De
silêncio, de paixão, de prazer. O minuto anterior ao gozo, o gozo, um minuto de
êxtase, de felicidade, sem saber onde termina meu corpo e começa o seu. O olhar
que muda a vida em um minuto. O minuto feito de sessenta eternidades, mas a
eternidade terá sempre o último minuto. Cabe-nos viver intensamente todas as
nossas eternidades. Tudo que torna a vida maravilhosa não dura mais que um
minuto. Mas a dor é longa, e consome quase todos os nossos minutos. O presente
é sempre o minuto seguinte, mas só percebemos depois, não sabemos ser eternos.
Mas haverá sempre o minuto seguinte.
O
minuto de paz nos teus olhos, no silêncio da noite, no sorriso que brotou
espontâneo. O minuto feito de sessenta eternidades. A eternidade antes do
primeiro beijo, antes de desvendar teu corpo, antes de poder dizer que te amo,
antes de sentir teu amor.
A
eternidade depois do último beijo, depois de me acostumar com teu corpo, depois
de descobrir que ainda te amo, depois de sentir tua ausência. A eternidade de
chorar sozinho, o vazio profundo após a última lágrima.
O
último minuto com você, e o desejo desesperado de retornar ao primeiro.
Passamos a vida inteira atrás desses minutos, dessas sessenta eternidades, que
farão o resto valer a pena. Mas, só percebemos o valor do primeiro quando
chegamos ao último, e então já haverão se passado muitas eternidades.
O
último minuto em que nos amamos foi feito de sessenta despedidas, todas sem que
soubéssemos. E a dor, com o poder que só a dor tem, multiplicou sessenta por
sessenta por sessenta eternidades, e ainda estou a espera do último.
"A
mudança é a única coisa permanente." Heráclito (500 A.C.)".
"...e a incerteza, a única certeza". Zigmund Bauman - (2.500 anos depois).
O medo está nos rondando o
tempo todo, nos fazendo engolir sapos maiores que a boca. Sem que tenhamos
consciência de quais são seus gatilhos, aparece, de repente, tentando
encaixar as nossas atitudes e, pior, as dos outros também, em modelos que nem
sabemos se servem aos nossos anseios. Tudo para termos a sensação de segurança.
Quanto mais previsível, quanto menos mudanças
na rotina, mais seguro o ser humano se imagina. A, estranhamente, chamada zona de
conforto, de conforto não tem nada. O nome certo é zona de tédio, uma ilusão maléfica causada pelo medo que a simples idéia de
mudança provoca. Mas, as mudanças ocorrem o tempo todo, percebamos ou não. Não
dependem da nossa vontade.
O medo da mudança é uma
força poderosa e vive escondido nas pequenas coisas e, é, na
maioria das vezes, o grande responsável pelos maiores sofrimentos.
Ouvi de um amigo
psicanalista, algo que me ficou na cabeça e que os anos só reforçaram a verdade
que traduz:
− "O ser humano se
sente seguro vivendo uma rotina previsível, mesmo que isso signifique viver em
péssimas situações, aparentemente insustentáveis, se vistas por alguém de fora mas, que
ele já conhece e está acostumado. É péssimo, mas é um péssimo que ele conhece.
Essa força é tão poderosa que a simples idéia de romper com a situação e partir
para algo novo pode causar pânico a algumas pessoas. O ser humano prefere
ficar no sofrimento conhecido a arriscar qualquer outra coisa que ele não
conheça. ”
Não raras vezes, nos
deparamos com essa realidade em vários aspectos. Nas relações
familiares, profissionais, amorosas, fraternas e quantos mais pensarmos.
Admiro as pessoas que
conseguem se desvencilhar rápido de situações incômodas. É claro que tudo tem sua peculiaridade e nada pode ser posto numa mesma sacola. Mas,
existe uma linha, que pode não ser nem um pouco tênue, de onde, a partir dali, qualquer um tem certeza do dano que aquela situação está trazendo a um, ou a
quantos mais estiverem envolvidos.
Seja em que âmbito for,
chega um momento em que o desgaste é tão profundo e incomodo que a mudança é
absolutamente inevitável e urgente. E; isso sempre gera insegurança, que é outro
nome para o medo.
