COACH LITERÁRIO
UMA LÁGRIMA SÓ NÃO BASTA - Poesia
Por todos os amores perdidos
Por
todos os sonhos abandonados
Por
todas as manhãs desperdiçadas
Por
todas as noites mal dormidas
Por
todos os risos que não demos
Por
toda essa saudade que me mata
Por
todo esse deserto que me resta
Por
toda essa gente que faz falta
Porque
nunca mais é muito tempo.
- Edmir Saint-Clair
IDENTIDADE - Poesia
Tudo que já fui, sou
Sou também o que desejei ser,
E não fui
De outro jeito não seria eu
De outro jeito não sou, nem eu, nem outro,
Nem o que pensei ser, nem o que fui
Para estar aqui precisei ser tudo que já fui,
E o que precisei não ser,
Tanto para mim como para os outros,
Porque o outro é o limite do eu
Um não existe sem o outro
Para ter ontem é preciso que seja hoje
O único que realmente existe
Porque amanhã é tudo que não sei,
E precisa de mim para acontecer,
Porque meu amanhã não existirá se eu me perder
de quem sou.
– Edmir Saint-Clair
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SIMONE BILES
Qualquer
atleta que chega a disputar uma olimpíada (exceções sempre existem) tem por
trás e sobre si o trabalho e a expectativa de um sem numero de profissionais e
familiares. Ela é a ponta de um projeto sobre a qual pairam expectativas
superlativas.
No começo,
o atleta já se torna a oportunidade que a família vê para ascender financeira e
socialmente. Passando, assim, a ser focalizada como a esperança de todo seu
círculo familiar.
Desde
pequenos, as crianças que demonstram aptidões extraordinárias passam por esse
processo de deixar de serem apenas elas próprias para passar a “representar” seu
grupo. Em atletas do nível de Simone Biles, que despontam ainda muito
precocemente, o peso de cada conquista vai se acumulando, não como alegrias,
mas como obrigação de corresponder ao que esperam dela. Cada vez mais. E pelo
caminho essa pressão só vai aumentando. Além da família, entram nessa história empresas
patrocinadoras, comitês esportivos, agremiações, confederações e mais um enorme
contingente de entidades e pessoas que irão explorar aquele talento de todas as
formas possíveis e imagináveis.
Até
chegar ao nível de um superatleta, não é difícil imaginar o tamanho das expectativas
e dos interesses depositados sobre esses ombros, ainda adolescentes, durante
anos e anos. Agora, multiplique essa pressão, já absurda, por 10 e teremos o
peso sofrido pela maior estrela da Olimpíada de Tókio.
A
meu ver, o que Simone Biles fez foi de uma humanidade comovente.
Num evento onde todos desejam ser super, ela quebrou as regras e desejou ser apenas humana.
Com todas as contradições e
incertezas que faz cada um de nós ser quem é.
Num
tempo onde lutamos por direitos iguais para todos, independente de raça,
gênero, religião e todos os tipos de discriminação, a atitude de Simone Biles resume
todos esses movimentos num só: o direito de ser humano.
Porque
o ser humano é tudo isso.
E o super-homem
não existe.
– Edmir Saint-Clair
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O HOMEM QUE MATOU O MINISTRO
Ele desligou a TV do bangalô do resort, deu um soco na mesa de cabeceira e balbuciou:
- Tua hora tá chegando! Filho da puta!
O local era extremamente luxuoso, ele nunca havia estado num resort de padrão tão alto. Planejara aquele fim de semana com todo o cuidado e o mais detalhadamente possível. Era seu último ato.
O tempo amanheceu nublado, mas a previsão era de sol no final de semana. Ele saiu para caminhar e fazer um reconhecimento do local. Seus planos haviam sido feitos levando em conta a visualização virtual em 3D que havia no site do resort. Precisava checar com mais precisão, in loco.
Caminhou até o píer e certificou-se que o iate que seu alvo irá usar está sendo preparado por meia dúzia de funcionários. Essa marina é utilizada pelos proprietários de iates e embarcações de passeio da região. Um local de magnatas, celebridades, profissionais muito bem sucedidos e políticos, juízes e ministros corruptos da suprema corte. Alguns acumulavam mais de uma dessas ocupações.
