COACH LITERÁRIO

O ORIENTADOR LITERÁRIO é um profissional que acompanha, ensina e participa de todo processo de criação de um livro. Um profissional técnico, especializado em criação, um professor de escrita e um parceiro, ao mesmo tempo. Experimente, é terapêutico e libertador. Perpetue as histórias que só você tem para contar.
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UM NATAL INESQUECÍVEL

 

           Há alguns anos não festejava o Natal na minha casa encantada, o apartamento 1004 do Amarelo, no Condomínio dos Jornalistas, no Leblon. Apesar de morar no Rio, sempre passava as festas com a família, em Brasília. Naquele ano não fui.

No dia 24 de dezembro, acordei angustiado, era a primeira vez que não sentia a agitação característica desse dia especial acontecendo na casa dos meus pais. A árvore de natal armada na sala com direito a pisca-pisca ligado dia e noite. Esse ano a luzes não estavam piscando nem tinha árvore e eu senti falta. Eu já me achava adulto, mas, com certeza ainda não era. Aquele dia estava sendo uma experiência totalmente nova para mim. Um dia como eu nunca havia vivido antes.

     Para suprir aquela inquietude, resolvi chamar uma galera para levar um som lá em casa, depois das comemorações natalinas familiares. O combinado foi começar por volta de uma hora da manhã.

Desde cedo, a agitação no meu andar começou, como sempre, com as portas abertas dos apartamentos da Dona Letícia e da Dona Élida, exalando cheiros deliciosos de assados e outros quitutes. Logo que saí no corredor fui intimado a comparecer às duas ceias, que, no meio da noite, se fundiam numa só. Prometi que não faltaria, seria a primeira parada depois da ceia na casa da Dona Lila, mãe do Dedé, que já havia me convidado desde que soubera que eu passaria sozinho.

O transcorrer da véspera de Natal no Condomínio dos Jornalistas era uma festa desde que o dia nascia.

Chegavam pessoas de todos os cantos para os encontros familiares. Pessoas que, normalmente, não frequentavam as áreas comuns o faziam nesse dia, e o clima de festa se instalava.

O bar do Seu Antônio e da Dona Maria ficava lotado. Seu Joaquim não parava um minuto no sobe e desce pelos apartamentos do condomínio, abastecendo-os de cerveja e refrigerantes. Até o forno industrial do bar era cedido, gratuitamente, para alguns moradores e ficava lotado de assados.

 Era possível sentir no ar a harmonia que reinava.

 Minhas lembranças são de uma comunhão geral. Não havia quem passasse e não fosse recebido com um Feliz Natal, ao qual sempre retribuía contagiado pelo mesmo entusiasmo. Era dia de desejar felicidades a qualquer pessoa que entrasse no Jornalistas.  

A sensação era de que os corações floresciam. Em nenhum outro dia do ano havia tantos sorrisos.

Passar na casa dos amigos para as felicitações era uma tradição do Jorna e, naquela noite, a comilança foi interminável. Voltei para a minha casa, completamente empanturrado das melhores comidas de Natal que se pode imaginar. Fiz um tour gastronômico por todos os pratos típicos da culinária brasileira. Acho que foi naquele dia que comecei a ter barriga...

Apesar da saudade, naquele primeiro Natal que passei sem minha família, várias outras mães, pais e irmãos me acolheram. Não me senti sozinho um minuto sequer nem naquele dia, nem naquela noite.

Passadas as comemorações familiares, era hora da festa na minha casa encantada, o 1004. O primeiro a chegar foi o Dedé com um digestivo salvador. Logo vieram Abelha, Bode, Mito, Marquinho e a violada começou cada um no seu instrumento e eu com o lendário violão do Sig.

Não demorou para que os astros da noite também chegassem: Babalu, Kássio, Mário Japão, Cláudio Urubu e o Tuca. E foram chegando mais amigos e amigas e mais amigos de amigos e mais amigas de amigas e gente que eu nunca tinha visto antes. Porque era natal.

Fechamos a noite todos cantando e tocando juntos, acompanhando nosso amigo Cláudio Urubu em sua música mais bonita, em parceria com Raul Seixas, declarando ao mundo que íamos todos “... ficar com certeza Malucos Beleza”.

Acho que ficamos.

Edmir Saint-Clair

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UMA NOVA LISTA DE ANO NOVO

 

Dezembro, o mês mais emocional do ano.  