Nas relações amorosas isso é
ainda mais nítido. Do início da descida até se esborrachar no fim, a gente vem
se ralando todo, ladeira abaixo. E, não raras vezes, essa ladeira dura anos.
Imagine quanta ralação, quantos machucados daqueles bem ardidos poderiam ser
evitados.
É bem doloroso. O que
esquecemos é que podemos, a qualquer momento, interromper essa descida e evitar
mais machucados. Saber interrompê-la antes que os traumas se aprofundem demais
é o que decide como estaremos preparados para próximos relacionamentos. Essa decisão é das mais sérias com as
quais nos deparamos na vida: a hora de parar. Há um momento que temos que dar um
fim a uma situação de sofrimento e não olhar mais para trás. Por uma questão de
sobrevivência e sanidade.
Saber a hora de parar de
sofrer é fundamental para não perder a crença em si mesmo. É necessário
acreditar que podemos produzir nossa própria felicidade. E, antes, precisamos crer que somos capazes de nos proteger, de cuidar de nós mesmos, adequadamente. Porque, quantos mais
machucados estivermos, mais tempo esses traumas levarão para cicatrizar. Isso significa que precisaremos de mais tempo para nos recompor até estarmos prontos para uma nova relação. E a vida não
espera. O tempo passa. E, dependendo da intensidade e quantidade dos eventos traumáticos, e dos recursos disponíveis para enfrentá-los (terapias e redes de apoio), essa recomposição pode ser bastante demorada.
É importante sermos sinceros
ao nos respondermos às nossas próprias perguntas. Precisamos saber pelo menos o que
pensamos, de verdade, sobre nossos próprios assuntos e sentimentos. Precisamos estipular nossos
limites. A Tolerância é necessária, sem ela não se vive em sociedade, não se aprende e nem se
evolui. Mas, a partir de um tênue limite, passa a ser submissão, conformismo e
covardia.
Vivemos como se houvesse um modo certo e outro errado de realizarmos nossa vida. Como se houvesse um gabarito. Não há. Ninguém nasce com manual ou destino traçado. Tudo que fazemos é inédito. Algumas vezes, é imprevisível, simplesmente porque ninguém fez daquele jeito antes. Do seu jeito, original é único.
Mudar dá medo. Principalmente, quando a decisão de mudança envolve coisas básicas como mudar de
casa, ficar sozinho, trocar um emprego medíocre, mas que paga as contas,
por um projeto que, se der certo, vai te dar a vida que você deseja (isso não
está ligado a dinheiro necessariamente!). Mas, que, também, pode dar errado.
E daí? Tudo pode dar errado,
principalmente, o que está dando certo. Já que o que está dando errado, se
mudar, só pode mudar para dar certo.
Se der errado é porque não
mudou. Então, vai ter que mudar de novo. Até dar certo. E, pode ter certeza,
uma das coisas que mais ajudam a persistir até que dê certo, é o bom humor. Sem
ele a vida não tem graça. É preciso brincar de ser feliz, pelo menos...
Ou seja, veja-se por que
ângulo for, é preciso estar aberto à mudança sempre. Inclusive, para que o que já está dando certo, continue dando.
Ele
nunca vira sua mãe tão feliz. A formatura do irmão mais novo rompia uma
histórica limitação familiar que nunca tivera um membro formado na faculdade.
A cerimônia prometia ser emocionante e ninguém da família deixara de ser
convidado.
Na
chegada ao local, estavam todos compenetrados e um tanto constrangidos com o
requinte ao qual não estavam acostumados. O padrinho alugara um terno mais caro
do que o de seu casamento com a madrinha. Tia Lúcia, a costureira da família,
estava orgulhosa do fruto de seu árduo trabalho nos últimos 6 meses. Valera a
pena, todas as mulheres da família estavam chiquérrimas.
Ele se
sentiu leve e pleno quando viu a família ocupar uma fila inteira no enorme auditório
da faculdade. Fora o excesso de perfumes, estavam todos com a alma e o corpo em
vestes de gala, para testemunharem aquele evento que realizava a todos.
Quando
o irmão mais novo caminhou em sua direção, vestido com a beca dos formandos, teve
vontade de soltar o maior grito e abraço que já dera em alguém na vida.
O
abraço silencioso e só não foi mais longo porque a organização requisitava a presença
dos participantes no palco para dar início a cerimônia de formatura.
