje, somos formados e diplomados em bananices. As redes sociais são um desfile de imbecilidades e absurdos de todas as ordens imagináveis.

Principalmente, por não termos dado a devida importância às palavras de Darcy Ribeiro, Rubem Alves e tantos outros educadores brasileiros que tanto nos alertaram para essa tragédia anunciada.

É triste constatar como custou, custa e continuará custando caro, ao país, negar aos jovens uma educação com uma qualidade mínima que os permita entender a própria vida e o funcionamento de seu país.

O Brasil está num estágio tão confuso e perdido que se faz necessária a dedicação de todos na busca de novos caminhos. Porque não precisamos de um só caminho. Precisamos de muitos e em muitas direções. Todos os brasileiros estão sem direção no momento. É preciso contar com o valor de cada um, buscando soluções possíveis e personalizadas, regionalizadas e adaptadas a cada realidade regional. É preciso repensar tudo.

É tanta mentira, tanta desonestidade, por todos os lados de nossa vida cotidiana que não é exagero falar que todo brasileiro está se sentindo devedor, nesse momento, de sua própria consciência.

Ficou claro que a complacência excessiva e a aceitação de, aparentemente pequenas, deturpações do tipo “levar vantagem em tudo” ou o tal do “Jeitinho brasileiro”,  foram se degenerando e se alastrou  para todas as camadas da população, indistintamente. Uma decadência moral invisível e lenta que, como bola de neve, foi acelerando e ganhando cada vez mais volume até se tornar uma catástrofe, arrasando tudo pela frente.

Nos faltam crença e confiança em nós mesmos. 

Fomos enganados e, também, já enganamos demais. E, todos sabemos disso.  Estamos envergonhados de quem elegemos para nos representar. Estamos envergonhados do que nos tornamos como povo. Uma nação que dá um passo para frente e dois para trás. Estamos exaustos com os acontecimentos dessas últimas décadas.

Não estamos acostumados a lutar. Não lutamos por nossa independência, não lutamos para libertar os escravos, não lutamos para impor a república.  

Agora, estamos vendo como é difícil se construir um país digno e justo esperando que tudo nos seja concedido como benevolência de uma instância superior. Queremos tudo de mão beijada, expressão que, tristemente, serve como luva ainda hoje. A expressão “receber de mão beijada”, tem origem no império, onde quem beijasse a mão e adulasse a nobreza, garantia bons negócios. Desde então, o puxa-saquismo foi institucionalizado no estado brasileiro. Nunca evoluímos.

Um povo com todo esse histórico tão pouco favorável é um prato farto para políticos, sempre mais escolarizados e ardilosos, que impõe suas vontades se utilizando de toda forma de artimanhas inescrupulosas. E, quando não conseguem, nos vencem pelo cansaço ou pelas votações no meio da madrugada, enquanto o país inteiro está com sua atenção voltada para outro foco. Um ardil digno de bandidos. A maioria troca de voto, de partido e até de mãe muito mais fácil do que trocam suas cuecas grandes, já pensadas para serem recheadas com dólares da corrupção assassina que corre solta, num país onde faltam hospitais, escolas e vergonha na cara.

No Brasil não existem partidos políticos, existem quadrilhas que atuam na política para roubar e saciar uma sede doentia de poder e submissão. 

Como no antigo jogo do bicho ou no tráfico de drogas, cada um tem seus pontos de exploração. Empreiteiras, petróleo, exportação de carnes, e, muito provavelmente toda a cadeia produtiva nacional é fatiada. E, quem não participa dos esquemas está acabado. Muitos dos empresários presos na lava jato não tiveram muita escolha. Ou alguém tem dúvida disso?

Nesse ambiente completamente prostituído e corrompido quem não entra na dança está fora da festa...

Essas práticas se repetem em todos os níveis da vida brasileira. Uns achacando outros quando podem. Governadores, prefeitos, juízes, Fiscais, superintendentes, diretores, gerentes...

Todos achacando e despejando seus recalques em quem vem logo abaixo hierarquicamente. 

E, assim, estamos construindo um país muito feio. Feio demais.

- Edmir Saint-Clair

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SÓ UM CHOQUE TECNOLÓGICO PODE SALVAR O BRASIL

 

Escrevi esse texto no início de 2019, um ano antes da pandemia mundial causada pelo Corona vírus. Durante a pandemia, a ideia ganhou novas perspectivas que validam ainda mais sua discussão. Numa hipótese de que já tivéssemos esse projeto implantado, não só as aulas não precisariam ter parado em nenhum canto do Brasil, como um número incalculável de outras atividades produtivas e informativas poderia continuar funcionando com total segurança de isolamento e com prejuízos bastante minimizados. O investimento necessário não chegaria a 10% dos prejuízos evitados.

* * * *

A educação e a distribuição do acesso ao conhecimento se tornaram tão precários e ineficientes no Brasil que, sob os atuais modelos, somos absolutamente incapazes de atender às nossas necessidades. E nem de conseguir chegar perto disso nas próximas décadas.

A estagnação é tanta e o abismo é tão profundo que poucos ousam encarar o problema com a seriedade que ele exige.