Parece a chegada de uma gigantesca maratona da qual toda a população participou. A sensação coletiva é de exaustão, de enorme cansaço físico e emocional. Para onde olharmos, veremos a mesma coisa. Uma mistura confusa de afetos e sensações contagiantes que nos coloca, a todos, num mesmo e imenso barco onde juntos navegamos por águas sentimentais que provocam uma fragilização emocional coletiva alimentada freneticamente pelas mídias e toda sorte de propagandas, músicas e decorações natalinas onipresentes até onde a vista e os ouvidos podem alcançar. Não tem como fugir.

Faz parte da nossa cultura essa “emocionalização” potencializada pelas festas natalinas e pelo final do ano. Em suas origens, havia um apelo religioso que, por conseguinte, conduzia as pessoas à reflexão típica da cultura judaico-cristã, que sempre leva todos os "pecadores" a um certo grau de sentimentos de tristeza e culpa. A tradição é pensar em nossos erros, frustrações e ausências.

Mesmo que não tenhamos feito lista alguma de resoluções e planos para o ano novo, o que nos vem à lembrança é uma relação de coisas que pretendíamos ter realizado e não o fizemos. A data que, hoje, tem pouco de suas origens religiosas, foi engolida pelo Marketing que aproveitou essa “emocionalidade” exacerbada, potencializando-a ainda mais, através das ações de publicidade, fazendo transbordar essas emoções de frustração e culpa que são habilmente canalizadas para o aumento do consumo de bens.

Quanto mais o envolvimento, a emoção e a culpa forem despertadas, mais cada um de nós vai gastar dinheiro.

Ao refletir sobre esse movimento anual, me parece que valeria a pena experimentar uma forma de, ao chegarmos ao final do ano, em vez de pensarmos nas besteiras e bobagens que fizemos ou deixamos de fazer, como em todos os anos passados, pudéssemos reconhecer nossos acertos e mudanças positivas.

 Pensando numa maneira leve e produtiva de alcançar esse objetivo, podemos brincar de fazer durante o ano seguinte, uma lista que pode mudar completamente essa sensação desconfortável que a “tristeza de fim de ano” provoca na maioria de nós.

E Se, em vez dos afetos negativos, no próximo ano tenhamos uma relação de afetos positivos para recordarmos?

Pensando nisso, proponho AMA NOVA lista de ano novo.

A diferença, é que não será uma lista de planos e metas sobre entrar na academia segunda-feira, começar um regime ou aprender um novo idioma.

Será uma lista de realizações e não uma lista de desejos.

A nova lista será feita não antes, mas durante o desenrolar do novo ano.

Uma brincadeira diária de registrar nossos eventos rotineiros, mas só as ações que foram efetivamente realizadas, que aconteceram de verdade. Porque de boas intenções o inferno já nos enche diariamente.

E o objetivo maior é aumentar o autoconhecimento de forma leve e nos dar reais motivos para acreditarmos em nós mesmos.

A NOVA lista de ano novo:

1 - Anote tudo que acontecer de bom com você, todos os dias. Por mínimas que sejam.

2 - Registre todas as manifestações culturais as quais tiver acesso e as suas impressões sobre o que sentiu. Seja Um artista de rua, um cantor desconhecido no barzinho, filmes, peças de teatro...e claro, as grandes produções que assistir.

3 - Registre todas as vezes em que perceber um traço em si que não lhe agrada. Escrever potencializa a introjeção e induz a reflexão sem culpa. Na primeira oportunidade tente fazer diferente e anote com destaque quando conseguir.

4 - Anote todas as vezes que conseguir se conter e evitar uma briga na qual, normalmente, você se envolveria.

5 - Anote todas as vezes em que conseguir trocar a competitividade pelo companheirismo.

6 - Registre as vezes em que estiver sozinho e sentir uma sensação gostosa de alegria e bem-estar.

7 - Anote, com destaque, todas as vezes em que conseguir AGIR exatamente como você gostaria.

 Dessa forma simples e acessível a qualquer pessoa, no final do ano seguinte, teremos inaugurado um caminho totalmente novo, através do autoconhecimento, para nos orgulharmos de nós mesmos por motivos concretos e determinantes. 

E estaremos alimentando a crença mais importante e positiva que existe: a crença de cada um em si e de que, todos, temos o poder de modificar a nós mesmos.

FELIZ 2024!




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ÁGUAS DE MARÇO EM LONDRES

 

A última coisa que se espera, quando estamos em outro país, no caso a Inglaterra, é que um inglês saiba uma letra de Tom Jobim melhor do que a gente, que é brasileiro e carioca.