Ele se
sentou na poltrona ao lado da mãe e, quando as luzes da sala se apagaram, se
deram as mãos frias, trêmulas e fundidas na mesma emoção.
E viveram, a família inteira junta, um dos momentos mais felizes que viveram.
Todos
gostaríamos de ter nosso próprio anjo, exclusivo, nos protegendo, nos
acompanhando e fazendo nossa guarda dia e noite.
Com
este guia prático você vai ver que isto é possível, basta vencer a barreira do
absurdo. Isso é muito fácil, já que ela não existe mesmo.
Para
começar a procurar seu anjo faça o oposto, identifique seu demônio particular. Esses dias estressantes facilitam bastante essa tarefa, e a toda hora ele se manifesta. Primeiro, perceba
que seu principal antagonista é você mesmo. Somos nossos piores e mais
implacáveis sabotadores e críticos. Se a gente pudesse quebrar a própria cara,
de vez em quando, não seríamos assim.
Por
isso, se não podemos vencê-lo, juntemo-nos a ele, no caso, a nós mesmos. Às vezes, transformamos nossas próprias vidas num verdadeiro inferno, como se estivéssemos com o diabo no corpo, nesses momentos, não vacile, atraque-se com seu capeta e mostre quem manda na porra toda.
A
primeira providência é, numa ocasião propícia, convidar seu crítico para
conversar. Ofereça-lhe um chazinho, todo crítico adora um chazinho. Durante a
conversa, faça-o ver que ele o está se criticando muito severamente e revele a
grande verdade, ele é você. No começo ele pode relutar um pouco, mas depois,
fatalmente terá que concordar. Ou então, se interne logo porque seu caso está
perdido. E, não adianta partir para a agressão, eu garanto que você vai
apanhar.
Passada
esta fase meio insana, vamos para a segunda etapa.
Que é,
ainda, mais insana.
Essa
prática seguinte tem suas vantagens. Você pode praticá-la em casa, sozinho, não
paga dízimo e não tem sermão de ninguém, nem tem que ler nada. E não precisa
ver programa de pastor gritando em canal de televisão.
O
incenso é opcional, não é necessário.
Agora
vamos lá; na sua sala ou quarto, fique o mais relaxado que puder, sente-se no
chão e assuma a posição de Lótus.
Pode
ser também a posição de Ferrari ou McLaren.
Essas
posições importadas geralmente são bastante confortáveis. Mas, tem gente que se
arranja bem até com a posição Fiat Uno. Tem que ter muito mais flexibilidade, é
claro.
Ah,
antes coloque um som instrumental que você goste, porque se deixar para colocar
depois de fazer a posição escolhida, vai dar o dobro do trabalho.
Comece
a pensar em quantos Eus existem em você.
Acesse
as memórias de você quando criança, imagine que está se encontrando com ela,
com a criança cheia de sonhos que você foi, convide ela para brincar, pergunte
o que ela sente, o que ela precisa, o que lhe falta.
Chame
seu autocrítico, também, e apresente-o a ele mesmo. Perceba toda a abrangência de sua própria pluralidade.
Desculpe
seus erros, faça um pacto de amizade consigo. Faça a paz entre todos os seus
Eus.
Grande
parte das pessoas esconde sentimentos de si mesma. Ou seja, nem amigos
confidenciais de si mesmos são.
Essa é
a pior solidão, a ausência de si mesmo.
Temos
que nos aceitar, ficar do nosso lado, isso é fundamental. Mesmo quando não
compreendemos por que fizemos aquela merda colossal! Quanto mais difícil é uma
situação, mais fortemente precisamos contar com nosso próprio apoio. Sem o
acolhimento e a amizade de si mesmo, não há santo, nem anjo, que aguente viver.
Seu
anjo da guarda existe e está esperando por esse encontro, há tanto tempo quanto
você.
Agora,
levante-se e fique bem em frente ao espelho.
Se olhe com toda a atenção, sem
pensar em nada, apenas se olhe, sem pressa, vá se reconhecendo, lentamente, em
cada mínimo detalhe, até se enxergar profundamente, com os olhos de sua própria
alma.
E,
então sorria.
Imediatamente,
você verá o seu anjo lhe sorrindo de volta.