Precisamos de um projeto educacional que tire a maioria dos brasileiros da marginalidade social e profissional. Precisamos de um projeto que envolva todo o país, traga resultados rápidos e que seja viável dentro de nossa realidade econômica.

 Que vá ao encontro dos anseios da população, que democratize a informação e o conhecimento acadêmico-científico. No resto do mundo, a universalização do acesso informática e a internet estão acabando com a necessidade de se ter salas de aula formais e professores presenciais para oferecer educação de qualidade. O professor remoto está em vários locais ao mesmo tempo, 24h/7dias da semana. E na hora que o aluno desejar.

Ninguém mais precisará se sacrificar, ao extremo, para assistir a uma aula. Hoje, milhares de brasileiros, talvez milhões, saem exaustos de suas jornadas de trabalho direto para cursos noturnos precários, com professores “baratos”, para dar presença em aulas das quais não conseguirão reter nada de conhecimento, porque seu corpo e mente estão absolutamente extenuados devido ao dia exaustivo de trabalho e de tempo gasto no transporte.

Isso não significará o esvaziamento das instituições tradicionais de ensino, ao contrário, continuarão a serem os fornecedores de todo o conteúdo e dos processos didáticos necessários e decorrentes. Aumentarão, e muito, seu raio de alcance e, através do engajamento do público (alunos, consumidores), poderão aumentar proporcionalmente suas receitas através de patrocínios e remuneração por capacidade de mobilização e influência, como o fazem qualquer empresa ou pessoa considerada Influencer nas mídias digitais. Não haverá custos para os alunos e o sistema poderá funcionar de forma sustentável e com capacidade sempre crescente de valorização, já que estará capacitando e aumentando o potencial de consumo gerado pela prosperidade ocasionada pelo conhecimento pessoal obtido. Um moto contínuo, produzindo riqueza, promovendo a democratização das oportunidades e que trará, como consequência direta, uma divisão mais justa das riquezas produzidas.

O inicio dessa democratização será a produção de notebooks a preços acessíveis, o mais barato que se conseguir. Mais que isso, subsidiados em alguns casos. Casos de bolsa família, por exemplo, seriam distribuídos gratuitamente.

A configuração simplificada da máquina deve conter programas embarcados que permitam pesquisas, navegação e quantos mais aplicativos for possível a um custo realizável.

Notebooks a preço de custo e acesso a internet gratuita em todo território nacional

O Sistema operacional deve ser aberto e gratuito, tipo Linux, o que possibilita que ele seja continuamente trabalhado para atender as peculiaridades que, obviamente, surgirão num país com as dimensões do nosso.

Start Ups devem ser largamente incentivadas para o desenvolvimento de tecnologias regionalizadas para os segmentos de interesse. Sempre com a criação de sistemas abertos e generosamente compartilhados.

Às operadoras de telefonia celular seria dada a incumbência de viabilizar o acesso à internet 5G em todo o território nacional de forma gratuita (para algumas regiões) com qualidade e regularidade de sinal.  Afinal, a elas é dado o direito de exploração comercial de um dos maiores mercados consumidores desse serviço no mundo. A contrapartida é justa e justificada, já que o desenvolvimento e crescimento estarão aumentando o mercado onde elas próprias atuam e do qual se beneficiarão.

Essa democratização e universalização do acesso ao conhecimento promoveriam uma transferência de Know-How e informações acadêmico-científicas a uma velocidade jamais vista. E que não poderá ser alcançada de outra maneira senão através dessa inclusão digital profunda. O futuro do mundo é digital, não existe sombra de dúvida sobre isso.

Imagine que num cenário como esse, um aluno do Acre poderá assistir uma aula da USP sobre qualquer assunto e a qualquer momento. De que outra forma ele teria essa oportunidade? Pensemos no que isso representaria em termos de evolução cultural e científica de nossa população. Haveria democratização verdadeira do conhecimento. Não conheço forma mais eficiente de se alcançar uma melhor distribuição de oportunidades.

O país cresceria, sustentavelmente, 50 anos em cinco.

A geração de soluções regionalizadas e customizadas sempre são as que melhor atendem às demandas de cada população, e isso aumentaria exponencialmente em todos os segmentos.

Milhões de pessoas seriam inseridas na sociedade de forma efetiva. A comunicação facilitada pela internet acabaria, virtualmente, com um obstáculo até aqui, quase intransponível em nosso país; as distâncias continentais.

Quantas iniciativas maravilhosas surgiriam a partir dessas novas possibilidades? Quantos brasileiros criativos e inteligentes ganharão voz e criarão soluções para problemas seculares? 

Volta e meia, mesmo com todas as dificuldades atuais, vemos exemplos de superação acontecendo em todos os rincões do Brasil. Às vezes, iniciativas maravilhosas e isoladas de educar crianças e adultos em condições inimagináveis morrem junto com seus solitários idealizadores, sem que sequer tenhamos conhecimento. Se perdem, por falta de divulgação, de comunicação e do consequente apoio que o mesmo teria, se divulgado com eficiência.