Estava vivendo um tempo em Londres, maravilhado com aquela mágica atmosfera londrina da segunda metade dos anos 80. Uma das coisas me levou até lá foi a música.

Uma das características mais fascinantes da cidade é a quantidade de lugares onde se pode ouvir música ao vivo. Nos parques, estações de metrô e restaurantes, na hora do almoço. A partir do entardecer a oferta aumenta e não existe lugar no mundo com mais estabelecimentos com música ao vivo.

Os pubs londrinos são famosos, não se precisa acrescentar nada ao que já foi dito quanto a isso.

Tive vontade de tocar num pub londrino. Uma apresentação solo. Voz e violão, como nunca havia feito ou sequer cogitado até aquele momento. Um pocket show de bossa-nova. Nunca fui bom em decorar nem as minhas próprias letras, mas como eram todas em português, mesmo que eu errasse ninguém perceberia. A vida inteira participei de bandas, nunca havia feito uma apresentação solo.

Meus amigos ingleses se encarregaram de conseguir o lugar para que eu realizasse minha fantasia musical.

Era um restaurante bastante agradável e espaçoso. Claro e arejado, nem parecia ser londrino. O pequeno palco era baixo e a altura do som era regulada como música ambiente. Não incomodaria quem estivesse conversando. Perfeito para mim.

Uma experiência similar a dos músicos de churrascaria, mas em Londres. Pelo menos, não tinha ninguém conhecido se o fiasco acontecesse. Isso me trazia calma.

Depois de desfilar um monte de Djavan, Toquinho, Gil, Tom e Vinícius, resolvi finalizar o set cantando Águas de Março.

Durante toda a apresentação, uma mesa próxima demonstrara estar gostando. Das sete ou oitos pessoas, um homem em particular estava bastante entusiasmado. Inclusive, me pareceu cantar algumas em português. Pelo tipo físico, era inglês com certeza.

Quando iniciei o primeiro “é pau, é pedra...”, do que seria a última musica, ele se levantou, subiu o pequeno degrau do palco e fiz-lhe um gesto encorajando-o a se aproximar. Parei de tocar, ele se apresentou gentilmente e disse que sabia a letra da música, em português...

Quase lhe respondi:

- Que bom, porque eu mesmo não sei...

Mas, achei melhor não.

O inglês pegou o microfone auxiliar e começamos o dueto mais surreal da minha vida. Como eu sabia que aquele restaurante era freqüentado quase que exclusivamente por ingleses, e eles não tem o costume de decorar a letra de Águas de março, não me preocupara com minha amnésia musical até aquele momento.

Mas, o desgraçado sabia a letra todinha... E, a partir da segunda estrofe , eu comecei a misturar pau com pedra, com toco, com fim do caminho, com chuva e o inglês tentando ir atrás do que eu falava...

Claro, afinal o brasileiro ali era eu. Se tinha alguém errando a letra em português só poderia ser ele!

Logo após soar o último acorde daquele desastroso dueto internacional, o pobre inglês aproximou-se, nitidamente constrangido, e ficou se desculpando por um bom tempo por ter se atrapalhado com letra. Afinal, disse ele, o português é uma língua muito difícil... No que eu concordei prontamente.

 Ele ficou tão inconformado que quase confessei que quem errara a letra inteira fora eu. Ele acertara tudo. 

Mas, achei melhor deixar quieto.

– Edmir Saint-Clair

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IMAGINAÇÃO: UMA FACA DE DOIS GUMES

 

Criatividade x Fantasia?

As duas nascem no plano da imaginação e se confundem, a princípio. Mas, A criatividade é ativa e a fantasia é passiva, é o sonhar acordado recreativo.

Ambas fazem parte do plano das idéias e são derivadas da nossa faculdade de imaginar coisas e situações que não existem.

Elas São as duas faces de uma mesma moeda, mas com uma diferença fundamental: não tem o mesmo valor quando se trata de produzir, efetivamente, algo de concreto, no mundo real.

O lado positivo da imaginação produz a criatividade, que se manifesta acompanhada da ânsia de transformar em realidade aquilo que foi imaginado, resultando em sua realização efetiva.

A criatividade pressupõe um projeto de amanhã. Tende a Evoluir, tornar- se um projeto e realizar-se.

O sonhar acordado recreativo, apesar de muito valorizado, tem um aspecto bastante negativo; nem sempre evolui para ser um projeto de construção de um amanhã e pode ir direto para um estado de prazer imediato que a fantasia, também é capaz de proporcionar.