Janeiro de 1985. Verão quente, ano novinho em folha e o
maior festival de Rock de todos os tempos há pouco mais de uma hora de
distância de pular do meu mais improvável sonho para o maior palco que eu já
havia visto na minha frente.
Uma linha especial de ônibus foi criada, exclusivamente,
para levar o público do festival, coletando-o a partir de vários pontos
determinados do Rio de Janeiro.
Eu e uma galera gigante do Leblon, terminamos de lotar um
dos ônibus logo no primeiro ponto. A tensão, a expectativa e a proximidade de
algo tão especial gerava o tipo de ansiedade mais saudável que existe, aquela
que nos faz entender totalmente a expressão "rindo à toa". No ônibus cheio, os sorrisos à mostra eram
tão evidentes, que a impressão é que alguém contou uma hilária e interminável
piada. Qualquer movimento virava motivo para uma gargalhada.
Chegamos ao local do festival ainda dia claro, poucos
minutos antes dos portões serem abertos. Todos os dias o ritual era o mesmo. Os
portões se abriam, passávamos pelas roletas e pela revista da segurança, que só
estava interessada em coibir armas e objetos metálicos.
Cigarros podiam, de todos os tipos.
O pôr do sol foi deslumbrante, com ultraleves voando por
sobre um público jovem e absolutamente extasiado diante da grandiosidade de
tudo em volta. A paisagem, o sol se pondo nas montanhas da cidade maravilhosa e
os primeiros acordes da música tema do festival tocando numa altura e qualidade
de som que o Brasil nunca havia ouvido.
"Todos numa direção, numa só voz, numa canção
Todos num só coração, num céu de estrelas...
Se a vida começasse agora, se o mundo fosse nosso de vez,
Se a gente não parasse mais de sonhar...de cantar....de
viver."
E todos cantavam com a propriedade contagiante e autêntica
dos jovens dos anos 1970 e 80, que viviam numa cidade que desejava Paz e Amor e
acreditava nisso, por mais ingênuo que, hoje, isso possa parecer.
E, foi nesse clima que assisti a um show mágico e
maravilhoso do cantor James Taylor, num sábado ainda sem chuva, num céu
completa e absurdamente estrelado, sentado ao lado de dezenas de amigos que
ouviram aquelas mesmas músicas, comigo, nas festinhas de adolescentes.
Foi um dos shows mais emocionantes que já presenciei.
Aquela noite, houve uma catarse gigante entre o público e
um James Taylor extasiado diante de 250 mil pessoas que cantavam junto suas
músicas. Ele estava vindo de um período de declínio acentuado na carreira, e
naquela noite, aconteceu sua redenção.
O sucesso daquela
apresentação teve uma repercussão tão grande e impressionante que impulsionou
novamente sua carreira, e ele sentiu isso ainda no palco, durante a
apresentação.
E externou essa emoção através da sua arte, presenteando o
público com uma apresentação emocionada, emocionante e perfeita, e muito mais
longa do que o que estava previsto.
Tocou e cantou com o entusiasmo de um iniciante, todos os
seus grandes sucessos, não faltou nenhum.
O que se passou foi
sublime, uma poesia em forma de vida.
Público e artista vivendo, durante mais de duas horas e meia,
a mesma intensidade de emoções que ficaria, para sempre, na história de ambos.
O primeiro Rock in Rio me presenteou, ainda, com um show
inesquecível da banda inglesa QUEEN, onde foi feita a histórica filmagem do
coro de mais de trezentas mil pessoas cantando a música “Love of My Life”,
perpetuando aquele como um dos grandes momentos da carreira da Banda e do
lendário Fred Mercury.
Presenciei ele, e todos os músicos da banda QUEEN, ficarem
em absoluto estado de graça e completamente extasiados com o que estavam
assistindo. A emoção deles era visível.
Eu vi, estava lá e cantei junto.
E, no último dia, assisti, pela primeira vez, a banda que
mais toca a minha alma: a lendária banda inglesa YES.
A emoção mágica que senti vendo aquela apresentação incrível
e deslumbrante, permanece até hoje.
Foi perfeito para fechar o último dia do maior festival de
Rock de Todos os Tempos.
Essa é a minha parte da história de um Festival que ficou
para a história de muitas e muitas gerações e virou uma lenda no mundo inteiro.