O Brasil é muito grande. O lado negativo desse gigantismo é a dificuldade que essas distancias nos impõe. Principalmente, no campo do acesso a informação como um todo e a educação acadêmico - cientifica em particular.

O Brasil precisa de um projeto grande, ambicioso, viável e verdadeiramente eficiente. Que acredite na capacidade e na vontade que cada cidadão tem de progredir por esforço próprio. Um projeto que, uma vez iniciado não possa ser interrompido por mesquinharias político-ideológicas. Que esteja acima disso. Que todos nós acreditemos que nos levará a um futuro mais auspicioso. Que não seja conquistado por mágica, decreto ou discursos populistas demagógicos e mentirosos. São esses que não querem que projetos com essa abrangência existam. São esses que sempre se beneficiaram do analfabetismo e da ignorância do povo, porque sabem que essa é a única forma de mantê-los dependentes e submissos.

Um projeto como esse deve prever um aparato (hardware e software) que seja o mais simples possível. Tenho certeza que a simplicidade é o melhor caminho para se chegar longe.

No inicio as linguagens de programação e a operação dos computadores era coisa para especialistas, até que Bill Gates lançou o Windows e abriu o caminho, através da simplicidade e intuitividade das interfaces, para que qualquer mortal pudesse operar um computador e, mais que isso, ter um em casa. Hoje, qualquer pessoa, de qualquer idade, é capaz de operar um PC ou um smartphone com poucas horas de treinamento. E, quem não o sabe, está irremediavelmente fora do mercado de trabalho formal. Está fora do mundo, já quase totalmente informatizado e conectado.

Simplicidade é a palavra chave em qualquer processo. Tem que ser simples para que todos entendam. Tem que ser sedutor para que todos desejem (afinal, quem não gostaria de ganhar um notebook gratuito e acesso a internet gratuita). A eficiência estaria assegurada devido a alta taxa de adesão.

O crescimento econômico estará assegurado, por tempo indeterminado, de forma sustentável, gerando inclusão e distribuição de renda num grau inimaginável, hoje.  E proporcionando evolução pessoal, através do conhecimento.

Pela primeira vez, poderemos sonhar em erradicar de vez o analfabetismo e a ignorância que mantém populações inteiras reféns de políticos inescrupulosos e suas políticas eleitoreiras interessadas em manter seus eleitores na ignorância para manobrá-los e dominá-los. 

Precisamos ter um projeto de futuro no qual todos nós acreditemos. Que seja simples, viável e autossustentável. Que uma vez iniciado não possa ser parado.

Só quem é muito mal intencionado e tira algum proveito da ignorância alheia pode ser contra um projeto que fará nosso povo florescer e evoluir através do conhecimento e por méritos próprios. 

Se forem oferecidas as ferramentas certas,  nosso povo vai ser capaz de construir uma grande nação.

 - Edmir Saint-Clair

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A PRIMEIRA MORTE

 

Heitor era um jovem tímido e retraído, tinha um sorriso largo e fácil. Não era de falar muito. Um cara normal que adorava ser um cara normal. Amigo dos bons, daqueles que comprava nossas brigas ou corria junto. Mas, nunca deixava ninguém na mão.

Jogava bola, nem melhor nem pior do que a maioria. Um zagueiro zagueiro, que dava de bico na bola para onde o nariz apontava. Participante diário das peladas, não se destacava, nem queria.

Até aquele dia, quando ao intervir a favor de uma garotada mais nova, como era tradição no bairro, que discutia com um porteiro que confiscara a bola da molecada, foi surpreendido por uma facada covarde e traiçoeira desferida pelo porteiro embriagado que acabara de rasgar a bola com sua peixeira. Foi levado para o Hospital Miguel Couto pelos amigos. O banco traseiro do carro ficou ensopado de sangue.

Após a longa cirurgia, os médicos não quiseram fazer prognósticos.

Ninguém acreditava que o pior pudesse acontecer. Ele era jovem, forte e saudável. Era um de nós.

Os dias se passaram e ele obteve uma pequena melhora sem, no entanto, deixar a UTI. A notícia a angústia e a preocupação pioravam. E ele também. Grupos de amigos iam, constantemente, visitá-lo no Miguel Couto e, como ele não podia receber visitas na UTI, tínhamos que burlar a vigilância para poder vê-lo e acenar de longe, através da janela de vidro. Ele sempre acenava de volta.

Jovens se acham imortais e ninguém acreditava que ele também não fosse. Infelizmente, não era. O Heitor morreu. O impacto foi desorientador para nossa turma de adolescentes.

Choramos muito.  Inconsoláveis. Nossos pais choraram conosco e isso aumentou ainda mais o peso e a gravidade daquele evento inédito em nossas vidas, não havia instância a qual recorrer contra aquela fatalidade. Foi pesado. Havia abraços se confortando, sem consegui-lo. Havia incredulidade, perplexidade e muita tristeza. Uma onda de choque se abateu sobre todos nós. A morte mostrou sua cara e todos ficamos apavorados. Ela existia e era terrível.  Era para sempre. Todos nós sofremos uma mudança profunda e irreversível após aquela perda. 