O ódio não o abandonava, nem quando sentiu o sabor combinado de vinho branco com camarões bem graúdos. A tristeza sobrevinha a qualquer possibilidade de um sorriso. Suas perdas haviam acabado com qualquer possibilidade de que isso ocorresse. De que qualquer coisa boa viesse a ocorrer. A única possibilidade de ainda conseguir sentir algum prazer na vida era através da vingança.
Terminou a taça de vinho e caminhou até um pequeno e charmoso prédio de pedras aparentes com detalhes em madeira rústica, onde se certifica como funcionam as saunas, duchas e salas de massagens.
- Se houver muitas pessoas circulando, aqui não é possível. Pensou.
O restaurante no final do píer principal, debruçado sobre a baía de águas transparentes, só tem uma entrada e saída. Nada feito.
Transmitir ao vivo sua missão era um dos objetivos. Um celular no bolso da camisa faria a transmissão. Ele já havia testado várias maneiras, mas o teste que faria in loco era o mais importante.
Continuou caminhando pelo enorme e luxuoso resort. Foi até as cavalariças, sempre gostou de cavalos. No píer de pequenos barcos, o hóspede tem à sua disposição Jet-skis, caiaques, pequenos barcos à vela e lanchas menores.
Vários profissionais de cada especialidade são oferecidos para os iniciantes. Seu filho mais velho iria se esbaldar aqui...O ódio só aumentava se misturando com a dor de um vazio lancinante e intransponível.
Em qualquer lugar do resort o hóspede pode pedir qualquer coisa que deseje que lhe será servido.
Segunda garrafa de vinho branco. Nada vai tirar seu foco.
Segue até chegar a um pequeno bosque à beira da lagoa, onde uma pista de terra batida está sinalizada para corridas e caminhadas. A pista toda tem uns 800 metros, em formato oval. Em todo trajeto, muito arborizado, existem bancos e bebedouros. O local é perfeito, como esperava. Existem diversos pontos cegos. O crápula gosta de caminhar e não vai perder a oportunidade de fazê-lo num local tão bucólico e reservado.
Nesse fim de semana não há qualquer motivo facilitador que indique que o resort terá grande movimentação. O preço altíssimo e a situação caótica na qual o país foi lançado, depois que a Suprema Corte começou a emitir sentenças estapafúrdias e inconstitucionais, tornavam aquele local um privilégio para muito poucos, que não tinham vergonha alguma dos atos que praticavam para pagar aquele luxo nababesco.
Foco.
Não podia se deixar levar por pensamentos pouco práticos. Aquele local se confirmou perfeito, mas tem que haver uma segunda opção. Pode chover ou ele pode simplesmente resolver não caminhar.
Voltando até a sede, resolveu que se o ministro não fosse caminhar ele atiraria na oportunidade que tivesse. Não era sua intenção sair vivo dali mesmo. Só queria se certificar de que tinha transmitido a Live dos últimos segundos de vida daquele filho da puta que lhe causara tanta dor. Pensou nos entes que perdera, incluindo a si mesmo e a sua fé. Ele devia aquilo à muita gente querida que não teve chance alguma diante daquela horda corrupta que tomara conta de tudo.
Todos os pensamentos convergiam para o mesmo ponto e alimentavam sua certeza. Percebeu que finalmente sentiria algum alívio na alma atormentada.
No dia seguinte, não acordou com o toque do celular. Era muito mais garantido antigamente, quando as telefonistas dos hotéis faziam o papel do despertador. Olhou a hora e levantou-se assustado. Em segundos, sua adrenalina elevou-se a ponto de ver seu coração pulsando sob a pele. Colocou uma bermuda e a camisa já preparadas, certificou-se que a arma estava carregada e a colocou no espaço entre o cós da bermuda e suas costas. A camisa larga disfarçava perfeitamente. Calçou o tênis e saiu. Antes que chegasse ao restaurante viu o ministro já se encaminhando para a pista de jogging. Atrasou um pouco o passo para não se cruzarem. Estava suando, mas não estava calor.
Quando chegou à pista o ministro já estava sumindo ao fundo do pequeno bosque, o local estava tranqüilo, sem outros corredores. Não havia seguranças no local. Realmente, pensou, ele se acha acima do bem e do mal. Faz o que bem entende, passa na cara do país e não está nem um pouco interessado em quem sofre as consequências. Não teme nada.