No sonho não há limites, podemos tudo. Inclusive sonhar com os resultados mais fantásticos para algo que só existe em nossas mentes. Para quem se encontra fragilizado, não acreditando em seu próprio potencial de realização, a fantasia pode se tornar tudo que resta. A fantasia busca o prazer imediato, busca apenas um alívio, um caminho fácil. Como uma droga.

 Ela não pensa em construir sua própria realização, apenas sonha inconsequente.

A fantasia, quando é levada apenas como brincadeira, como um recreio da mente, é muito saudável. As fantasias sexuais, por exemplo, são os mais poderosos afrodisíacos que existem e produzem momentos de extremo prazer, intimidade e felicidade legítimas.

 É normal fantasiarmos, por exemplo, ser um pop-star ou um ídolo famoso. Quem nunca se apresentou para um estádio lotado e foi aplaudido de pé, enquanto cantava em dueto com o seu maior ídolo embaixo do chuveiro de casa?

Enquanto, ficar só embaixo do chuveiro, essa fantasia não passará de uma brincadeira deliciosa e inconsequente. Enquanto ficar no plano da diversão e do prazer, ela servirá plena e saudavelmente à sua natureza, que é realizar-se em si mesma.

Mas, sozinha ela não atende às nossas necessidades básicas de sobrevivência. Ela não resiste a realidade do dia a dia.

Nossa mente é palco constante desse tipo de  ambigüidades traiçoeiras.

 A partir do poder de sonhar acordado, tanto podemos evoluir na direção da imaginação criativa quanto para a fantasia paralisante.

Normalmente, desenvolvemos as duas vertentes, de modo que, no início do processo imaginativo, fica muito difícil prever para que direção aquele pensamento irá pender.

No nascedouro das idéias, elas não tem diferença alguma, são a mesma coisa: nossa mente abstraindo e projetando. Somos capazes de imaginar eventos bastante complexos.

O destino que damos a nossa fantasia é o que faz toda a diferença. O prazer de fantasiar também produz dopamina e, é aí que está o perigo. Pode se tornar uma válvula de escape tão perigosa quanto qualquer droga e realizar-se em si mesma, não gerando ou produzindo nada para o mundo real.

Sempre temos a opção entre arregaçar as mangas e tentar produzir o que fantasiamos ou nos sentarmos e continuar fantasiando, também, as consequências. Fantasiando como seria bom se aquilo se realizasse e, entrando numa viagemno de "sentir-se" famoso, bonito, rico e tudo mais que um sonho consegue, ou seja, tudo.

A fantasia, nesses casos, pode alcançar estágios perigosos e delirantes, principalmente, em indivíduos em momentos delicados e uma relação fragilizada com a realidade. Afinal, para quê mais, se a fantasia já traz em si mesma o alívio e a recompensa mental?  Um efeito muito similar a algumas drogas pesadas e viciantes.

O interessante dessa história, é que, quando bem dosada, a fantasia pode ser um elemento propulsor da imaginação e da ação. Assim como imaginar criativamente, fantasiar os resultados também faz parte do nosso mecanismo de automotivação.

Se for encarada como um dos gatilhos possíveis para desencadear um processo produtivo, será extremamente saudável.

Mas, caso se torne um evento inconsequente e sem compromisso algum com a realidade, será infrutífero e inócuo. Produzindo apenas frustração.

Viver sonhando acordado, sem arregaçar as mangas para realizar os sonhos, pode trazer danos psicológicos profundos e graves. 

- Edmir Saint-Clair

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AMAR E SER FELIZ - (Felicidade, desesperadamente)

Fruto do mais legítimo acaso, caiu-me nas mãos um livro particularmente necessário para mim, naquele momento.

Identifiquei-me profundamente com os pensamentos ali expressos. Trata-se da transcrição de uma palestra do filósofo francês contemporâneo André Comté- Sponville.

 O nome do livro é Felicidade, desesperdamente.

Ele faz um passeio pela história da filosofia, e através da ótica de várias escolas filosóficas, discorre sobre as emoções humanas, particularmente o amor.

O livro me fez compreender o que sempre pensei e nunca havia conseguido enunciar e entender de forma tão clara e objetiva.

A identificação com a condução do raciocínio em torno do tema proposto pelo escritor foi completa. A primeira coisa que me fez ver, é que eu havia, finalmente, compreendido o que é amar de verdade, para mim. Não no sentido de intensidade, mas, no sentido de profundidade e amplitude. E, principalmente, no sentido da ação.