Heitor tinha 18 anos e foi a primeira morte que nossa adolescência enfrentou.

 

Edmir Saint-Clair

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CHEIROS

Nesse curioso 2/2/22, a chuva cai no sopé do Pico da Pedra Branca, em Vargem Pequena. O cheiro de terra molhada que ascende não pode ser igualado a nenhum outro perfume. Para mim, é um dos odores mais agradáveis que posso sentir. 

Aqui, começa a densa floresta de mata atlântica mais preservada que conheço. Os cheiros dos diferentes verdes, plantas e arvores das mais diversas, se misturam com o perfume que evapora da terra quente de verão quando os pingos começam a cair. Os grossos pingos das chuvas de verão realçam ainda mais o que já é magnífico.

Sempre tive uma atenção especial com o olfato. Talvez por quase perdê-lo após um acidente em que fraturei o crânio e rompi a membrana chamada Dura-Máter que, junto com a meninge, protege o cérebro. A operação que talvez se fizesse necessária poderia ter me tirado o olfato aos 19 anos. Graças aos céus, não aconteceu. De lá pra cá, sempre que sinto algum cheiro muito bom penso em como seria não senti-los. E são milhões...

Sempre brinco de eleger meus cheiros preferidos. Já mudaram muitas vezes e, dependendo do momento, continuam mudando. Se for na hora da fome então... ou do amor.

Atualmente, meus eleitos são: cheiro de terra molhada pela chuva, de café acabando de ser passado, do amor em todos os momentos e o cheiro da maresia do Leblon. Todos os tipos de maresias...

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Ah, só para celebrar Gilberto Gil:  finalmente, começou a circular o expresso 2/2/22 da central do Brasil. rssss

- Edmir Saint-Clair


A CIDADE DA MINHA INFÂNCIA

 

        A cidade da minha infância não tinha cheiro de mato ao entardecer. Nem rio passando embaixo de uma pequena ponte de madeira. Não tinha igrejinha branca em frente à praça. Não tinha leiteiro, que passava cedo, tocando uma sineta, com sua carroça puxada a cavalo. Não tinha a mercearia do seu Nicolau, que por sinal nem sei quem é. 

Não tinha a Dona Maria, senhora bondosa, que distribuía doces a todas as crianças do grupo escolar. Não tem tinha trem apitando na estação que nunca existiu. 

O cheiro mágico da minha infância é o da maresia de uma cidade praiana e praieira.

    A minha cidade tinha toda a poesia do mundo. Mas, não tinha cheiro de mato, nem rio passando embaixo de uma pequena ponte de madeira, mas cresci muito feliz, na beira do mar. Não tinha o Seu Nicolau, que por sinal nem sei quem é, mas tinha o bar do Seu Antônio, que sabia quem eu era. Cresci jogando pelada na areia e pegando jacarés, não a unha, no peito. Tinha circo em frente à praça, casa com portão e a maioria das pessoas se conhecia. Tinha piquenique no Parque Lage e tinha mistérios nas cavernas. Eu tinha conta no Mate/Limão do Eugênio da praia. Tinha velha fofoqueira, que falava mal de todo mundo. Tinha porteiro que corria atrás da gente. Tinha colégio de Padre e padre chato também.

       Tinha festa aos sábado nos clubes, e depois íamos comer pizza no bar Guanabara, que era ponto final de táxi e o único que ficava aberto até de madrugada.

    Esteja onde estiver, sempre que me lembro da minha infância sinto que meus irmãos de pedra ainda sorriem para mim e comigo, até hoje. Sempre me esperando voltar à nossa cidade mágica, encravada ao sul de Ipanema e aos pés dos meus dois irmãos de pedra.

Edmir Saint-Clair

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O INIMIGO NÃO SÃO OS OUTROS

 

Pensar também tem níveis de qualidade. Existem pensamentos ótimos e outros péssimos. Todos nós os temos de todos os tipos.

Assim como o ato de comer, nem sempre pensar mais significa pensar bem. Assim como comer, pensar bem seria pensar o necessário e somente o necessário, pressupondo que pudéssemos determinar o exato momento de parar de pensar sobre determinado assunto chiclete. 

Sabemos que isso não acontece. Sempre que um assunto se entranha em nossa mente a tendência é que não consigamos desviar a atenção até estarmos fatigados mentalmente e, consequentemente, incapazes de decidirmos sobre qualquer coisa. E, quanto mais relacionado ao aspecto emocional, mais nos empanturramos neuroticamente daquele assunto. Chegamos a ter ressaca moral, como se fosse uma indigestão mental por excesso de pensamentos. Algo como enfiar o pé na jaca da neurose.

Estudiosos da mente humana tem publicado cada vez mais sobre esse tema: o excesso de pensamentos e seus malefícios.

Não sou especialista no assunto, apenas um curioso e ativo utilizador da minha própria mente, além de me utilizar, também, das brilhantes mentes que me socorrem através dos livros e textos que nos deixaram. Pelo menos como veterano utilizador de um cérebro, tenho algum conhecimento empírico agregado ao conhecimento adquirido por impulsos da saudável curiosidade.