Na pista, tomou o sentido oposto ao do ministro e iniciou sua caminhada final.
Havia meses, que esperava por esse momento que, finalmente, chegara. Caminhou até que não pudesse mais ser visto da entrada do bosque, tirou o celular, ligou a câmera de vídeo, colocou-a on-line para transmissão da live pelo Facebook, ajustou no bolso preparado e sentou-se.
Não encostou sequer as costas no banco quando o ministro e seu amigo aparecerem saindo da curva. Pensou nos entes queridos e falou, já transmitindo ao vivo:
- Ele se acha um Deus. Vou provar que ele não é.
Quando o ministro estava a cerca de 5 metros ele levantou-se, sacou a pistola, chegou bem perto, olhou fundo nos olhos aterrorizados do ministro e falou:
- É ministro, vamos ver se você é Deus mesmo...
O ministro balbuciou algo ininteligível e babou. Ainda babando e com os olhos arregalados, ficou parecendo ainda mais com um sapo, implorando pela vida. Chorando, urinou-se copiosamente. Tudo mostrado ao vivo naquela live que se tornaria famosa no mundo inteiro.
Ele não falou mais nada. Apenas sorriu como há muito não o fazia e atirou entre os olhos.
O país inteiro comemorou como se fosse carnaval.
- Edmir Saint-Clair
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PAÍS LAICO. E SÉRIO?
A simples citação, não só da orientação religiosa evangélica, como também, de uma pré-disposição declarada de submeter decisões jurídicas máximas do país a esses princípios religiosos, num país constitucionalmente laico, já deveria se caracterizar como impedimento legal intransponível contra uma indicação a Ministro da Suprema Corte de qualquer país que se diz laico.
E sério.
MEU AMIGO QUE VOAVA
Um
cara engraçado, que sabia rir de si próprio como só as boas pessoas sabem. Uma combinação incomum, que misturava coragem
com um jeito atrapalhado. Se a sorte não tivesse se juntado nesse tempero,
teria ido mais cedo para o outro lado.
Uma
pessoa aberta a novos pensamentos. Adorava uma novidade. Um desbravador. Sempre que ouvia
falar em algum lugar novo, fora do “circuito descolado”, punha-se a caminho
para conhecer. De moto, de Kombi ou de Brucutu, um carro equivalente a um Off Road, adaptado por ele.
Morador
do Leblon, depois Ipanema, curiosamente era a montanha e não a praia, que o
seduzia. Não era morar na montanha, a onda dele era saltar lá de cima. E Lá em
cima ele encontrou sua praia. E decidiu passar o resto da vida voando. E
passou.
Quando
descobriu que podia ter asas, demitiu-se do cargo de engenheiro civil no
funcionalismo público, que lhe remunerava muito bem e lhe oferecia
estabilidade, para fazer vôos duplos de para-pente, em São Conrado.
Foi
feliz. Viajou e se aventurou, como gostava, para voar em lugares inusitados.
Coisas do Bode. Bode não, Carlinhos. Que Carlinhos? O Bode.
Teve a vida cheia de altos vôos e soube fazer suas escolhas valerem à pena. Conservou, até o fim, a mesma curiosidade adolescente, a mesma alegria ingênua e espontânea. Era capaz de rir e de fazer piadas nos momentos mais difíceis que enfrentou.
Um aventureiro corajoso por natureza. Amigo por vocação. Sempre teve muitos porque sabia ser um amigo dos grandes. Daqueles que a gente pode contar e ligar no meio da madrugada, fosse para chorar ou para comemorar. No imaginário popular, não devemos contar nossas expectativas antes que se realizem, para não despertar olho gordo. Mas, para mim, ele dava sorte. Todas as vezes que estava esperando o desfecho de alguma situação, uma resposta importante, contava para ele. Sempre me deu sorte.
As
muitas décadas que convivemos, me deram a honra conhecer um ser humano
autêntico e admirável. Um dos momentos mais significativos de nossa amizade, é a
satisfação de ter podido expressar, com todas as letras, pessoalmente, o meu
amor e a minha admiração para com esse irmão que cativou minha alma com sua
essência cheia de bondade.
A ausência já não machuca tanto depois de alguns anos. Mas, nunca vou deixar de sentir saudades. Ao mesmo tempo, tenho muita alegria de ter convivido com esse amigo que me ensinou que era possível voar.