O amor saudável é aquele que desperta, espontaneamente, nossas melhores características pessoais. O lado mais humano, amigo, parceiro. É o que provoca a atitude de fazer o outro feliz em cada interação. É o cuidado de utilizar a percepção, que a sintonia com a pessoa amada provoca, para chegar aos mais deliciosos, profundos e nobres requintes do amor. 

E, por causa dessas atitudes bonitas para com o ser amado, nos vemos mais bonitos, iniciando um ciclo muito saudável. Nossa autoestima aumenta, o que nos faz amar o amor que sentimos pela outra pessoa. E, esse ciclo se estende ao sermos retribuídos e, por isso, amamos ainda mais a pessoa que nos faz sentir todo esse prazer de viver. Isso aumenta e se fortalece a medida em que transformamos esse amor em novas atitudes, nos fazendo capazes de sentir felicidade pela felicidade do outro.  Isso vai aprofundando cada vez mais um aspecto extremamente acolhedor e compensador numa relação: cultuar as afinidades.

Cada um do seu jeito, com as suas verdades. Unidos apenas pela felicidade de estar juntos. Pela alegria e o prazer que o amor pode proporcionar.

É preciso aprender a amar saudavelmente e isso leva tempo. E, na maioria das vezes, dói aprender.

 A felicidade não existe para o amor dos imaturos, do desejo egoísta que quer o objeto porque não o tem. Do que quer a posse, o controle, o poder de manipular o outro através dos sentimentos.

Estes estão condenados a infelicidade.

Acredito no amor saudável que traz consigo a possibilidade real de felicidade. Que nos faz sentir alegria apenas com o pensamento de que a pessoa amada existe, e também nos ama. A simples ideia da existência do outro já é razão de sentir alegria.

No amor saudável não existe posse. Existe desejo.

Não existe obrigação. Existe vontade.

Cada encontro acontece porque o desejo impulsionou. Porque traz prazer e alegria.

O prazer de se sentir o objeto de desejo do nosso objeto de desejo é indescritível, é o momento mais mágico da vida.

O amor saudável é a sensação de prazer além do próprio prazer, é o prazer com o prazer do outro fazendo parte integralmente do próprio; e assim, multiplicar por dois as possibilidades de felicidades múltiplas.

Dito dessa forma parece simples. Mas, definitivamente não é.

Exige muito aprendizado e vontade de ser e fazer a nossa vida e a de quem amamos, ser uma caminhada que valha a pena ser compartilhada.

- Edmir Saint-Clair



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A POSSE MAIS HUMANA DE UMA AUTORIDADE NA HISTÓRIA DO BRASIL


A posse do ministro Luís Roberto Barroso ontem, 28 de setembro de 2023, como presidente do STF, foi histórica por diversas razões. 

Todas lindamente humanas e, por isso, revolucionárias.

Pela primeira vez na história estiveram presentes entidades que, antes, nunca haviam sido convidadas para esse tipo de cerimônia: as emoções e os sentimentos humanos.

Em meio aos dirigentes mais austeros, circunspectos e inatingíveis da república, cujo tom e teor dos discursos deixa claro todo o eruditismo e falta de compromisso com a compreensividade e alcance de suas falas, principalmente, por parte do povo que deveriam representar e defender, surgiu uma voz diferente. 

Naquele plenário, símbolo maior da ostentação vernacular de um pretenso saber jurídico, que ninguém ousa verificar a plausibilidade. Enfim, em meio a chatice e superficialidade com as quais essas cerimônias sempre acontecem, houve uma quebra no cerimonial, houve uma peraltice dos sentimentos e das emoções humanas, que entusiasmadas por terem sido convidadas, começaram a circular e a se espalhar pelo salão. E, até a música popular, cuja presença sequer jamais havia sido cogitada, surgiu como convidada especial.

E, Todo Sentimento humano foi, ali, cantado, saudado e homenageado como o ato maior que a justiça dos homens deve conter:  o amor.

E, o novo presidente do STF, encerrou seu discurso cantando, através da voz de Maria Bethânia, o amor saudoso por sua esposa morta em janeiro de 2023.

E selou o momento histórico, emocionando os presentes e os futuros. 

A FORMATURA DA FAMÍLIA

 

Ele nunca vira sua mãe tão feliz. A formatura do irmão mais novo rompia uma histórica limitação familiar que nunca tivera um membro formado na faculdade. A cerimônia prometia ser emocionante e ninguém da família deixara de ser convidado.