O bom desse tempo todo de vida, é que os assuntos começam a se cruzar. Coisas que antes pareciam tão díspares, com o tempo passam a fazer parte de um mesmo enredo.

Uma das coisas que mais gosto na passagem dos anos, é testemunhar a forma como os eventos, lugares e pessoas se entremeiam no enredo de nossas vidas. A forma imprevisível dos acontecimentos é o que nos faz não morrer de tédio. A forma como lidamos com esses imprevistos e a rapidez com que os aceitamos determinam muito de nossa capacidade de vivenciar o que chamamos de felicidade, essa espécie de orgasmo existencial, que sem dúvida nenhuma existe. Geralmente, por apenas um pouco mais do tempo de um orgasmo.

O Viver tenso, sempre vigilante, ansioso, o viver inseguro das cidades grandes, diariamente preocupado...a sensação eterna de corda apertando o pescoço. Se as tensões cotidianas já são, por si só, insuportáveis, a potencialização que um cérebro fatigado e desorientado produz causam é sombriamente imprevisível.

O ser humano aguenta fazer isso apenas por um determinado período de tempo, depois se cansa, se esgota e se deprime. E, ás vezes, nunca mais recupera a capacidade da vida plena.

Muitas vezes, passa-se uma vida inteira sem perceber o quê e muito menos por que a vida aconteceu como aconteceu. O mais triste dessa história é que, na maioria das vezes, não aconteceu como gostaríamos. E, não é por falta de pensar, de tentar resolver, entender e fazer de tudo para melhorar, achando que saturar o cérebro com pensamentos é o caminho. Via de regra ocorre exatamente o oposto, quanto mais nos esgotamos em pensamentos sem qualidade e sem rumo, mais desorientados e doentes nos sentimos. E, menos capazes ainda de resolver satisfatoriamente nossos problemas.

A quantidade de tempo que despendemos pensando não garante a qualidade daquele pensamento. Qualidade no sentido de solucionar de alguma forma aquela agonia a qual damos o nome genérico de problema. Para pensarmos com qualidade só existe um caminho: abastecer nossa mente com informações de qualidade.  Através do Google e com um pouco de vontade de melhorar, podemos ter acesso ao que grandes pensadores, que sabiam pensar com qualidade,  sugerem como caminhos para as soluções das agonias, que são comuns a todos nós humanos. É o único atalho que existe!

Graças a tecnologias desenvolvidas nas últimas décadas, que possibilitaram avanços admiráveis e surpreendentes no conhecimento dos processos e funcionamento do cérebro, a melhor coisa que podemos fazer em benefício da nossa mente e deixar nosso próprio cérebro se curar, num processo chamado homeostase, que é a capacidade dos organismos buscarem o próprio equilíbrio, de tal forma que lhes possibilite as melhores condições de funcionamento, leia-se de vida. Nosso cérebro, assim como todo nosso organismo, é programado geneticamente para fazer isso, é só deixarmos ele fazer.

Ou seja, se aprendermos a parar de pensar excessiva e neuroticamente em tudo que nos rodeia e simplesmente deixarmos nosso cérebro se curar, ele o fará. Cada um tem que desenvolver um método próprio de defesa contra o excesso de informações e estímulos aos quais somos submetidos.

A milenar sabedoria oriental tem ciência disso há tempos, tendo desenvolvido um método extremamente eficaz de deixarmos nosso cérebro descansar e se recuperar em paz: a meditação. Vale a pena experimentar.

Uma corrente de estudos sustenta que a misteriosa e mágica intuição é uma  "resposta natural de um cérebro sadio à uma demanda específica", e que não se define satisfatoriamente através de palavras.

Nosso pior inimigo não são os outros. Somos nós mesmos. 

A gente complica tudo e muito.

Edmir Saint-Clair

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CADA UM LÊ O QUE QUER, NÃO O QUE ESTÁ ESCRITO

 

A afirmação é apenas um fato. Incontestável: Jair, já foi.
Não citei absolutamente nada a mais do que um fato acontecido e conhecido, sem nenhum julgamento de valor.
    Apenas criatividade na comunicação de um fato.

Interessante é a quantidade de interpretações e leituras que cada um faz desse meu post, no meu perfil do Facbook. Suscitou comentários dos mais variados possíveis. Alguns revoltados, outros satisfeitos mas, tanto uns quanto outros, por motivos, palavras e intenções jamais manifestas no post.
A partir de trê palavras (já, ir e foi) as interpretações mostram como cada um lê o que não está escrito.
Ou seja, cada um "escreve" mentalmente seu próprio sub-texto. Que, talvez, o autor do original nunca tenha sequer suposto. Mas, que, também, pode ser exatamente o que ele pretendia.

Sou profissional de criação publicitária e o objetivo dessa peça é o mesmo de qualquer outra peça de comunicação, capturar sua atenção. Acho que consegui.

Todo o resto, é pura interpretação de cada um.


CENAS DESCONCERTANTES

Um jovem monge tibetano , recém-chegado em Copacabana, resolve perguntar a um rapaz que passava:

- Como faço para chegar até o Cristo Redentor?