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FÉ NO MEDO? - Poesia
De quem é essa culpa pairando sobre todos,
O tempo todo,
Esse medo que transcende a vida,
Pronto para esmagar ao primeiro sinal da cruz
Que tristeza é essa?
Por trás da beleza de todo por do sol
De uma música mais linda
De onde vem essa melancolia transcedental,
Que precisa de um carnaval para não ser
Mas, que morre a cada quarta-feira, em cinzas.
Fé no medo...
_ Edmir Saint-Clair
ANOITECEU
Seus últimos vínculos familiares haviam acabado de se quebrar. Em frente ao laptop, ouvindo o tema de Cinema Paradiso, sentiu o peso de suas dores. Eram muitas, eram todas que nunca esperou sentir, que lutou a vida inteira para não sentir, que chegou a desistir de sentir coisa alguma para não senti-las.
A música tinha esse poder sobre ele, abrir suas comportas transbordantes, fazendo-o cair diante de suas tristezas e chorá-las. De nada adiantava a raiva com que tentava ocultá-las de si. A raiva que sentia da dor e a raiva que sentia de si por senti-las.
Não é mais, há muito, o amante de corpo e alma se deliciando com a vida, com os encontros e com as manhãs cheias de sol.
Não gosta mais das manhãs, sabe o que pode vir depois delas. Gosta de acordar após o meio do dia, se possível bem depois, longe das manhãs. É entardecer, anoitecer, não manhãs. Há muito, nada nasce nele.
A noite o fascina, o breu, o silêncio, o nada. Não há mais mistérios nas suas noites, só descanso. Não há mais o que esperar das manhãs.
Anoitecera.
REFLETIR
Os benefícios da meditação estão provados e comprovados por vários ramos de pesquisas científicas reconhecidamente qualificadas e competentes. Benefícios inquestionáveis para o corpo e para a mente.
São um sem número de práticas que utilizam técnicas igualmente bastante diversas, que tem na meditação sua espinha dorsal e a partir de sua prática discorrem suas diferentes correntes de pensamentos filosóficos.
Sem questionamentos, não é esse o sentido dessa crônica, desse pensar publicamente.
Ocorre,
que nesse contexto me dei conta de que nunca mais ouvi ou li ninguém discorrer
a respeito de uma prática que tem um conceito simples, pessoal e
intransferível; a reflexão.
Refletir, olhar-se, espelhar-se, examinar-se para se entender ou não. Aí está o exercício mais vital para não perdermos o contato com nossa essência individual e única.
A reflexão é a concentração da mente sobre si própria, suas representações, ideias, sentimentos e atitudes. É prestar contas a si mesmo sobre seus pensamentos, motivações e ações.
Os católicos romanos utilizam uma expressão bastante feliz para essa prática: exame de consciência.
O momento em que somos tanto o psicólogo quanto o paciente. Ou seja, a responsabilidade é grande.
A reflexão é o diálogo interno, é conversar consigo mesmo, reavaliando nossas regras internas, limites, desejos e valores. É aferir se nossas ações correspondem ao conjunto de princípios no qual acreditamos e apoiamos nossas crenças pessoais. É o auge do exercício do livre arbítrio.
Porque se fala tão pouco, para não dizer que não se fala, sobre essa prática tão necessária? Porque não existem tutoriais no YouTube ensinando a refletir? Ensinando a fazer um exame de consciência.
A reflexão transformada em um ritual tal como a meditação na Yoga, pode ser um exercício extremamente transformador. Um momento de prestar contas a si mesmo sobre seus pensamentos e atitudes. É não nos distanciarmos demais de nossa natureza. Perder-se de si, de seus valores e princípios, geralmente, tem um preço psíquico bastante alto, não raro, impeditivo para quem busca o equilíbrio psicológico.
Meditar é tirar todos os pensamentos da mente. Refletir é prestar contas a si mesmo. São práticas complementares, pode-se praticar uma após a outra. Primeiro a conversa consigo e depois o descanso da mente. Perfeito.
Refletir é refazer mentalmente os passos que nos trouxeram até aqui, o quanto isso nos custou e se é aqui mesmo que desejamos estar. É focar em si, avaliar as próprias atitudes, com o objetivo de perceber onde e como podemos ser melhores para nós mesmos, para os outros e para o mundo.
- Edmir
Saint-Clair
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