Na chegada ao local, estavam todos compenetrados e um tanto constrangidos com o requinte ao qual não estavam acostumados. O padrinho alugara um terno mais caro do que o de seu casamento com a madrinha. Tia Lúcia, a costureira da família, estava orgulhosa do fruto de seu árduo trabalho nos últimos 6 meses. Valera a pena, todas as mulheres da família estavam chiquérrimas.

Ele se sentiu leve e pleno quando viu a família ocupar uma fila inteira no enorme auditório da faculdade. Fora o excesso de perfumes, estavam todos com a alma e o corpo em vestes de gala, para testemunharem aquele evento que realizava a todos.

Quando o irmão mais novo caminhou em sua direção, vestido com a beca dos formandos, teve vontade de soltar o maior grito e abraço que já dera em alguém na vida.

O abraço silencioso só não foi mais longo porque a organização requisitava a presença dos participantes no palco para dar início a cerimônia de formatura.

Ele se sentou na poltrona ao lado da mãe e, quando as luzes da sala se apagaram, se deram as mãos frias, tremulas e fundidas na mesma emoção.

E viveram um dos momentos mais felizes que viveram.

Edmir St-Clair

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A TRIBO DOS NOTÍVAGOS

 

"Sem dúvida alguma, 

me sinto muito mais criativo e produtivo 

durante as noite e madrugadas."

          É interessante notar que muitas pessoas têm preferências diferentes em relação ao horário em que são mais produtivas e criativas. Ao contrário da maioria, para algumas pessoas a noite pode ser o momento ideal para se concentrar em atividades criativas e intelectuais, já que o ambiente é geralmente mais tranquilo e silencioso. Além disso, algumas pessoas podem ter um relógio biológico mais voltado para a noite, o que pode torná-las mais alertas e focadas no período noturno. Me identifico completamente com essa turma boa da madrugada.

         Para os notívagos da internet, a escolha de compartilhar conteúdo durante a noite pode ter outras vantagens, além da falta de interrupções. Em alguns nichos há um aumento na atividade online durante a noite, o que pode levar a um maior alcance e engajamento com um conteúdo mais robusto culturalmente. Além disso, os provedores apresentam menos tráfego durante as noite e madrugadas, o que pode ajudar a aumentar a velocidade de navegação e, consequentemente, a visibilidade e alcance de cada compartilhamento.

Mas, essa preferência pelo horário noturno nada tem a ver com o advento da internet e das mídias sociais. Remonta à antiguidade, desde os primórdios da civilização.

Existem muitos exemplos de intelectuais de renome mundial que eram notívagos e preferiam trabalhar e criar durante a noite. Um exemplo é o escritor argentino Jorge Luis Borges, que era conhecido por só trabalhar à noite, muitas vezes indo dormir apenas ao raiar do dia. Borges escreveu muitas de suas obras mais famosas durante essas madrugadas, incluindo "Ficções" e "O Aleph".

O físico britânico Stephen Hawking, que também era conhecido pela sua preferência por trabalhar durante as noites e madrugadas. Hawking dizia que gostava de trabalhar até tarde da madrugada porque era o período em que se sentia com mais energia e que apreciava o silêncio e a ausência de interrupções.

O escritor americano F. Scott Fitzgerald também era um notívago e trabalhava geralmente durante a noite e madrugada, sentado à mesa da cozinha enquanto com sua esposa, Zelda, pintava. Fitzgerald, que escreveu obras como "O Grande Gatsby", usava as noites e madrugadas para trabalhar em seus romances e contos.

        Outros exemplos mostram que o hábito de trabalhar durante as noites e madrugadas não está restrito a um país, região ou cultura específica.

No Brasil, também há artistas notoriamente notívagos, que preferem trabalhar e criar no período noturno. Um exemplo é o escritor Machado de Assis, o bruxo do Cosme Velho, considerado um dos maiores escritores brasileiros de todos os tempos. Machado era conhecido por trabalhar durante a madrugada, escrevendo até o amanhecer em sua casa naquele bairro do Rio de Janeiro.

Outro exemplo é o músico Tom Jobim, um dos mais importantes compositores brasileiros. Jobim, que escreveu clássicos como "Garota de Ipanema" e "Águas de Março", era conhecido por trabalhar durante as noites e madrugadas, ao piano de sua casa no Rio de Janeiro.