O rapaz faz um sinal apontando para o celular do jovem monge. O monge o entrega ao rapaz que o pega e sai correndo.

Edmir Saint-Clair

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SIMONE BILES

Qualquer atleta que chega a disputar uma olimpíada (exceções sempre existem) tem por trás e sobre si o trabalho e a expectativa de um sem numero de profissionais e familiares. Ela é a ponta de um projeto sobre a qual pairam expectativas superlativas.

No começo, o atleta já se torna a oportunidade que a família vê para ascender financeira e socialmente. Passando, assim, a ser focalizada como a esperança de todo seu círculo familiar.

Desde pequenos, as crianças que demonstram aptidões extraordinárias passam por esse processo de deixar de serem apenas elas próprias para passar a “representar” seu grupo. Em atletas do nível de Simone Biles, que despontam ainda muito precocemente, o peso de cada conquista vai se acumulando, não como alegrias, mas como obrigação de corresponder ao que esperam dela. Cada vez mais. E pelo caminho essa pressão só vai aumentando. Além da família, entram nessa história empresas patrocinadoras, comitês esportivos, agremiações, confederações e mais um enorme contingente de entidades e pessoas que irão explorar aquele talento de todas as formas possíveis e imagináveis.

Até chegar ao nível de um superatleta, não é difícil imaginar o tamanho das expectativas e dos interesses depositados sobre esses ombros, ainda adolescentes, durante anos e anos. Agora, multiplique essa pressão, já absurda, por 10 e teremos o peso sofrido pela maior estrela da Olimpíada de Tókio.

A meu ver, o que Simone Biles fez foi de uma humanidade comovente.

Num evento onde todos desejam ser super, ela quebrou as regras e desejou ser apenas humana.    

Com todas as contradições e incertezas que faz cada um de nós ser quem é.

Num tempo onde lutamos por direitos iguais para todos, independente de raça, gênero, religião e todos os tipos de discriminação, a atitude de Simone Biles resume todos esses movimentos num só: o direito de ser humano.

Porque o ser humano é tudo isso.

E o super-homem não existe.

 – Edmir Saint-Clair

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MEU AMIGO QUE VOAVA

Um cara engraçado, que sabia rir de si próprio como só as boas pessoas sabem.  Uma combinação incomum, que misturava coragem com um jeito atrapalhado. Se a sorte não tivesse se juntado nesse tempero, teria ido mais cedo para o outro lado.

Uma pessoa aberta a novos pensamentos. Adorava uma novidade. Um desbravador. Sempre que ouvia falar em algum lugar novo, fora do “circuito descolado”, punha-se a caminho para conhecer. De moto, de Kombi ou de Brucutu, um carro equivalente a um Off Road, adaptado por ele. 

Morador do Leblon, depois Ipanema, curiosamente era a montanha e não a praia, que o seduzia. Não era morar na montanha, a onda dele era saltar lá de cima. E Lá em cima ele encontrou sua praia. E decidiu passar o resto da vida voando. E passou.

Quando descobriu que podia ter asas, demitiu-se do cargo de engenheiro civil no funcionalismo público, que lhe remunerava muito bem e lhe oferecia estabilidade, para fazer vôos duplos de para-pente, em São Conrado.

Foi feliz. Viajou e se aventurou, como gostava, para voar em lugares inusitados. Coisas do Bode. Bode não, Carlinhos. Que Carlinhos? O Bode. 

Teve a vida cheia de altos vôos e soube fazer suas escolhas valerem à pena. Conservou, até o fim, a mesma curiosidade adolescente, a mesma alegria ingênua e espontânea. Era capaz de rir e de fazer piadas nos momentos mais difíceis que enfrentou.

Um aventureiro corajoso por natureza. Amigo por vocação. Sempre teve muitos porque sabia ser um amigo dos grandes. Daqueles que a gente pode contar e ligar no meio da madrugada, fosse para chorar ou para comemorar. No imaginário popular, não devemos contar nossas expectativas antes que se realizem, para não despertar olho gordo. Mas, para mim, ele dava sorte. Todas as vezes que estava esperando o desfecho de alguma situação, uma resposta importante, contava para ele. Sempre me deu sorte.

As muitas décadas que convivemos, me deram a honra conhecer um ser humano autêntico e admirável. Um dos momentos mais significativos de nossa amizade, é a satisfação de ter podido expressar, com todas as letras, pessoalmente, o meu amor e a minha admiração para com esse irmão que cativou minha alma com sua essência cheia de bondade.

A ausência já não machuca tanto depois de alguns anos. Mas, nunca vou deixar de sentir saudades. Ao mesmo tempo, tenho muita alegria de ter convivido com esse amigo que me ensinou que era possível voar.

- Edmir Saint-Clair

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REFLETIR

Os benefícios da meditação estão provados e comprovados por vários ramos de pesquisas científicas reconhecidamente qualificadas e competentes. Benefícios inquestionáveis para o corpo e para a mente.

São um sem número de práticas que utilizam técnicas igualmente bastante diversas, que tem na meditação sua espinha dorsal e a partir de sua prática discorrem suas diferentes correntes de pensamentos filosóficos.

