COACH LITERÁRIO

O ORIENTADOR LITERÁRIO é um profissional que acompanha, ensina e participa de todo processo de criação de um livro. Um profissional técnico, especializado em criação, um professor de escrita e um parceiro, ao mesmo tempo. Experimente, é terapêutico e libertador. Perpetue as histórias que só você tem para contar.
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PAÍS LAICO. E SÉRIO?

A simples citação, não só da orientação religiosa evangélica, como também, de uma pré-disposição declarada de submeter decisões jurídicas máximas do país a esses princípios religiosos, num país constitucionalmente laico, já deveria se caracterizar como impedimento legal intransponível contra uma indicação a Ministro da Suprema Corte de qualquer país que se diz laico.

E sério.

MEU AMIGO QUE VOAVA

Um cara engraçado, que sabia rir de si próprio como só as boas pessoas sabem.  Uma combinação incomum, que misturava coragem com um jeito atrapalhado. Se a sorte não tivesse se juntado nesse tempero, teria ido mais cedo para o outro lado.

Uma pessoa aberta a novos pensamentos. Adorava uma novidade. Um desbravador. Sempre que ouvia falar em algum lugar novo, fora do “circuito descolado”, punha-se a caminho para conhecer. De moto, de Kombi ou de Brucutu, um carro equivalente a um Off Road, adaptado por ele. 

Morador do Leblon, depois Ipanema, curiosamente era a montanha e não a praia, que o seduzia. Não era morar na montanha, a onda dele era saltar lá de cima. E Lá em cima ele encontrou sua praia. E decidiu passar o resto da vida voando. E passou.

Quando descobriu que podia ter asas, demitiu-se do cargo de engenheiro civil no funcionalismo público, que lhe remunerava muito bem e lhe oferecia estabilidade, para fazer vôos duplos de para-pente, em São Conrado.

Foi feliz. Viajou e se aventurou, como gostava, para voar em lugares inusitados. Coisas do Bode. Bode não, Carlinhos. Que Carlinhos? O Bode. 

Teve a vida cheia de altos vôos e soube fazer suas escolhas valerem à pena. Conservou, até o fim, a mesma curiosidade adolescente, a mesma alegria ingênua e espontânea. Era capaz de rir e de fazer piadas nos momentos mais difíceis que enfrentou.

Um aventureiro corajoso por natureza. Amigo por vocação. Sempre teve muitos porque sabia ser um amigo dos grandes. Daqueles que a gente pode contar e ligar no meio da madrugada, fosse para chorar ou para comemorar. No imaginário popular, não devemos contar nossas expectativas antes que se realizem, para não despertar olho gordo. Mas, para mim, ele dava sorte. Todas as vezes que estava esperando o desfecho de alguma situação, uma resposta importante, contava para ele. Sempre me deu sorte.

As muitas décadas que convivemos, me deram a honra conhecer um ser humano autêntico e admirável. Um dos momentos mais significativos de nossa amizade, é a satisfação de ter podido expressar, com todas as letras, pessoalmente, o meu amor e a minha admiração para com esse irmão que cativou minha alma com sua essência cheia de bondade.

A ausência já não machuca tanto depois de alguns anos. Mas, nunca vou deixar de sentir saudades. Ao mesmo tempo, tenho muita alegria de ter convivido com esse amigo que me ensinou que era possível voar.

- Edmir Saint-Clair

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FÉ NO MEDO? - Poesia

De quem é essa culpa pairando sobre todos,

O tempo todo,

Esse medo que transcende a vida,

Pronto para esmagar ao primeiro sinal da cruz

 Que tristeza é essa?

Por trás da beleza de todo por do sol

De uma música mais linda

De onde vem essa melancolia transcedental,

 Que precisa de um carnaval para não ser

Mas, que morre a cada quarta-feira, em cinzas.

Fé no medo...

_ Edmir Saint-Clair

ANOITECEU

 

    Seus últimos vínculos familiares haviam acabado de se quebrar. Em frente ao laptop, ouvindo o tema de Cinema Paradiso, sentiu o peso de suas dores. Eram muitas, eram todas que nunca esperou sentir, que lutou a vida inteira para não sentir, que chegou a desistir de sentir coisa alguma para não senti-las.

A música tinha esse poder sobre ele, abrir suas comportas transbordantes, fazendo-o cair diante de suas tristezas e chorá-las. De nada adiantava a raiva com que tentava ocultá-las de si. A raiva que sentia da dor e a raiva que sentia de si por senti-las.