Ainda no âmbito da música, a Bossa-Nova, segundo depoimentos de diversos de seus criadores, sem dúvida alguma foi concebida e nascida nas noites boêmias do Rio de Janeiro.

O humorista, escritor, diretor, autor teatral e apresentador Jô Soares sempre declarou sua preferência por trabalhar durante as noites e madrugadas, nunca indo dormir antes das 4 horas da manhã.

Outro notoriamente notívago é o músico e compositor Caetano Veloso, que em entrevistas já afirmou que tem mais disposição para compor durante a noite.

Outra artista brasileira que se identificava como notívaga é a escritora e roteirista Fernanda Young, falecida em 2019.

Esses exemplos mostram que a escolha de trabalhar e criar durante a noite não é incomum e muito menos novidade oriunda da internet e redes sociais, principalmente em atividades ligadas a arte e a intelectualidade, durante toda a história da humanidade e por todas as regiões do nosso planeta.

Apesar dos estudos neurocientíficos, sobre o sono e nosso ciclo circadiano, apontarem que esse não é um hábito saudável, acredito que o aprofundamento no estudo dos indivíduos notívagos deve encontrar, nos próximos anos, explicações plausíveis para esse fenômeno.

O que me parece é que a opção por uma vida notívaga, na verdade não é uma opção consciente, e sim uma característica orgânica de certos indivíduos que, muitas vezes, sofrem com essa peculiaridade que os fazem terem enormes dificuldades para funcionar no chamado “horário comercial” vigente nas sociedades.

O certo é que, para esses indivíduos, o fato de serem notívagos provou ser uma abordagem eficaz para a produção de trabalhos criativos e intelectuais de altíssima qualidade.

Exemplos é que não faltam.


Edmir Saint-Clair

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A RECEITA DA FELICIDADE

 


Todos os dias, pipocam nas redes de comunicação milhares de textos sobre o tema “Felicidade”.

Livros são lançados, artigos escritos, vídeos e todo tipo de arquivos são produzidos e vem se juntar a uma já incontável biblioteca sobre o assunto.

É fácil perceber que existem milhares de rótulos cujo objetivo final é esse tal da felicidade: dentre tantos temos a psicologia, a filosofia, autoajuda, a meditação, sexo terapias, as práticas tântricas, as diversas vertentes da ioga e outras centenas de "cadeiras e disciplinas" buscando a mesma coisa por caminhos diferentes. Todos válidos, já que a busca é absolutamente individual

"A Felicidade não existe, o que

existe são momentos felizes".*

Por mais óbvia e simplória que essa frase possa parecer a princípio, traz uma verdade perturbadora e nem um pouco romântica. Já que em seu enunciado, determina a finitude inevitável de cada momento.

Mas, que tipo de felicidade transcendental é essa que a humanidade tanto procura? 
Uma felicidade perene e inalterável, onde cessam as tristezas e contrariedades.

O conhecido "foram felizes para sempre" como nos contos de fadas que parecem resistir a evolução e ao tempo no imaginário humano.

Assim colocado, fica fácil vermos que a felicidade, como um estado permanente, é uma utopia absoluta. Se transformaria em num desagradável tédio em pouco tempo, isso faz parte da inquieta natureza humana.

Mas, se a pensarmos como apenas momentos de pleno gozo da existência, ela se torna extremamente atraente e absolutamente possível. Dependemos dos altos e baixos para sermos felizes. Precisamos do ruim para valorizar o bom. O ser humano é assim. Precisamos estabelecer relações de valor para decidirmos entre umas coisas e outras.

A maioria de nós, que já passou de certa idade, tem razoável certeza de que existem muitos momentos em que nos sentimos plenos e felizes. Pelos mais diversos e variados motivos.

Saber perceber esses momentos, enquanto estão acontecendo, é fundamental no processo de aprender a ser feliz. Aprender a nos cercarmos de situações que possam
deflagrar aquela sensação tão desejada é como descobrir o mapa que leva ao nosso tesouro pessoal e intransferível de felicidades. Nosso paraíso interior.
Pena que só alcancemos isso na maturidade...

Esse processo é desenvolvido intuitivamente durante a vida, e a forma como esse aprendizado se consolida em cada um é o que determina a capacidade ou a incapacidade de alcançar esses momentos. Se desenvolveremos ou não a capacidade
de ser feliz.

Ser feliz é um aprendizado, um mérito pessoal. Uma conquista. Uma consequência da busca sincera e corajosa por nossa verdade essencial.