Sem questionamentos, não é esse o sentido dessa crônica, desse pensar publicamente.

Ocorre, que nesse contexto me dei conta de que nunca mais ouvi ou li ninguém discorrer a respeito de uma prática que tem um conceito simples, pessoal e intransferível; a reflexão.

Refletir, olhar-se, espelhar-se, examinar-se para se entender ou não. Aí está o exercício mais vital para não perdermos o contato com nossa essência individual e única.

A reflexão é a concentração da mente sobre si própria, suas representações, ideias, sentimentos e atitudes. É prestar contas a si mesmo sobre seus pensamentos, motivações e ações.

Os católicos romanos utilizam uma expressão bastante feliz para essa prática: exame de consciência.

O momento em que somos tanto o psicólogo quanto o paciente. Ou seja, a responsabilidade é grande.

A reflexão é o diálogo interno, é conversar consigo mesmo, reavaliando nossas regras internas, limites, desejos e valores. É aferir se nossas ações correspondem ao conjunto de princípios no qual acreditamos e apoiamos nossas crenças pessoais.  É o auge do exercício do livre arbítrio. 

Porque se fala tão pouco, para não dizer que não se fala, sobre essa prática tão necessária? Porque não existem tutoriais no YouTube ensinando a refletir? Ensinando a fazer um exame de consciência.

A reflexão transformada em um ritual tal como a meditação na Yoga, pode ser um exercício extremamente transformador. Um momento de prestar contas a si mesmo sobre seus pensamentos e atitudes. É não nos distanciarmos demais de nossa natureza. Perder-se de si, de seus valores e princípios, geralmente, tem um preço psíquico bastante alto, não raro, impeditivo para quem busca o equilíbrio psicológico.

Meditar é tirar todos os pensamentos da mente. Refletir é prestar contas a si mesmo. São práticas complementares, pode-se praticar uma após a outra. Primeiro a conversa consigo e depois o descanso da mente. Perfeito.

Refletir é refazer mentalmente os passos que nos trouxeram até aqui, o quanto isso nos custou e se é aqui mesmo que desejamos estar. É focar em si, avaliar as próprias  atitudes, com o objetivo de perceber onde e como podemos ser melhores para nós mesmos, para os outros e para o mundo. 

- Edmir Saint-Clair

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O MAIS TRÁGICO DE TODA ESSA TRAGÉDIA, É A BANDIDAGEM EXPLÍCITA E INTOCÁVEL CAPILARIZADA POR TODAS AS INSTÂNCIAS.

 


    Estão mais do que explícitas as carências emergenciais do país: saúde e caráter em quem exerce qualquer tipo de poder público. E, se não fossem as atividades econômicas informais, vale dizer, a inventividade do brasileiro, estaríamos tendo uma mortandade, paralela a da Covid-19, ainda mais trágica: a morte pela fome.

    Não existe brasileiro que, em sã consciência, não perceba a desumanidade, o descaso e a desonestidade disseminadas por todas as instâncias governamentais. Nossa maior crise é a falta de caráter. E, não é de hoje.

    A pandemia apenas escancarou essa que é a maior desgraça nacional.
- Edmir Saint-Clair

DESABAFO DE UM BRASILEIRO

 

O Brasil é, hoje, um país dividido. Não só entre correligionários desses arremedos de políticos. Mas, entre os que fazem parte da estrutura do poder e TODO o resto do povo.

Resto? Como assim, se somos a maioria? Como assim, se somos os patrões de quem deveria governar em nosso nome? Mas, basta olharmos para nós mesmos que não teremos dúvidas, somos o resto...

Enquanto o povo brasileiro se bate por políticos desonestos e corruptos (de TODOS os partidos), os mesmos celebram alianças para garantir que tudo continue como está. Em TODAS as esferas e instâncias, executivo, legislativo e judiciário.

Estamos regredindo de forma impressionante! Em tudo. Nos costumes, na cultura, nas crenças primitivas que se disseminam facilmente por uma população sem esperanças, criando um foco a mais de exploração da miséria brasileira.

Somos ignorantes, limitadíssimos intelectualmente. Afinal, como poderia ser diferente sem escolas e sem professores preparados, prestigiados e bem remunerados?

Discutimos e nos digladiamos por temas há muito ultrapassados na história do mundo civilizado. Estamos no século passado e caminhando a passos largos para o século XIX.

Nossos melhores cientistas, pesquisadores, pensadores e expoentes, em todos os campos do conhecimento humano, foram para fora do país. Em busca de trabalho digno. Aqui, não têm incentivo, não têm verbas, não têm futuro algum.

E, sem as cabeças pensantes que nos impulsionariam para o futuro, nos tornamos ainda mais ignorantes e limitados. Condenados a piorar cada vez mais.

Dói, dói muito ver meu país assim. E, acredito que, como em mim, essa dor esteja presente no dia a dia de milhões de brasileiros. Uma dor na alma.

Mas, por mais burros, limitados e covardes que sejamos não merecemos isso. Deveríamos, pelo menos, merecer a complacência com que se deve tratar os idiotas, ignorantes e fracos.