Não é mais, há muito, o amante de corpo e alma se deliciando com a vida, com os encontros e com as manhãs cheias de sol.

Não gosta mais das manhãs, sabe o que pode vir depois delas. Gosta de acordar após o meio do dia, se possível bem depois, longe das manhãs. É entardecer, anoitecer, não manhãs. Há muito, nada nasce nele.

A noite o fascina, o breu, o silêncio, o nada.  Não há mais mistérios nas suas noites, só descanso. Não há mais o que esperar das manhãs.

Anoitecera.

– Edmir Saint-Clair
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REFLETIR

Os benefícios da meditação estão provados e comprovados por vários ramos de pesquisas científicas reconhecidamente qualificadas e competentes. Benefícios inquestionáveis para o corpo e para a mente.

São um sem número de práticas que utilizam técnicas igualmente bastante diversas, que tem na meditação sua espinha dorsal e a partir de sua prática discorrem suas diferentes correntes de pensamentos filosóficos.

Sem questionamentos, não é esse o sentido dessa crônica, desse pensar publicamente.

Ocorre, que nesse contexto me dei conta de que nunca mais ouvi ou li ninguém discorrer a respeito de uma prática que tem um conceito simples, pessoal e intransferível; a reflexão.

Refletir, olhar-se, espelhar-se, examinar-se para se entender ou não. Aí está o exercício mais vital para não perdermos o contato com nossa essência individual e única.

A reflexão é a concentração da mente sobre si própria, suas representações, ideias, sentimentos e atitudes. É prestar contas a si mesmo sobre seus pensamentos, motivações e ações.

Os católicos romanos utilizam uma expressão bastante feliz para essa prática: exame de consciência.

O momento em que somos tanto o psicólogo quanto o paciente. Ou seja, a responsabilidade é grande.

A reflexão é o diálogo interno, é conversar consigo mesmo, reavaliando nossas regras internas, limites, desejos e valores. É aferir se nossas ações correspondem ao conjunto de princípios no qual acreditamos e apoiamos nossas crenças pessoais.  É o auge do exercício do livre arbítrio. 

Porque se fala tão pouco, para não dizer que não se fala, sobre essa prática tão necessária? Porque não existem tutoriais no YouTube ensinando a refletir? Ensinando a fazer um exame de consciência.

A reflexão transformada em um ritual tal como a meditação na Yoga, pode ser um exercício extremamente transformador. Um momento de prestar contas a si mesmo sobre seus pensamentos e atitudes. É não nos distanciarmos demais de nossa natureza. Perder-se de si, de seus valores e princípios, geralmente, tem um preço psíquico bastante alto, não raro, impeditivo para quem busca o equilíbrio psicológico.

Meditar é tirar todos os pensamentos da mente. Refletir é prestar contas a si mesmo. São práticas complementares, pode-se praticar uma após a outra. Primeiro a conversa consigo e depois o descanso da mente. Perfeito.

Refletir é refazer mentalmente os passos que nos trouxeram até aqui, o quanto isso nos custou e se é aqui mesmo que desejamos estar. É focar em si, avaliar as próprias  atitudes, com o objetivo de perceber onde e como podemos ser melhores para nós mesmos, para os outros e para o mundo. 

- Edmir Saint-Clair

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O SOLITÁRIO

 

O conheci apenas por bebermos cerveja no Clipper, na Rua Carlos Góes, nos fins de tarde após o trabalho. Sempre calado, falando o necessário ou apenas respondendo. Não se alongava nas conversas ou emitia opiniões muito pessoais, sempre esquivo. Mas, era simpático.  Morava na mesma rua e nunca o víamos acompanhado.  Ninguém sabia nada a seu respeito a não ser que tinha um filho, que só via nas férias. O molequinho era bem simpático, bem mais extrovertido que o pai. Nas poucas vezes em que o vi, estava sempre rindo e solícito com todos os amigos do Clipper, que davam atenção especial a ele.

Ele era contador e trabalhava num escritório no centro da cidade, o que não colaborava em nada para que conseguíssemos formar um quadro mais profundo sobre a personalidade do nosso amigo tímido. Recusava sistematicamente os convites para festas ou qualquer outro evento. A princípio, pensávamos que tinha amigos em outro lugar, mas com o tempo percebemos que nunca estava sequer arrumado para sair. Sempre só. Vestia-se discretamente e sempre que chegava ao bar, o fazia de forma tímida. Encostava-se no balcão e pedia uma cerveja. Sempre esperava que alguém o chamasse não se chegava por livre iniciativa.