A consciência do agora, do exato momento em que estamos vivendo as emoções e explosões de bons sentimentos, é o que completa a felicidade, tornando-a plena como um gozo total do ser. 

É por esses momentos que a humanidade vive. Para sermos palco, em nosso interior, de uma explosão espetacular e plena de sentimentos e sensações que são absolutamente compensadoras e indescritíveis.

Às vezes, sua exteriorização não passa de um leve sorriso. Outras, é literalmente como um grito de gol do nosso time num estádio lotado no dia da grande final do campeonato! É quando a alegria é tão grande que não cabe dentro de nós e transborda.

Para que essas sensações, emoções e sentimentos se somem e explodam, é preciso que aconteça uma progressão sincronizada de acontecimentos detonadores daquelas descargas químicas certas e extremamente precisas, únicas em cada ser.

Esse conjunto de fatores, muito pessoais e individualizados, se juntam e fazem nosso sistema orgânico produzir uma série de substâncias, em quantidades e proporções exatas, de tal forma que o resultado é a descarga daquelas sinapses únicas que provocam a sensação que chamamos de Felicidade. A plenitude indescritível.

Esse processo é extremamente individual e único. Sequer no mesmo indivíduo acontece exatamente da mesma forma duas vezes. O simples fato de já ter ou de nunca ter acontecido já determina essa originalidade.

Pensando assim, na felicidade como um conjunto de fatores que nos faz sentir bem por um período de tempo, podemos sim encontrar esses ingredientes que nos causam bem-estar, e traduzi-los em decisões e atitudes que nos proporcionem mais prazer do que incômodos.

O aumento da frequência dos momentos prazerosos funciona como reforço, é um tipode treino para o nosso cérebro, aumentando as possibilidades de que os fatores disparadores daquele estado mental se repitam, potencializando a chance de sentir novamente aquelas sensações maravilhosas. Ou seja, quanto mais vezes nos sentirmos felizes, mais vezes seremos capazes de sermos felizes de novo. Felicidade gera felicidade. E o oposto também é verdade. Por isso a felicidade é uma escolha pessoal.

Infelicidades todos temos e teremos, cabe a cada um escolher onde empenhar nosso maior foco de pensamentos e esforços: se será em ser infeliz, ou em aprender a ser feliz.

Para que tenhamos o discernimento necessário para saber o que nos agrada, o que não faz diferença e o que nos contraria, é preciso autoconhecimento. É preciso aprender a semear felicidade em si mesmo. Aprender a semear, a cultivar e a colher felicidade.

É preciso prestar muita atenção e cuidar dos próprios sentimentos e reações. É preciso aprender quais devemos cultivar e quais devemos exterminar para não nos contaminarmos com pragas daninhas. Ter a capacidade de perceber onde estão nossos limites requer autocrítica e conclusões, muitas vezes, desagradáveis e perturbadoras. Ninguém gosta de reconhecer suas limitações, fraquezas e carências.

Outro fator fundamental é saber estabelecer os nossos limites externos.

Até onde deixar que os outros opinem, influam e nos cobrem por nossas decisões de âmbito pessoal?  Até onde deixar, e quem vamos deixar que "se meta em nossa vida".

Até onde dar satisfação de nossos atos, e a partir de onde nossas motivações e propósitos são questões sobre as quais não devemos satisfação a ninguém? 

A independência emocional é fundamental para realizarmos nossa essência. É preciso estabelecer limites e até onde permitiremos que outras pessoas interfiram em nossos processos. Para isso, é preciso que nos coloquemos como o único responsável capaz de produzir nossa própria felicidade.

É complicado. Mas, ninguém disse que não seria.

Para formular nossa própria receita de felicidade, primeiro é preciso descobrir quais ingredientes nos agradam e em que quantidades devem ser usadas, para que o resultado nos traga a satisfação da vida com sabor.

E, como seria bom, se pudéssemos deixar essa receita como herança para nossos filhos. Como a receita de um bolo da vovó.

Mas, infelizmente, essa receita só vai servir para o próprio. É pessoal e intransferível.

E, quando a gente pensa que está chegando a uma conclusão, entra mais alguém na história e dana-se tudo de novo.

Se sozinho já é essa dificuldade toda, imaginem quando a busca inclui mais outra pessoa nessa já complicada equação!
Edmir St-Clair

"Felicidade não existe, o que existe são momentos felizes".*Letra de uma música famosa nos anos 1980 do autor Peninha.

Edmir Saint-Clair

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