Mas, a classe política não tem mais nenhum escrúpulo e nem vergonha na cara. Solidariedade, humanidade, responsabilidade e verdade não existem no mundo sujo deles. Praticam a mentira e o escárnio a luz do dia com transmissão ao vivo, há muito perderam qualquer vestígio de decência. A impunidade com requintes de crueldade, é repugnante. Dá nojo ver uma sessão do congresso ou do STF.

Escarram na nossa cara e em seguida nos obrigam a engolir. Nojentos. Diariamente. Em TODAS as instâncias de poder. Executivo, legislativo e judiciário. Em TODAS as cidades, municípios, estados e no governo federal.

É triste, muito triste.

- Edmir Saint-Clair

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Nunca entendi direito o motivo da entrada do Padre Frederico na vida da minha família naquele início do ano de 1971. Meus pais não dividiam com os filhos quaisquer oscilações naturais da vida comum e aparentemente tranquila que levávamos. Mas, é claro que existiam e, naquele momento, eles resolveram recorrer a uma ajuda extra de um padre católico. A religião católica em si não era novidade lá em casa, ao contrário, fomos criados como toda nossa geração com aula de catecismo e primeira comunhão na Igreja Santa Mônica do Leblon. Mas, entre os irmãos ninguém tinha muito interesse pelo assunto. Cumpríamos o que nossos pais pediam, sem questionamentos, como todos os nossos amigos.

De um dia para o outro, um padre alemão, chamado Frederico, começou a ir todas as quintas-feiras à noite para cumprir o mesmo ritual: primeiro rezava uma pequena missa num altar improvisado na cômoda do quarto dos meus pais, seguido de um lauto jantar com pratos saborosos e diversificados. O padre sempre caía matando na refeição. Comia que nem um condenado e haja comida para sustentar aquele corpanzil. Ele era alto, cerca de 1,90m, louro de olhos azuis, um alemão bem alemão, inclusive nascido na Alemanha, como todo alemão tem que ser. Sua aparência, o sotaque forte e o jeito circunspecto faziam com que sua figura ganhasse ares extraordinários. Eu e meus irmãos quase não falávamos, mas, sentíamos a cerimônia daqueles momentos. Acima de tudo, era estranho.

Não durou muito aquele período, talvez pouco mais de meio ano, mas toda quinta-feira tinha missa e jantar do padre Frederico. Só lá em casa tinha isso e a gente não comentava com ninguém. Lembro-me de uma conversa, entre os adultos, de que era proibido rezar missa na casa de fiéis sem autorização prévia, o que ativou ainda mais minha curiosidade, afinal aquilo era algo proibido.

Certa ocasião minha mãe resolveu agradar mais o padre Frederico e conseguiu uma receita do tal do chucrute, um prato típico alemão, do qual nunca havíamos ouvido falar. 

Quinta-feira, e lá foi ela para a cozinha preparar a receita junto com a nossa empregada, que era uma baiana que cozinhava divinamente, mas nunca tinha ouvido falar em chucrute.

Veio à noite, família reunida, padre Frederico aguçou nitidamente o olfato assim que adentrou a porta. E apressou-se em iniciar a “missa” que, naquele dia, foi bem mais curta. O padre estava com fome. Já na chegada meu pai o avisou que tinha uma surpresa gastronômica para ele no jantar. O padre, que não era de recusar prato algum, ficou ainda mais animado. Minha mãe notou a animação e segredou, igualmente animada, para nós:

- Ele sentiu o cheiro do chucrute!

Minha mãe deixou a finalização do chucrute aos cuidados da Zoraide e fomos para o quarto assistir a missa.

Quando voltamos para a sala, a mesa estava posta e diversos pratos, carne, ave e peixe o esperavam, além dos acompanhamentos, dentre eles o tal do chucrute

O plano da minha mãe era não falar nada e deixar que o padre tivesse a agradável surpresa de descobrir o prato típico de sua terra natal no meio dos outros. Combinou conosco que ninguém deveria falar nada. Todos cumprimos à risca o trato.

O jantar transcorria normalmente, o padre foi se servindo, um a um, de todos os pratos com igual apetite, mas, nada de pegar o chucrute. De repente, minha mãe olhou para a travessa de chucrute e estranhou a cor da combinação que deveria ser só de repolhos e molho branco. Estava com a cor de azeite de dendê pálido dada a mistura com o molho branco. Sincronizadamente com a estupefação veladissima da minha mãe, padre Frederico pega a travessa e serve-se. A príncípio apenas um pouco, para provar. Ato contínuo, faz uma expressão de aprovação e serve-se fartamente daquilo que ninguém sabia o que era. Sorrindo, pergunta com seu forte sotaque:

- Muito gostosa esse comida. Gosta muita de azeita de dênde. Como chama?

Sem perder a pose, minha mãe respondeu:

- É uma especialidade da nossa cozinheira baiana.

Ele nunca soube que aquilo era um legítimo chucrute baiano, que acabara de ser inventado naquele momento.

Nunca soube por que o padre veio nem porque não veio mais. Mas, sempre que ouço falar em chucrute, lembro-me do chucrute baiano do padre Frederico.

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