Ante véspera de natal. Estava na fila dos correios para despachar alguns cartões quando o vi na fila de encomendas com uma caixa grande. Acenei e ele retribuiu, logo que a despachou veio fazer-me companhia.

− Tudo bem? Mandando presentes?   Perguntei.

− Para meu filho. Ele está morando em São Paulo. Respondeu.

− Paizão hein? Falei.

Ele sorriu e tornou a olhar para o chão.

− Aonde você vai passar o natal? Perguntei.

− Por aí, não gosto dessas datas...

Aproveitei para convidá-lo.

− Vai um pessoal passar lá em casa. Todos os solteiros, separados e largados em geral. Vai passar lá com a gente. A gente tinha mesmo ficado de te convidar, o convite é da galera toda. Quem te encontrasse primeiro convidaria.

Ele agradeceu, baixando novamente a cabeça, me pareceu ter gostado do convite. Só achei. Voltamos caminhando juntos pelo Leblon, da Praça Antero de Quental até a Rua Carlos Góes, e poucas vezes em minha vida, lembro-me de ter percebido tanta solidão em uma pessoa quanto a que percebi nele durante este curto trajeto. A solidão estava estampada em sua forma de caminhar, na sua maneira de falar de futebol ou no desânimo de suas tentativas de risos. E, principalmente no olhar. Uma pessoa tão fechada que não sabia como dizer-lhe que após esses anos todos de chopp no Clipper, sentia-me seu amigo. Não falei. Ao passarmos pelo Clipper, o chamei para tomarmos uma cerveja, mas ele disse que tinha de ir. Parou um pouco adiante e me chamou:

− Quero te agradecer pelo convite para o Natal. Muito obrigado.

Desta vez, sua a emoção não foi imperceptível, deu-me um forte aperto de mão e vi que seus olhos brilharam úmidos. Olhou para baixo seguiu seu caminho.

 Comentei com os amigos que havia feito o convite e a emoção de seu agradecimento. Todos se mostraram alegres por ele ter aceitado, e percebi que todos ali também gostavam dele.  Papo vai, papo vem, e decidimos dar um presente de Natal para ele. A Tininha se prontificou a escolher e comprar. Fizemos uma vaquinha ali mesmo.  Até o Seu Antonio, do Clipper, contribuiu fato raríssimo.

            Na noite véspera do natal, estávamos lá em casa, animados, como sempre que passamos com quem gostamos. Lá pelas duas da madrugada, percebemos que ele não viria. Lamentamos, mas isto em nada alterou nossa grande noite. Afinal, ele nunca vinha mesmo. Violões rolando até de manhã, e aqueles papos doidos que só acontece entre grandes e queridos amigos.

            Uma semana depois, a Tininha aparece no Clipper chorando:

− Estava descendo de casa e vi alguns móveis sendo colocados numa Kombi de mudança e perguntei, pro Seu João, porteiro, de quem era. Ele disse que eram do Ricardo e que ele havia morrido na noite de Natal, atropelado quando atravessava a avenida Borges de Medeiros, no Jardim de Alah.

Todos ali choraram a morte daquela pessoa solitária, que morreu sem saber que tinha amigos e que ganharia um presente de Natal.

Nunca soubemos se ele estava indo ou não cear com a gente naquela noite

- Edmir Saint-Clair


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SEMPRE

 Felicidade é passo a passo, dia a dia. 

De dentro pra fora. 

Se aprendendo, se aceitando, se fazendo

Se corrigindo, se desfazendo, se reconstruindo

Indo à frente e voltando se preciso, 

mas sempre andando pra sempre

Sendo feliz quando é possível, vivendo triste se necessário

Mas sempre vivendo o sempre.

- Edmir Saint-Clair



PRA QUÊ?- Poesia

 

Pensa no filho, em toda família, pensa no próximo,

E quem pensa em você?

Trabalha pros outros, paga pro estado, paga pra igreja,

E paga pra quê?

Paga boleto, paga vergonha, paga pra ver,

Sobe a aposta, rola essa bosta, vai se fuder,

Vive a tua vida, quem sabe ela curta e nem dá pra viver.

- Edmir Saint-Clair



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